quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

PLANTIO DIRETO E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA


O plantio direto na palha já é hoje um conjunto de técnicas que se consagrou na agricultura do país, sendo responsável pela nossa incomparável capacidade produtiva, que virou bandeira mundo afora. Você encontrará extensa e completa literatura técnica a respeito do assunto, por todos os cantos, não sendo aqui nossa intenção tratar do plantio direto de forma complicada e hermética. Apenas lançamos mão de uma publicação neste blog, com o objetivo de esclarecer um pouco o que tem a ver esse assunto agronômico com a conservação da natureza, em especial, com nosso protocolo de manejo da Reserva Natural da Fazenda Ipanema, no cerrado mato-grossense.

Assim, a partir de um passeio de bicicleta, durante o qual realizamos a vistoria das interfaces de áreas de vegetação nativa protegida, na Reserva Natural da Fazenda Ipanema, capturamos algumas imagens e as trouxemos ao blog, para mostrar exatamente no que consiste o ganho ambiental do plantio direto na palha. Devemos ressaltar que, desde o início dos anos 1980, quando este autor iniciou sua vivência agronômica no estado do Mato Grosso, envidou todos os esforços possíveis para divulgar e defender o sistema do plantio direto na palha, que somente passou a ser definitivamente trazido ao cerrado do meio ao final da década de 1990. Reivindicamos a nós, portanto, uma ínfima parte ao menos dos créditos de pioneirismo no avanço do PD no Centro-Oeste.

Apenas para esclarecer no que consiste o plantio direto na palha (assim como o cultivo mínimo, que é seu nível intermediário de aplicação), explica-se: plantio direto na palha é um conjunto de procedimentos, a partir do qual o solo não é revolvido, ou o é raramente, na tarefa de plantar e colher lavouras. O objetivo fundamental do PD é a conservação das propriedades físico-químicas do solo, sendo sua meta principal o acúmulo gradual de palha sobre o solo e de matéria orgânica dentro dele. Objetivo assessório, embora extremamente importante para os resultados finais, é o incremento da complexidade ecológica do ecossistema agrícola (agroecossistema). Essa complexidade se traduz no aumento da diversidade de organismos vivos que habitam a lavoura, ao longo de seu ciclo, desde insetos, aranhas e aves, até grande mamíferos, que passam a circular mais pela área.

Esse agroecossistema extremamente dinâmico de uma lavoura conduzida sob sistema de plantio direto na palha resulta na invariável diminuição de defensivos agrícolas aplicados – venenos – o que, por si só, já representa vantagem para o agricultor, que conta com culturas bem mais resilientes que aquelas outrora pobres em seres vivos. A diminuição da erosão dos solos é outra imensa vantagem do PD. Mas, também para as áreas protegidas de vegetação ao redor existem vantagens imensas. Aquelas lavouras áridas e poeirentas dos anos 1970, que representavam ruptura abrupta das relações ecológicas entre fragmentos de cerrados e matas, deram espaço a movimentadas “pradarias”, que atraem aves, répteis e mamíferos para suas atividades diárias. Ou seja, essas lavouras sob o PD se tornaram como que fisionomias similares àquelas campestres, cujo efeito atrativo para a fauna é inconteste para qualquer cientista que estude os ecossistemas naturais do Brasil.

Apenas para resumir toda essa história, uma vez que já havíamos prometido não nos estender no assunto, a presença de nossas áreas de vegetação nativa protegida da Reserva Natural da Fazenda Ipanema emprestam seus bichos às lavouras conduzidas de entremeio a cerrados e florestas; enquanto estas, por seu turno, propiciam sustentação inequívoca para essa mesma bicharada que, não fosse assim, teria suas populações inevitavelmente reduzidas, pelo efeito de borda das lavouras estéreis do Século passado. Ganha a natureza, com a sustentação de sua fauna e flora; ganha também a agricultura, que recebe os imensos benefícios dessa complexidade ecológica, diminuindo seus custos e aumentando sua produtividade.

Confira nas imagens que obtivemos hoje um pouco do que afirmamos acima:


A seguir – Observe o aspecto interno de um stand de soja conduzido no sistema de plantio direto na palha. Sobre o solo, jaz espessa camada de folhas e restos de lavouras anteriores, que forma um manto protetor, reduzindo erosão e servindo de abrigo e alimentação para uma infinidade de seres vivos.







Acima e abaixo – veja uma lavoura de soja, próxima da hora da colheita, na qual o solo se encontra repleto de palha. Essa palha não será retirada e, logo após a colheita, nova lavoura (milho) será plantada diretamente sobre ela, produzindo gradualmente ganho de matéria orgânica enriquecedora





A seguir – O autor, em seus trajes de ciclista, examina a camada de matéria orgânica depositada sobre o solo, nessa mesma lavoura, mostrando a espessura razoável da manta protetora






Acima – Aspecto da paisagem da interface entre uma área de cerrado/cerradão protegida da Reserva Natural da Fazenda Ipanema e um stand de soja que inicia sua maturação e se mostra muito produtivo.
Veja o vídeo que exibe um panorama desse convívio entre lavouras de plantio direto na palha e fragmentos conservados de vegetação da Reserva Natural da Fazenda Ipanema, passando pelas pegadas recentes do lobo-guará, um dos mais assíduos frequentadores do local, que atrai inclusive onças-pardas