Primavera chegando! A estação das flores de 2016 está logo
ali, daqui a poucos dias, mesmo que o Brasil não apresente aquela forte
estacionalidade dos países temperados. Realmente, em termos gerais, dizem que o
Brasil Tropical só mostra duas estações: inverno frio e seco; e verão quente e
chuvoso. Mas, se você gosta de observar a natureza, notará sim diferenças
substanciais entre cada estação do ano, coisa que a gente consegue ver bem, no Jardim Fitogeográfico.
a bromélia Quesnelia arvensis
Sobre o Jardim
Fitogeográfico, creio que a maior parte dos leitores conhece bem sua
história, que mostrei na postagem de de 16 de fevereiro de
2012 - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2012/02/as-origens-do-templo-fitogeografico.html . Esta nossa reserva particular, situada em Petrópolis, estado do
Rio de Janeiro, se divide em dois ambientes naturais e um controlado: são os
ambientes que se referem aos ecossistemas abertos e ensolarados (restingas, campos rupestres etc.); e àqueles florestais,
que ocupam área reflorestada a partir de 2007; além deles, uma estufa de
plantas, onde são mantidas as espécies pouco tolerantes ao clima da
Região Serrana.
Em nossa última postagem, mostramos a orquídea Cattleya intermedia, que é nativa do
compartimento litorâneo do Brasil Sudeste e Sul. Agora, falamos da rústica e
bela bromélia Quesnelia arvensis, que é nativa do Litoral do Sudeste,
principalmente na floresta atlântica de baixada litorânea, adentrando também as
restingas e as matas inundáveis do litoral. No Jardim Fitogeográfico, Quesnelia arvensis se encontra
ambientada na floresta regenerativa (reflorestamento), ocupando seus trechos
menos iluminados, que tolera muito bem e onde floresce continuamente, nesta
época do ano.
Sobre nosso reflorestamento, cabem alguns comentários
ligeiros. Ao chegarmos ao local, onde residimos e mantemos a coleção de
plantas, ainda em 2007, encontramos terreno fortemente inclinado, aos fundos,
onde pouco mais havia que denso capinzal e algumas arvoretas pontuais, aqui e
ali. Antigas pastagens, abertas ainda nos tempos do Brasil Colônia (Séculos
XVIII e XIX), quando por ali passava o Caminho das Minas Gerais, há muito se
encontravam abandonadas, onde se estabeleceu o condomínio residencial, no qual se
encontra o Jardim Fitogeográfico. Desde então, iniciamos o reflorestamento da
área, visando a reconstituição da floresta nativa.
Evidentemente que foram plantadas diversas espécies de
árvores nativas da Floresta Atlântica, além de ter sido iniciado o incentivo ao
crescimento de outras espécies nativas, que habitavam a encosta, em estado de stand-by, em que eram mantidas pelo fogo
endêmico de invernos secos e pela quase total ausência de fertilidade natural,
consumida que fora, há mais de cem anos, para a produção de pastagens, que
davam apoio às tropas de mulas, que passavam por Petrópolis, no caminho das
minas de ouro do interior.
Abaixo - sequência de imagens de parte da floresta do Jardim Fitogeográfico, desde que foi iniciada sua recuperação, em 2007
agosto de 2007
agosto de 2008
novembro de 2008
atualmente - setembro de 2016: ainda sem as folhas, depois do inverno seco e frio
A floresta recuperada do Jardim Fitogeográfica se liga a
outro pequeno fragmento de reservas florestais do condomínio, na qual a flora é
meramente residual, como o era a da área por nós cuidada. A partir da
experiência contínua de cuidados, em nossa área particular, temos também
envidado esforços graduais na revegetação da reserva florestal. Ambas
representam corpo florestal isolado e relativamente distante das florestas da Reserva Particular do Patrimônio Natural Graziela
Maciel Barroso, também pertencente ao nosso condomínio e na qual
habitam espécies ameaçadas da flora, como a minúscula bromélia litofítica Tillandsia grazielae e o famoso
rabo-de-galo (Worsleya procera), uma
amarilidácea restrita à Serra da Maria Comprida.
Não se tratando de floresta primitiva (floresta primária) e
sim de um novo fragmento regenerado artificialmente, essa área pôde abrigar
grande parte das plantas da coleção de plantas do Jardim Fitogeográfico, muito
em especial bromélias, orquídeas, aráceas e outros grupos nativos de florestas
brasileiras, sem o perigo de mistura com os elementos nativos. Contudo, como
sabemos bem que as espécies autóctones se veriam favorecidas pelas condições
ecológicas da própria região de onde eram provenientes, ficamos satisfeitos em
vê-las, desde sua reintrodução, a florescer e frutificar, espalhando-se
novamente pelos ecossistemas próximos, dos quais haviam desaparecido, há coisa
de dois séculos.
Adiante - outra sequência de imagens da floresta regenerada do Jardim Fitogeográfico, sendo possível observar sua evolução para ambiente menos iluminado. Com isso, muitos ambientes se modificaram, como continuarão a se alterar, ocasionando contínua adaptação das plantas da coleção
agosto de 2007
novembro de 2008
Abaixo - atualmente, em setembro de 2016, no final da estação seca e fria, mesmo assim, dando para observar a mudança gradual do mapa de sombras
Assim, nesta época do ano, alegramo-nos ao ver diversas
espécies da Floresta Atlântica florescendo, na floresta recuperada do Jardim
Fitogeográfico – entre elas, a bromélia Quesnelia arvensis, com suas
inflorescências vistosas, que atraem beija-flores diversos. Essa planta abunda
na Região da Costa Verde, entre Mangaratiba e Paraty, Litoral Sul Fluminense. É
uma bromélia de folhas fortemente armadas de espinhos e que apresenta tanque de
água, onde habitam inúmeras formas de vida, formando microcosmo complexo, no
qual animais exóticos, como o famigerado mosquito Aedes aegypti não tem vez.
Quesnelia arvensis
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