Quando fazia jardins, na Década de 1990, era a época de ouro
das bromélias, no paisagismo. Foi um verdadeiro “boom” de plantas trazidas da
natureza, para lotar os jardins com bromélias, as mais variadas, vindas dos
mais diversos locais. O mercado não se importava com a matéria
conservacionista. Bem, talvez isso não tenha mudado muito, embora já se tenha
hoje a plena consciência de que a coleta de plantas, nos ecossistemas,
representa atividade danosa e até virou crime, passível de prisão.
Paralelamente, os horticultores trataram de produzir
esplêndidas cultivares de bromélias, com belas características, que não
encontram rivais na natureza. Essa, na verdade, foi a grande solução para o
grave problema da coleta criminosa de plantas, uma vez que ninguém trocaria
essas plantas bem produzidas e com formas à beira da perfeição, por outras
vindas das matas, com folhas rasgadas, manchadas e cheias de pragas e doenças.
Ainda mais se o preço for competitivo.
Numa postagem anterior, deste blog ( http://orlandograeff.blogspot.com.br/2013/01/e-se-todos-fizessem-isso-coleta-ou.html ),
tratei da complexa questão da coleta criminosa de plantas na natureza e creio
que a questão foi bem definida. Naquela ocasião, citei o fato que, durante
muitos anos, nas minhas expedições pelas florestas e demais ecossistemas
brasileiros, cheguei a coletar plantas, com o estrito objetivo da descoberta
científica e investigação. Nestas oportunidades, cuidava muito para coletar
apenas partes de plantas (fragmentos de propagação vegetativa ou sementes), ou
mesmo seedlings ou indivíduos
redundantes, em populações que poderiam absorver este impacto necessário.
Felizmente, a ciência e o conhecimento sobre a flora
avançaram muito, havendo excelentes listagens de espécies, para quase todos os
ecossistemas, dispensando a necessidade de coletas. Mas, como seria de esperar,
grande parte das plantas que trouxe da natureza ainda vivem na coleção de
plantas do Jardim
Fitogeográfico, tendo até deixado incontáveis descendentes, como é o
caso da vistosa bromélia Neoregelia correia-araujoi, que já
foi muito comum, na região da Costa Verde, litoral sul do estado do Rio de
Janeiro. Essa bromélia era intensamente coletada, nas florestas de Mangaratiba,
Angra dos Reis e Paraty, sendo empurrada às vias da extinção, embora venha se
recuperando muito rapidamente, em função de ser planta bastante prolífica, no
seu habitat natural.
Neoregelia correia-araujoi vive hoje em algumas árvores do
Jardim Fitogeográfico, principalmente no setor da floresta recuperada. Mas,
também se adapta bem aos muros de pedra, onde se imita uma de suas formas
bastante comuns de ocorrência, na região de origem: os topos dos grande
matacões de pedra granítica, quase à beira do mar. Velhos muros de ruínas do
Século XIX, assim como telhados de algumas residências, em Angra dos Reis e
Paraty, também abrigam belos indivíduos da bromélia que chamávamos de “finger-nail-plant”,
no meio jardinocultural, por parecer com unhas pintadas com esmalte vermelho.
Esta bela bromélia, com porte relativamente avantajado, é
uma planta tanque-dependente (guarda água no imbricamento de suas folhas),
cujas flores alvas emergem diretamente do pequeno lago de vida e são
intensamente buscadas por colibris e abelhas brasileiras. Seus pequenos
frutinhos são bagas adocicadas, que os pássaros procuram avidamente, tratando
de espalhar a planta, nas outras árvores. A espécie, aliás, tem cultivo muito
fácil, bastando coletar suas sementes e plantá-las em vasos coletivos. Milhares
de plantas saíram de semeaduras de nossa coleção, nos anos 2000, para abastecer
cultivos comerciais, tendo assim colaborado para evitar a coleta.
bromélia Neoregelia correia-araujoi
Nenhum comentário:
Postar um comentário