Inflorescência de Aechmea tocantina
Caminhando pelas florestas ciliares do rio das Mortes, em
Mato Grosso, em meio às áreas protegidas da Reserva Natural da Fazenda Ipanema,
em Primavera do Leste, você poderá se surpreender com uma medusa espinhenta,
elevada a uns dois metros do solo, cujos cabelos não são exatamente serpentes,
mas que surgem arrepiados, para todos os lados, sendo até mesmo difícil definir
de onde partem, tamanho caos se apresenta. São as inúmeras rosetas foliares da
bromélia Aechmea tocantina, que tomam
conta do espaço originado por algumas forquilhas de uma arvoreta, espetada
sobre uma discreta elevação do solo, em meio ao terreno alagadiço.
Essa bromélia agressiva possui rosetas tubulares e
alongadas, com notável divergência entre o tamanho de suas folhas; algumas terminando
de forma abrupta; outras se alongando e dobrando pendentes. O conjunto é
guarnecido por densa cadeia de espinhos, que lhe valem boa defesa contra os
inúmeros herbívoros de porte avantajado, que pastejam ao redor: veados, antas e
até mesmo vacas desgarradas. Essas rosetas se dispersam no espaço, cada uma
numa direção, emprestando aquele aspecto poético de medusa, de que falamos
atrás.
Suas inflorescências são até discretas e pouco emergem do
centro dessas longas e agressivas rosetas. Nesta época do ano, são mais comuns,
embora surjam ocasionalmente, fora de época, como é hábito fenológico de
diversas bromélias do Centro-Oeste. Dividem o ecossistema com pelo menos outras
duas importantes bromélias epifíticas do gênero: Aechmea setigera e A.
bromeliifolia, que ocupam posições diferentes, nas árvores-suporte.
Aechmea tocantina ocorre também na Floresta Amazônica e noutras
formações abertas de Goiás e Tocantins (onde foi coletada a planta-tipo). Na
expedição ao Salto Augusto, na divisa entre Mato Grosso e Amazonas, em 1998,
encontramos grandes populações de Aechmea tocantina, vegetando diretamente
sobre as rochas quentes e ensolaradas da monumental cachoeira, tendo elas
adquirido tonalidade vinácea, para se defender daquelas duras condições
amazônicas.
No Jardim Fitogeográfico, Aechmea tocantina vive sobre os galhos de um cróton (Croton cf. floribundus – família Euphorbiaceae), árvore de índole decídua,
como muitas das hospedeiras naturais desta bromélia.
ilustração do autor, retratando o hábito geral de Aechmea tocantina
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