sexta-feira, 16 de setembro de 2016

QUESNELIA ARVENSIS – BROMÉLIA DA FLORESTA DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO

Primavera chegando! A estação das flores de 2016 está logo ali, daqui a poucos dias, mesmo que o Brasil não apresente aquela forte estacionalidade dos países temperados. Realmente, em termos gerais, dizem que o Brasil Tropical só mostra duas estações: inverno frio e seco; e verão quente e chuvoso. Mas, se você gosta de observar a natureza, notará sim diferenças substanciais entre cada estação do ano, coisa que a gente consegue ver bem, no Jardim Fitogeográfico.

a bromélia Quesnelia arvensis

Sobre o Jardim Fitogeográfico, creio que a maior parte dos leitores conhece bem sua história, que mostrei na postagem de de 16 de fevereiro de 2012 - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2012/02/as-origens-do-templo-fitogeografico.html . Esta nossa reserva particular, situada em Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, se divide em dois ambientes naturais e um controlado: são os ambientes que se referem aos ecossistemas abertos e ensolarados (restingas, campos rupestres etc.); e àqueles florestais, que ocupam área reflorestada a partir de 2007; além deles, uma estufa de plantas, onde são mantidas as espécies pouco tolerantes ao clima da Região Serrana.

Em nossa última postagem, mostramos a orquídea Cattleya intermedia, que é nativa do compartimento litorâneo do Brasil Sudeste e Sul. Agora, falamos da rústica e bela bromélia Quesnelia arvensis, que é nativa do Litoral do Sudeste, principalmente na floresta atlântica de baixada litorânea, adentrando também as restingas e as matas inundáveis do litoral. No Jardim Fitogeográfico, Quesnelia arvensis se encontra ambientada na floresta regenerativa (reflorestamento), ocupando seus trechos menos iluminados, que tolera muito bem e onde floresce continuamente, nesta época do ano.

Sobre nosso reflorestamento, cabem alguns comentários ligeiros. Ao chegarmos ao local, onde residimos e mantemos a coleção de plantas, ainda em 2007, encontramos terreno fortemente inclinado, aos fundos, onde pouco mais havia que denso capinzal e algumas arvoretas pontuais, aqui e ali. Antigas pastagens, abertas ainda nos tempos do Brasil Colônia (Séculos XVIII e XIX), quando por ali passava o Caminho das Minas Gerais, há muito se encontravam abandonadas, onde se estabeleceu o condomínio residencial, no qual se encontra o Jardim Fitogeográfico. Desde então, iniciamos o reflorestamento da área, visando a reconstituição da floresta nativa.

Evidentemente que foram plantadas diversas espécies de árvores nativas da Floresta Atlântica, além de ter sido iniciado o incentivo ao crescimento de outras espécies nativas, que habitavam a encosta, em estado de stand-by, em que eram mantidas pelo fogo endêmico de invernos secos e pela quase total ausência de fertilidade natural, consumida que fora, há mais de cem anos, para a produção de pastagens, que davam apoio às tropas de mulas, que passavam por Petrópolis, no caminho das minas de ouro do interior.

Abaixo - sequência de imagens de parte da floresta do Jardim Fitogeográfico, desde que foi iniciada sua recuperação, em 2007

agosto de 2007


 agosto de 2008

novembro de 2008

atualmente - setembro de 2016: ainda sem as folhas, depois do inverno seco e frio


A floresta recuperada do Jardim Fitogeográfica se liga a outro pequeno fragmento de reservas florestais do condomínio, na qual a flora é meramente residual, como o era a da área por nós cuidada. A partir da experiência contínua de cuidados, em nossa área particular, temos também envidado esforços graduais na revegetação da reserva florestal. Ambas representam corpo florestal isolado e relativamente distante das florestas da Reserva Particular do Patrimônio Natural Graziela Maciel Barroso, também pertencente ao nosso condomínio e na qual habitam espécies ameaçadas da flora, como a minúscula bromélia litofítica Tillandsia grazielae e o famoso rabo-de-galo (Worsleya procera), uma amarilidácea restrita à Serra da Maria Comprida.

Não se tratando de floresta primitiva (floresta primária) e sim de um novo fragmento regenerado artificialmente, essa área pôde abrigar grande parte das plantas da coleção de plantas do Jardim Fitogeográfico, muito em especial bromélias, orquídeas, aráceas e outros grupos nativos de florestas brasileiras, sem o perigo de mistura com os elementos nativos. Contudo, como sabemos bem que as espécies autóctones se veriam favorecidas pelas condições ecológicas da própria região de onde eram provenientes, ficamos satisfeitos em vê-las, desde sua reintrodução, a florescer e frutificar, espalhando-se novamente pelos ecossistemas próximos, dos quais haviam desaparecido, há coisa de dois séculos.


Adiante - outra sequência de imagens da floresta regenerada do Jardim Fitogeográfico, sendo possível observar sua evolução para ambiente menos iluminado. Com isso, muitos ambientes se modificaram, como continuarão a se alterar, ocasionando contínua adaptação das plantas da coleção

 agosto de 2007

 novembro de 2008

Abaixo - atualmente, em setembro de 2016, no final da estação seca e fria, mesmo assim, dando para observar a mudança gradual do mapa de sombras




Assim, nesta época do ano, alegramo-nos ao ver diversas espécies da Floresta Atlântica florescendo, na floresta recuperada do Jardim Fitogeográfico – entre elas, a bromélia Quesnelia arvensis, com suas inflorescências vistosas, que atraem beija-flores diversos. Essa planta abunda na Região da Costa Verde, entre Mangaratiba e Paraty, Litoral Sul Fluminense. É uma bromélia de folhas fortemente armadas de espinhos e que apresenta tanque de água, onde habitam inúmeras formas de vida, formando microcosmo complexo, no qual animais exóticos, como o famigerado mosquito Aedes aegypti não tem vez.


Quesnelia arvensis

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