orquídea Bifrenaria harrisoniae no JARDIM FITOGEOGRÁFICO
Uma das primeiras orquídeas com a qual travei contato, em
minha vida de naturalista, certamente foi Bifrenaria harrisoniae. E,
seguramente, isso foi bem antes de sequer saber que eu era um NATURALISTA! Sim,
pois isso deve ter sido no meio da Década de 1970, ainda nos bancos escolares,
do célebre Colégio
Rio de Janeiro, quando arregimentava meus colegas, pobres coitados,
para se embrenharem na mata, junto comigo, prometendo aventuras emocionantes...
Que, afinal, acabaram mesmo sendo! Em alguma dessas aventuras, não sei bem se
na própria cidade do Rio de Janeiro, ou se foi em Teresópolis, acabei deparando
com os pseudobulbos de uma dessas orquídeas, caídos no chão, ou nalgum galho
podre, no meio da floresta densa e úmida.
Isso é bastante comum, em lugares bem conservados, onde a
floresta apresenta taxas magnas de reposição de plantas: encontrar propágulos
desta curiosa orquídea, descartados pela natureza, no chão, em galhos podres,
ou até mesmo caídos, na serapilheira. Assim, se não me falha a memória, teria sido
meu primeiro contato de colecionador com Bifrenaria harrisoniae; certamente
deste modo terminou sendo meu encontro mais recente, em 1992, em Mangaratiba,
quando coletei os pseudobulbos das plantas da coleção, durante excursão pelas
matas do alto vale do rio Sahy.
Nos meus relatórios de campo, revejo meus apontamentos sobre
essa ocorrência marcante, que resolvi transcrever, para se ter uma ideia da
prodigalidade daquelas matas primárias, que então investigava e que hoje
integram o Parque Estadual de Cunhambebe, na Costa Verde:
“Essas coletas racionais e comedidas se
revelam interessantes para futuros estudos específicos. Um galho apodrecido e
tombado ao chão, próximo ao recanto das cachoeiras, logo abaixo, me fornecera,
tempos antes, alguns moribundos exemplares da orquídea Bifrenaria harrissoniae (excursão
de 1992). Levados para minha coleção, em estado lastimável, restando-lhes
apenas os pseudobulbos, foram devidamente cultivados e mostraram três formas de
flores diferentes, na mesma colônia, uma delas se tratando de espécie distinta
– Bifrenaria inodora”.
Dessas anotações, verifica-se uma
característica interessante da espécie e, até mais, do gênero Bifrenaria em si, que parece guardar
certos mistérios genéticos e taxonômicos, indicados pela imensa variação de formas,
ou mesmo espécies, como mostrou ser o caso das plantas do vale do Sahy. Em
nossa coleção de plantas do JARDIM
FITOGEOGRÁFICO, temos exemplares da forma típica de Bifrenaria
harrisoniae, vindos de diversas partes do Sudeste e Sul, alguns advindos
dos Campos Gerais, no Paraná, onde vegetavam de forma rupícola (sobre rochas);
também havendo exemplares advindos de outras coleções; além das plantas tidas
como B. inodora, que são mantidas com
numeração indexada específica.
forma alba de Bifrenaria harrisoniae
Bifrenaria cf. inodora
Todas essas plantas costumam florescer
entre o final do inverno e o início da primavera, exalando deliciosa fragrância,
que inunda o ar a seu redor. Então, nunca jogue fora aqueles pseudobulbos
velhos de sua Bifrenaria harrisoniae.
Pode ser que venham a te alegrar, muitos anos depois, como aqueles do vale do
rio Sahy.
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