segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

OBSERVANDO AVES NO JARDIM FITOGEOGRÁFICO


Colibri (Chlorostibon lucidus) forrageando nas flores da bromélia Dyckia alba, do Rio Grande do Sul, na coleção de plantas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO

Na última postagem do blog (link - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2016/12/observando-aves-para-conservar-natureza.html ), relatei sobre a RPPN Graziela Maciel Barroso, contando um pouco de sua história e de como a OBSERVAÇÃO DE AVES vem prometendo resgatar as possibilidades de uso público da unidade. Nesta publicação, resolvi contar um pouco sobre a relação das plantas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO com as aves. Aliás, há muito mais no projeto destes jardins do que simplesmente a flora, no que concerne às aves: muitos elementos paisagísticos foram concebidos para atraí-las.

Sobre o JARDIM FITOGEOGRÁFICO, muito já se falou, aqui no blog. Numa antiga postagem (link -  http://orlandograeff.blogspot.com.br/2012/02/as-origens-do-templo-fitogeografico.html), contei sobre a origem do Jardim Fitogeográfico, que chamava, então, de TEMPLO FITOGEOGRÁFICO. O nome, decidi muda-lo, para afastar um pouco minha ciência da metafísica, embora as tenha meio próximas, em meu íntimo. Mas, como sou antes um cientista, nada mais apropriado que me manter na seara naturalista – JARDIM FITOGEOGRÁFICO acabou sendo o nome do projeto, desde então.


Acima – imagem-satélite da área do Jardim Fitogeográfico, em 2007, antes de ser iniciado o projeto
Abaixo – outra imagem do mesmo local, em 2015, já com as florestas em estágio avançado de recuperação



Acima – Outrora área aberta, a floresta do Jardim Fitogeográfico contrasta com terrenos lindeiros, nos quais os gramados dominam

Com a recente visita da equipe técnica do CONSÓRCIO PASSARINHO, à RPPN Graziela Maciel Barroso, fui também brindado por uma esticada do grupo, até aqui, no JARDIM FITOGEOGRÁFICO. Tive oportunidade de mostrar um pouquinho do que venho realizando por aqui, desde 2009: os ambientes que simulam vegetações campestres ou rochosas, onde são mantidas as espécies mais afeitas à luz solar direta; a estufa de plantas, onde mantenho as plantas mais sensíveis e intolerantes especialmente ao frio (que ocorre aqui em Petrópolis); e, por fim, a floresta recuperada (ver link - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2016/10/a-floresta-recuperada-do-jardim.html), onde a vegetação de floresta semidecidual se regenera e que abriga grande variedade de plantas epifíticas (aquelas que vivem agarradas aos galhos e troncos).

O CONSÓRCIO PASSARINHO é responsável pela atualização dos Planos de Manejo das RPPNs contempladas pelo programa de fortalecimento, financiado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Sua equipe conta com Biólogos das áreas botânicas e ornitológicas (dedicadas às aves). Sua visita, na qual avistamos diversas aves, serviu para catalisar meu interesse pelas aves que aqui frequentam, às quais dedicava não muito mais que minha curiosidade ocasional. Bem, sendo tão comum o encontro com essas joias voadoras, no JARDIM FITOGEOGRÁFICO, pensei, nada melhor que realizar um ligeiro inventário de tudo que já vi pousar por aqui, nos últimos tempos.

Abaixo – a visita do pessoal do CONSÓRCIO PASSARINHO ao Jardim Fitogeográfico, em dezembro de 2016



Mas, essa coisa do Birdwatching é mesmo um vício e agora compreendo porque tanta gente se dedica a isso, adquirindo equipamentos especializados e gastando tanto tempo nas florestas e campos, esperando para encontrar pássaros e outras aves, que abundam no Brasil. Temos tudo para brindar os aficionados com avistamentos, seja em áreas silvestres, ou até urbanas. Minha amiga Inêz Raguenet, que reside em Curitiba, numa área bastante central, tem conseguido esplêndidos resultados, numa área aos fundos de sua residência, de onde despacha fotos e vídeos das aves que lhe visitam a casa. Aqui, no JARDIM FITOGEOGRÁFICO, minha catalogação preliminar apontou nada menos que SESSENTA E TRÊS ESPÉCIES, sem contar algumas outras que foram expurgadas da lista (como os urubus e andorinhas), além de muitas que ainda não consegui identificar.

Quando elaborei o projeto paisagístico da residência, que abriga o JARDIM FITOGEOGRÁFICO (ou vice-versa!), inseri diversas espécies de árvores e plantas, na ambientação, que eram atrativas de aves. A coleção de bromélias e orquídeas, por si somente, já é especialmente relacionável aos pássaros, que lhes visitam para polinizar e comer frutos (dos quais carregam as preciosas sementes). Mas, não deixei de inserir elementos físicos dedicados às aves: a Fonte da Musa, por exemplo, foi criteriosamente planejada para receber as aves, para seus necessários banhos, quando fazem sua higiene e refazem sua proteção oleosa das penas. Com um espelho d’água suspenso, com 5cm de profundidade, a Fonte da Musa permite o banho seguro de todos os pássaros, embora muitos prefiram se lavar na bacia que a musa segura, sobre seu ventre desnudo e de onde verte água, dia e noite.



Acima – desenho que originou o lago da Fonte da Musa
Abaixo – aspecto da Fonte da Musa, inserida no cenário local



Acima – canário-da-terra se banha na Fonte da Musa

A Seguir – “praia” congestionada, nos horários de grande movimento




Já tivemos ocasião, na qual DEZ ESPÉCIES de pássaros aguardavam a vez, para se banhar na Fonte da Musa (fora o número de aves, dentro de cada espécie!). Há outros lagos, além da floresta, que hoje atrai espécies silvestres, que não se arriscam fora dela. O CONSÓRCIO PASSARINHO e seus integrantes conseguiram aliciar mais um observador de aves, pois parece mesmo ser caminho sem volta. A RPPN Graziela Maciel Barroso conta com florestas de altitude, muito bem conservadas, onde torço muito para que seja implantado sistema de trilhas e refúgios apropriado. Mas, percebi uma coisa a mais, que se promete bastante importante, para a conservação da natureza, no local: o desesnvolvimento de outros “jardins fitogeográficos”, ou projetos similares, em residências e terrenos ociosos, servirá para incrementar imensamente a avifauna de Petrópolis, integrando-se ao manejo da RPPN.

A Seguir – ninho com ovos, no JARDIM FITOGEOGRÁFICO



Acima – filhotes do colibri besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostibon lucidus), no Jardim Fitogeográfico

Sonho ambicioso? Não creio. Pelo que aprendi, depois da visita do CONSÓRCIO PASSARINHO, não há caminho mais producente para reaproximar os homens da natureza, que observando suas aves tão variadas, belas e canoras! Viva o Birdwatching! Viva a RPPN Graziela Maciel Barroso! Viva o JARDIM FITOGEOGRÁFICO!

A Seguir – flagrantes da bela e já rara águia-cinzenta (Urubitinga coronata) realizando sobrevoo do JARDIM FITOGEOGRÁFICO. Essa ave ameaçada já deu ares de sua graça em ao menos duas ocasiões



 A Seguir – canário-da-terra (Sicalis flaveola) são numerosos, na área do Jardim Fitogeográfico, chegando seus bandos a mais de 25 indivíduos, com variadas formas, associadas à idade e sexo






 joão-de-barro

Acima – o joão-de-barro (Furnarius rufus)é o pássaro mais respeitado, no Jardim Fitogeográfico, a despeito de seu porte: quando se zanga, põe todos os demais a voar para longe

Acima – sabiá-do-campo (Mimus saturninus) forrageando num camboatá (Cupania vernalis), na floresta recuperada


Acima – desenho da cambacica (Coereba flaveola), comum em nossos jardins, que compete lateralmente com os colibris, pelo néctar e insetos das flores



Acima – os arapaçus (família Dendrocolaptidae) são difíceis de identificar corretamente, embora diversos deles frequentem a floresta recuperada, em busca de insetos, nas cascas das árvores



A Seguir – os chopins (Gnorimopsar chopi) chegam aos bandos, entre a primavera e o verão, deliciando-nos com seu canto melodioso e suas peripécias, no Jardim Fitogeográfico




Acima – jacu (Penelope obscura) devorando frutinhos de camboatá, na floresta recuperada

Abaixo – maracanã (Primolius maracana), também a procura de camboatás



Acima – sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), sobre a Musa, após o banho

Acima - sabiá-poca (Turdus amaurochalinus) sobre Vitex magapotamica, na floresta recuperada

Abaixo - vista do setor de vegetações abertas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, com as montanhas da RPPN Graziela Maciel Barroso ao fundo