O plantio direto na palha já é hoje um
conjunto de técnicas que se consagrou na agricultura do país, sendo responsável
pela nossa incomparável capacidade produtiva, que virou bandeira mundo afora. Você
encontrará extensa e completa literatura técnica a respeito do assunto, por
todos os cantos, não sendo aqui nossa intenção tratar do plantio direto de
forma complicada e hermética. Apenas lançamos mão de uma publicação neste blog,
com o objetivo de esclarecer um pouco o que tem a ver esse assunto agronômico
com a conservação da natureza, em especial, com nosso protocolo de manejo da Reserva Natural da Fazenda Ipanema, no
cerrado mato-grossense.
Assim, a partir de um passeio de bicicleta,
durante o qual realizamos a vistoria das interfaces de áreas de vegetação
nativa protegida, na Reserva Natural da
Fazenda Ipanema, capturamos algumas imagens e as trouxemos ao blog, para
mostrar exatamente no que consiste o ganho ambiental do plantio direto na
palha. Devemos ressaltar que, desde o início dos anos 1980, quando este autor
iniciou sua vivência agronômica no estado do Mato Grosso, envidou todos os
esforços possíveis para divulgar e defender o sistema do plantio direto na
palha, que somente passou a ser definitivamente trazido ao cerrado do meio ao final
da década de 1990. Reivindicamos a nós, portanto, uma ínfima parte ao menos dos
créditos de pioneirismo no avanço do PD no Centro-Oeste.
Apenas para esclarecer no que consiste o
plantio direto na palha (assim como o cultivo mínimo, que é seu nível
intermediário de aplicação), explica-se: plantio direto
na palha é um conjunto de procedimentos, a partir do qual o solo não é
revolvido, ou o é raramente, na tarefa de plantar e colher lavouras.
O objetivo fundamental do PD é a conservação das propriedades físico-químicas
do solo, sendo sua meta principal o acúmulo gradual de palha sobre o solo e de
matéria orgânica dentro dele. Objetivo assessório, embora extremamente importante
para os resultados finais, é o incremento da complexidade ecológica do
ecossistema agrícola (agroecossistema). Essa complexidade se traduz no aumento
da diversidade de organismos vivos que habitam a lavoura, ao longo de seu
ciclo, desde insetos, aranhas e aves, até grande mamíferos, que passam a circular
mais pela área.
Esse agroecossistema extremamente dinâmico
de uma lavoura conduzida sob sistema de plantio direto na palha resulta na
invariável diminuição de defensivos agrícolas aplicados – venenos – o que, por
si só, já representa vantagem para o agricultor, que conta com culturas bem
mais resilientes que aquelas outrora pobres em seres vivos. A diminuição da erosão dos solos é outra imensa
vantagem do PD. Mas, também para as áreas protegidas de vegetação ao
redor existem vantagens imensas. Aquelas lavouras áridas e poeirentas dos anos
1970, que representavam ruptura abrupta das relações ecológicas entre
fragmentos de cerrados e matas, deram espaço a movimentadas “pradarias”, que
atraem aves, répteis e mamíferos para suas atividades diárias. Ou seja, essas lavouras sob o PD se tornaram como
que fisionomias similares àquelas campestres, cujo efeito atrativo para a fauna
é inconteste para qualquer cientista que estude os ecossistemas naturais do
Brasil.
Apenas para resumir toda essa história, uma
vez que já havíamos prometido não nos estender no assunto, a presença de nossas
áreas de vegetação nativa protegida da Reserva Natural da Fazenda Ipanema
emprestam seus bichos às lavouras conduzidas de entremeio a cerrados e
florestas; enquanto estas, por seu turno, propiciam sustentação inequívoca para
essa mesma bicharada que, não fosse assim, teria suas populações
inevitavelmente reduzidas, pelo efeito de borda das lavouras estéreis do Século
passado. Ganha a natureza, com a sustentação de sua fauna e flora; ganha também
a agricultura, que recebe os imensos benefícios dessa complexidade ecológica,
diminuindo seus custos e aumentando sua produtividade.
Confira nas imagens que obtivemos hoje um
pouco do que afirmamos acima:
A
seguir – Observe o aspecto interno de um stand de soja conduzido no sistema de
plantio direto na palha. Sobre o solo, jaz espessa camada de folhas e restos de
lavouras anteriores, que forma um manto protetor, reduzindo erosão e servindo
de abrigo e alimentação para uma infinidade de seres vivos.
Acima e abaixo – veja uma lavoura de soja, próxima da hora da colheita, na qual o solo se
encontra repleto de palha. Essa palha não será retirada e, logo após a
colheita, nova lavoura (milho) será plantada diretamente sobre ela, produzindo
gradualmente ganho de matéria orgânica enriquecedora
A
seguir – O autor, em seus trajes de ciclista, examina a camada de matéria
orgânica depositada sobre o solo, nessa mesma lavoura, mostrando a espessura
razoável da manta protetora
Acima
– Aspecto da paisagem da interface entre uma área de cerrado/cerradão protegida
da Reserva Natural da Fazenda Ipanema e um stand de soja que inicia sua
maturação e se mostra muito produtivo.
Veja
o vídeo que exibe um panorama desse convívio entre lavouras de plantio direto
na palha e fragmentos conservados de vegetação da Reserva Natural da Fazenda
Ipanema, passando pelas pegadas recentes do lobo-guará, um dos mais assíduos
frequentadores do local, que atrai inclusive onças-pardas