Acima - Neoregelia cruenta forma “variegata”,
presenteada por Pedro Nahoum, nos
anos 2000
Outra planta que ficou celebrizada, no boom das bromélias, nos anos 1990, foi Neoregelia cruenta.
Bromélia extremamente rústica, em seu ambiente natural – restingas arenosas do
Rio de Janeiro – Neoregelia cruenta
foi coletada praticamente até sua total extinção, na costa fluminense. Dois
fatores estimularam essa medonha pressão, que parece ter vitimado a planta,
mais do que muitas outras do mercado paisagístico: o primeiro deles o fato de
serem nativas exclusivamente do substrato arenoso, nas bordas das vegetações de
restingas, sendo raríssimo encontrá-las de forma epifítica (crescendo nas
árvores); o segundo fator, mais decisivo, foi a erradicação dessas restingas
arenosas, para urbanização do litoral fluminense.
Nesses habitats, onde ocorriam diversas formas (cultivares)
de excepcional beleza, Neoregelia cruenta funcionava como
espécie colonizadora da faixa de areia pura, ao redor das manchas de vegetação
mais densa: ela crescia, em sol pleno, conquistando o areal quente, deixando o
solo “melhorado” para as demais plantas nativas, como clúsias, mirtáceas e uma
infinidade de outras espécies, que não aguentavam nascer na areia pura e se
beneficiavam da umidade e matéria orgânica deixada pelas bromélias.
Acima – clusiáceas nascem nas bainhas de Neoregelia cruenta “variegata”,
no JARDIM FITOGEOGRÁFICO,
mostrando o processo que ocorre na natureza das restingas arenosas do litoral.
Esses “seedlings” (sementeiras) se
desenvolvem e viram arvoretas, que modificam a vegetação.
Assim, coletar Neoregelia
cruenta, uma bela planta escultural, de extrema rusticidade, para levá-la
para os jardins das casas e prédios, tornava-se tarefa extremamente fácil,
prescindindo de subidas em árvores e outros esforços maiores. Os caminhões
paravam, ao lado das populações naturais, e se arrancavam quantas plantas
fossem necessárias para uma obra jardinocultural, ou mesmo para abastecimento de
estoques comerciais. Sobre este assunto, leia a postagem - E SE TODOS FIZESSEM ISSO
Paralelamente, os loteamentos residenciais avançavam,
principalmente na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, onde estavam algumas das
mais significativas populações de Neoregelia
cruenta. Combinava-se, então, a sanha colonizadora da Zona Oeste da Cidade
Maravilhosa, com a demanda comercial por bromélias e outras plantas nativas das
restingas. O resultado não poderia ser outro e, após a Década de 1990,
praticamente nada restara das restingas e, claro, de suas bromélias.
O golpe fatal sobre as espécies nativas de bromélias do Rio
de Janeiro sobreveio na primeira metade da Década de 2000, quando se associou,
equivocadamente, a severa epidemia de dengue, que se abateu sobre a região, à
possibilidade de que elas pudessem servir de criadouro para o Aedes aegypti, mosquito importado transmissor
da moléstia. Por mais que tivéssemos comprovado que as bromélias não
representavam criadouro preferencial do mosquito (ver
postagem - BROMÉLIAS E DENGUE ), através das ações esclarecedoras movidas pela Sociedade
Brasileira de Bromélias-SBBr, prevaleceu a quase total erradicação
das plantas, nos jardins públicos e privados, o que as levou, definitivamente,
ao limiar do desaparecimento.
A dengue acabou se tornando endêmica da cidade, mostrando
que os criadouros estavam em outras partes, que não foram alvo prioritário e
quase não são vistas as belas Neoregelia
cruenta, na Cidade Maravilhosa. Em cultivo, nas mãos de colecionadores
conscientes, preservaram-se belos clones desta bromélia, sendo que, na coleção
do JARDIM FITOGEOGRÁFICO,
há pelo menos quatro belas formas em cultivo, em ajardinamentos que simulam
condições outrora existentes nas restingas, juntamente com outras plantas
relacionadas.
No norte do estado, existe um Parque Nacional (Restinga de
Jurubatiba), onde subsistem algumas populações notáveis, assim como
naquilo que ainda resiste ao avanço do homem, na Restinga de Massambaba,
entre Saquarema e Arraial do Cabo, na Região dos Lagos.
Acima – Neoregelia cruenta forma “rubra”, no JARDIM FITOGEOGRÁFICO
Abaixo – bela forma de Neoregelia cruenta, com
variegação e tonalidade amarelada, com pontas vermelhas e frentes maduras
vináceas (centro), vegetando junto à pequena e prolífica Neoregelia paratiensis (frente-direita),
no JARDIM FITOGEOGRÁFICO
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