Acima – labareda de mais de 60m, no
incêndio florestal ocorrido na
RPPN
Graziela Maciel Barroso – Condomínio Quinta do Lago – em 08 de setembro de 2008.
Compare o
tamanho da residência, situada abaixo das chamas
Se você já leu o capítulo de nosso livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL (NAU Editora –
2015), em que tratamos do fogo nas vegetações, já deve estar mais do que por
dentro deste assunto: O FOGO NA NATUREZA. Já deve saber que os incêndios
florestais, no nosso país, salvo EXCEÇÕES, advêm das mãos humanas. Ou seja,
toda a destruição que você verá, quando o fogo se alastra pelas matas e
montanhas, aniquilando a fauna, a flora, solapando a fertilidade natural de
nossos solos e, ainda por cima, em muitos casos, trazendo prejuízos materiais e
fazendo vítimas, começa pela mão de um ser (des)humano.
Antes que alguém desvie o assunto, para se dedicar à inócua
discussão sobre possíveis origens naturais dos incêndios florestais,
atribuindo-os a pedaços de vidro, “combustão espontânea” ou mesmo raios, aqui
no Brasil, deixemos uma coisa bastante clara: embora os dois primeiros sejam
pura balela e os raios possam sim deflagrar incêndios na vegetação, isso
representa EXCEÇÃO e, ao menos em nossa região de Floresta Atlântica, toma
parte tão somente em dinâmicas de fragmentos, jamais chegando a ocasionar a escala
de destruição verificada nos incêndios florestais da Cadeia Atlântica.
Tendo isso em mente, passemos a tratar deste assunto sério,
que são os incêndios florestais, principalmente nas regiões da Serra do Mar, ou
de forma mais ampla, na chamada Cadeia Atlântica, que é o imenso conjunto de
serras montanhosas, que separa o Brasil Continental do Oceano Atlântico. Nossa
intenção, através desta postagem, é mostrar os principais aspectos da
propagação de incêndios florestais, nas montanhas, deixando para um próximo
capítulo o conjunto de sugestões fundamentais para prevenção desta força
destruidora, que é seguramente o principal agente destruidor de nossa
biodiversidade.
Abaixo – O livro FITOGEOGRAFIA DO
BRASIL, de autoria de Orlando Graeff (2015),
onde o
assunto FOGO é minuciosamente tratado
Acima – O autor consultando o capítulo
sobre o FOGO, em seu livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL
CONDIÇÕES PARA
INCÊNDIOS: A época mais frequente de ocorrência de incêndios florestais é
no INVERNO SECO E FRIO típico do
clima tropical, desta região do país. Isso costuma acontecer, geralmente, entre
maio e setembro, quando a vegetação está seca e favorece a propagação do fogo.
Em nosso livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL,
explicamos que a condição ideal para a propagação do fogo florestal é a elevada relação carbono X nitrogênio da
biomassa. Isso significa dizer que, quanto mais tarde ocorrer o fogo, maior
será sua agressividade e sua capacidade destruidora, pois as plantas concentram
maior quantidade de carbono, em seus tecidos, para resistir ao frio seco. Como
se sabe, carbono é o principal combustível para o fogo. OS PIORES INCÊNDIOS OCORREM EM SETEMBRO,
época em que convergem maiores temperaturas do ar; maior relação carbono X
nitrogênio; e ventos fortes.
COMO SE INICIA: O
fogo pode se iniciar no alto das montanhas, quando balões criminosos caem,
ateando fogo à vegetação esparsa e geralmente campestre dos topos de morro.
Porém, na maioria esmagadora dos casos, se inicia na BASE DOS MORROS, durante
queima de lixo, ou simplesmente ateado por incendiários. Acredite ou não, a PIROMANIA (mania doentia de atear fogo) é muito
comum e representa causa importante da deflagração de incêndios.
COMO SE PROPAGA:
Nas ilustrações do texto, vemos uma representação esquemática da força que faz
propagar o fogo, morro acima, na Região Serrana Fluminense. Em resumo, devemos
ter em mente que o ar quente, gerado pelas chamas iniciais, retroalimenta o
incêndio, quando faz surgir uma camada hiperaquecida de ar, junto ao solo,
ocasionando sua ascensão rápida, morro acima. Esse VENTO DE AR QUENTE se
assemelha às correntes ascendentes, que sobem as encostas, nas horas mais
quentes do dia, ajudando praticantes de voo livre a subir, com suas asas-delta.
O sopro cada vez mais rápido do ar quente desliza pela superfície da encosta,
ganhando cada vez mais velocidade, na medida em que o fogo é oxigenado pelo ar,
que vem pela retaguarda, puxado pelo próprio ar quente, que sobe acima.
A SEGUIR – Desenhos esquemáticos, que mostram a propagação de um
incêndio florestal, numa região montanhosa da Região Serrana do Rio de Janeiro
Acima – O fogo se alastra nas encostas da RPPN Graziela Maciel
Barroso, em Petrópolis, com as chamas se retroalimentando, rampa acima, pelo
deslocamento do ar aquecido
Acima – Num nariz de encosta, as chamas assumem uma linha de avanço
em V invertido, no qual a parte do vértice tem mais força, pela convergência
dos “ventos de ar quente”
Acima – Encosta da RPPN
Graziela Maciel Barroso, durante o incêndio de setembro de 2008, sendo
possível notar a direção dos “ventos quentes” originados no fogo: seguem para
sotavento da montanha, num sentido pouco usual, na localidade
Acima – Vertente completamente tomada pelas chamas, na RPPN Graziela Maciel Barroso, em
setembro de 2008: essa floresta de encosta foi completamente destruída e não
existe mais
Abaixo – O helicóptero do Corpo de Bombeiros combate o fogo de
setembro de 2008, na RPPN Graziela Maciel Barroso, permitindo a dura comparação
com a porte do incêndio, praticamente incontrolável
Acima – No entardecer do dia 08 de setembro de 2008, moradora de
casa situada na frente de propagação das chamas tenta combater uma frente de
labaredas, que ascendia a encosta e viria a atravessar o aceiro, por conta dos
ventos de ar quente. Note que a onda de calor é visível pela luz avermelhada,
que reflete na floresta
É por essa razão que, durante incêndios florestais, na
Região Serrana, você verá aquele vento forte, que parece surgir do nada, como
se a natureza o tivesse mandado, exatamente para piorar as condições. Nas áreas
planas do Centro-Oeste, plantações e pastagens são aniquiladas por vórtices de
vento aquecido, em meio às chamas, que sobrem como tornados de fogo e lançam
longe a palha incandescente, que vai atear mais focos, alhures. Aqui, em nossas
montanhas íngremes, as encostas funcionam como “chaminés gigantes”, que
canalizam esse ar quente e produzem LABAREDAS INCONTROLÁVEIS EM ALTA ENCOSTA. Quem
já combateu incêndios florestais, em Petrópolis ou Região Serrana, sabe bem
como se torna impraticável e extremamente arriscado fazer frente a essas
chamas, que destruirão tudo à sua frente, até que terminem por queimar tudo.
Numa próxima postagem, falaremos mais um pouco sobre como se
pode prevenir, ou minimizar o avanço das chamas, que destroem de forma endêmica
nossa vegetação, causando erosão de solos, extinção da flora e da fauna e,
ainda por cima, ocasionando prejuízos materiais, ou até vítimas. Desta presente
postagem, deve restar a certeza das causas associadas ao homem e de como se
propagam as chamas, em nossa região.
Abaixo - incêndio ocorrido novamente, na RPPN Graziela Maciel Barroso, em 07 de setembro de 2016
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