Alcantarea imperialis
bromélia-imperial
Na mais recente postagem do blog, falei sobre a
conservação das populações naturais de bromélias-imperiais (Alcantarea
imperialis), que agonizam nos paredões rochosos e afloramentos de pedra
da Região Serrana Fluminense, mas também se escondem em Minas Gerais e São
Paulo. Lembrei como os incêndios florestais, que se agravaram na estação seca
de 2014, vêm contribuindo para o desaparecimento desta linda planta, amada
pelos colecionadores, paisagistas e jardinocultores.
Prometi que voltaria ao tema das bromélias-imperiais,
agora falando um pouco de sua biologia, de sua produção na horticultura e das
sérias ameaças representadas por outra frente relacionada ao homem: a coleta criminosa de exemplares, na natureza. Começo ressaltando que o
calor incomum de 2014 proporcionou um belo espetáculo, ainda em curso, que é
contraponto aos incêndios avassaladores, que consumiram milhares dessas
magníficas bromélias, nas encostas serranas. Falo do intenso florescimento de
muitas espécies do gênero Alcantarea,
ao qual pertence nossa bromélia-imperial.
Quem observa os jardins, espalhados pelas cidades,
ou mesmo que presta atenção aos afloramentos rochosos que não foram calcinados,
durante a estação do fogo, constatará um dos mais profusos florescimentos
dessas plantas, nos últimos anos. Como por mágica, as grandes rosetas foliares
das bromélias-imperiais e suas congêneres fizeram emergir verdadeiras árvores
de flores – longas inflorescências, com até mais de dois metros de altura,
bastante vistosas e coloridas.
Esse profuso florescimento de quase todas as Alcantarea spp.
se deve ao prolongado período de forte radiação solar, que foi justamente o
fator potencializador dos nefastos incêndios florestais. Essa foi seguramente a
senha da natureza para que essas plantas produzissem flores, quase todas ao
mesmo tempo.
Muitas plantas do gênero Alcantarea renovam aí seus stands, através de
profusa brotação lateral, maneira pela qual se espalham ainda mais pelo
habitat. Podemos citar: Alcantarea geniculata, das encostas
da Serra do Mar; Alc. glaziouana, que medra nos costões litorâneos do Rio; Alc
odorata, espécie típica da região de Nova Friburgo; enfim, há uma série
de espécies que nos proporcionarão o belo espetáculo de suas inflorescências e
depois retomarão sua rotina biológica, aguardando novas oportunidades. Mas,
infelizmente, não a bromélia-imperial! Ela morrerá, tão logo termine sua fase
reprodutiva, quando deixará o legado de milhares de sementes plumosas, que normalmente
se espalhariam pelo vento, renovando as populações serranas.
Como afirmamos na postagem anterior, essa saudável
diáspora há muito se viu interrompida pelos incêndios, que se espalham com
facilidade, nas montanhas do Sudeste, facilitados pelo capim-gordura: As
plantas adultas, algumas com mais de trinta anos, são consumidas pelo fogo e
impedidas de deixar sementes; Plantas jovens não são mais vistas, na natureza,
por serem carbonizadas junto com o capim-gordura, que cerca todas as populações.
Somando-se a isso, há fator decisivo, para selar o trágico destino da espécie,
no ambiente: A
COLETA CRIMINOSA DE PLANTAS PARA O COMÉRCIO.
A diferença fundamental entre aquela plantinha que
você coleta, durante uma excursão, e as milhares de plantas criminosamente
arrancadas pelos coletores é que você busca um exemplar, que talvez
venha a integrar sua coleção; enquanto os coletores buscam ESTOQUES de plantas,
para suprir mercados. Não estou aqui defendendo que sejam coletadas plantas, na
natureza! Eu mesmo não pratico mais esta atividade, preferindo fotografá-las,
em seu ambiente. Já imaginou se TODOS foram lá e coletarem plantas? Os tempos
mudaram e tudo que fazemos é repetido por milhares de outras pessoas... As pressões
sobre o ambiente são gigantescas!
Mas, os coletores criminosos praticam o EXTRATIVISMO,
que é a retirada de plantas, de forma massiva, para fins de comércio – ISSO É CRIME
GRAVE CONTRA A NATUREZA!
Infelizmente, o belo espetáculo a que assistimos, nos
jardins de bromélias, representa o inevitável ponto de partida para novo e
perigoso surto de coleta criminosa de bromélias-imperiais na natureza. Já há
muita gente produzindo Alcantarea imperialis, com excelente
qualidade. Mas, elas ainda são caras, por ocuparem muito espaço nos hortos e
por demorarem muitos anos até se transformarem em plantas comercialmente
interessantes. A DOR DE CABEÇA PARA A CONSERVAÇÃO AMBIENTAL COMEÇA AGORA:
Deslumbrados pelas lindas plantas floridas, os leigos querem adquiri-las, para ter
em casa... É a reação natural, numa sociedade de consumo como a nossa!
Logo, logo, a pressão de demanda vai provocar nova
corrida aos ambientes naturais, já combalidos, em busca de plantas adultas, com
belas cores, grandes... E DE GRAÇA! Assim pensam os coletores extrativistas: O supermercado
da natureza é inesgotável, basta ir lá e catar... a natureza repõe! Bem, já
vimos que isso não é assim e aqui estamos nós, deixando nossa previsão fácil – AS BROMÉLIAS-IMPERIAIS CAMINHAM PARA A INEVITÁVEL
EXTINÇÃO, NA NATUREZA!
INEVITÁVEL?
Inflorescências de Alcantarea glaziouana do Rio de Janeiro
Felizmente, essa linda espécie se multiplica lateralmente, renovando suas populações, ao contrário de Alc. imperialis
Alcantarea glaziouana da região de Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro
Essa espécie se destaca mais pela folhagem quase prateada - também se multiplica facilmente, por brotações laterais
A bromélia Alcantarea vinicolor é do estado do Espírito Santo
Iniciando seu florescimento - Seu cultivo é um pouco mais trabalhoso e as plantas apresentam atraente coloração vinácea - já são encontradas em cultivo
Curioso contraste entre Alcantarea glaziouana, em primeiro plano, e Alc. brasiliana, uma parente próxima de Alc. imperialis, que também partilha sua característica de morrer, após o florescimento
Várias espécies de Alcantarea florescendo simultaneamente, nos Jardins do Templo Fitogeográfico