domingo, 25 de setembro de 2016

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – AECHMEA TOCANTINA


Inflorescência de Aechmea tocantina

Caminhando pelas florestas ciliares do rio das Mortes, em Mato Grosso, em meio às áreas protegidas da Reserva Natural da Fazenda Ipanema, em Primavera do Leste, você poderá se surpreender com uma medusa espinhenta, elevada a uns dois metros do solo, cujos cabelos não são exatamente serpentes, mas que surgem arrepiados, para todos os lados, sendo até mesmo difícil definir de onde partem, tamanho caos se apresenta. São as inúmeras rosetas foliares da bromélia Aechmea tocantina, que tomam conta do espaço originado por algumas forquilhas de uma arvoreta, espetada sobre uma discreta elevação do solo, em meio ao terreno alagadiço.

Essa bromélia agressiva possui rosetas tubulares e alongadas, com notável divergência entre o tamanho de suas folhas; algumas terminando de forma abrupta; outras se alongando e dobrando pendentes. O conjunto é guarnecido por densa cadeia de espinhos, que lhe valem boa defesa contra os inúmeros herbívoros de porte avantajado, que pastejam ao redor: veados, antas e até mesmo vacas desgarradas. Essas rosetas se dispersam no espaço, cada uma numa direção, emprestando aquele aspecto poético de medusa, de que falamos atrás.

Suas inflorescências são até discretas e pouco emergem do centro dessas longas e agressivas rosetas. Nesta época do ano, são mais comuns, embora surjam ocasionalmente, fora de época, como é hábito fenológico de diversas bromélias do Centro-Oeste. Dividem o ecossistema com pelo menos outras duas importantes bromélias epifíticas do gênero: Aechmea setigera e A. bromeliifolia, que ocupam posições diferentes, nas árvores-suporte.

Aechmea tocantina ocorre também na Floresta Amazônica e noutras formações abertas de Goiás e Tocantins (onde foi coletada a planta-tipo). Na expedição ao Salto Augusto, na divisa entre Mato Grosso e Amazonas, em 1998, encontramos grandes populações de Aechmea tocantina, vegetando diretamente sobre as rochas quentes e ensolaradas da monumental cachoeira, tendo elas adquirido tonalidade vinácea, para se defender daquelas duras condições amazônicas.


No Jardim Fitogeográfico, Aechmea tocantina vive sobre os galhos de um cróton (Croton cf. floribundus – família Euphorbiaceae), árvore de índole decídua, como muitas das hospedeiras naturais desta bromélia.


ilustração do autor, retratando o hábito geral de Aechmea tocantina

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