Tempo de voltar nossas atenções para outras coisas, que não
a política, em nosso país. Afinal, há tanto mais a tratar, tanta coisa boa a
celebrar. Pois então, vamos focar numa coisa que (quase) todos adoram: plantas tropicais, flores. Nesta série
de postagens, o assunto passa a ser as plantas do Jardim
Fitogeográfico, que abriga nossa coleção de espécies botânicas, em
Itaipava, Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro.
Creio que quase todos conhecem a história do Jardim
Fitogeográfico. Eu o chamava, há algum tempo, de Jardins do Templo Fitogeográfico.
De um tempo para cá, resolvi suprimir o “templo”, por entender que, apesar de
encarar meu jardim daquela mesma forma, como relatei na postagem de 16 de fevereiro de 2012 - (http://orlandograeff.blogspot.com.br/2012/02/as-origens-do-templo-fitogeografico.html), ou
seja, quase como algo divino, até metafísico, não queria misturar as coisas.
Religião é religião, cada um tem a sua, ou não tem. Então, vamos chamar a
coleção de Jardim Fitogeográfico.
As razões para o FITOGEOGRÁFICO
vocês já conhecem, pois referi longamente, naquela postagem: Fitogeografia é a
área da ciência que sintetiza minha linha de estudos, tratando das vegetações
na natureza. Ou seja, as plantas da coleção formam ambientes alusivos às
tipologias de vegetação observadas no país, que eu tanto investigo e que resultaram
no livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL – UMA ATUALIZAÇÃO
DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015), de minha autoria. Sobre esta
obra, você poderá consultar em meu blog EXPEDIÇÕES FITOGEOGRÁFICAS, que é
interligado a este.
Aqui no Jardim Fitogeográfico, as plantas da coleção
interagem entre si e o meio, na forma de ambientes que imitam vegetações
naturais. Tanto nas áreas abertas do Jardim, onde estão as plantas de locais
ensolarados (restingas, campos rupestres etc.), quanto na floresta que foi
recuperada, desde 2007, muita coisa interessante pude aprender com essas
plantas, no tocante a suas ecologias e seus “hábitos” de crescimento e
colonização dos ambientes. No meu livro, chamo isso de “desafio da horticultura”
e isso me ajudou bastante, em minhas reflexões.
Cattleya intermedia em cultivo no Jardim Fitogeográfico
Muito bem, vamos então à primeira planta escolhida para a
série, uma orquídea linda, que ocorre naturalmente (ou ao menos ocorria!),
entre o norte do Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul: Cattleya intermedia. O
grande naturalista Frederico Carlos Hoehne, que foi um dos pilares da
orquidologia brasileira e viajou intensamente pelo Brasil, na primeira metade
do Século XX, lançou importante olhar sobre as populações naturais de Cattleya intermedia, que se espalhavam
em grande parte do litoral do Sudeste e Sul.
Cattleya intermedia crescendo sobre muro de pedra,
no Jardim Fitogeográfico
Cattleya intermedia cresce principalmente de forma epifítica,
ou seja, agarrada aos troncos de grandes árvores, ou formando touceiras quase
suspensas por “ninhos” de raízes, nas arvoretas ramificadas e arredondadas das
restingas litorâneas. Hoehne chamou atenção, em seu célebre livro Iconografia
de Orquidáceas do Brasil, para largas populações desta orquídea, que habitavam
diretamente a superfície dos matacões de rocha granítica, ao longo do litoral
de Santa Catarina, destaque para a Ilha de Santa Catarina, onde está situada a
cidade de Florianópolis. Suas fotos davam conta de imensas rochas roladas, com
o topo recoberto de Cattleya intermedia. Quando floridas, essas plantas atraíam
o olhar cobiçoso dos coletores, que trataram de depenar impiedosamente essas
plantas, para vender a colecionadores, ou comerciantes de plantas.
Excursões pelo litoral catarinense ainda permitem a
descoberta de esplêndidas populações naturais desta orquídea, principalmente
sobre velhas figueiras, algumas protegidas em meio a terrenos alagadiços e
impenetráveis. Poucas são as plantas divisadas sobre rochas e nenhuma população
densa, como aquelas de Hoehne, pode ser mais encontrada.
Cattleya intermedia florescendo em seu habitat natural,
na Lagoa dos Patos - Rio Grande do Sul, seu limite de ocorrência austral
No Jardim Fitogeográfico, Cattleya intermedia é mantida na forma de vasos pendentes, na
estufa de plantas, e também de forma epifítica, modo com que ela mais se dá
bem, por lhe ser possível espichar suas longas raízes, nos troncos e galhos de
árvores situadas em locais protegidos do vento seco de inverno da Região
Serrana.
Parabéns Orlando pelo excelente material postado no blog,e pelo excelente trabalho de realizado no jardim fitogeográfico.
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