Encyclia linearifolioides
A região de Poxoréo, no sudeste do Mato Grosso, já foi uma das mais produtivas bacias diamantíferas do
mundo. Das cangas ribeirinhas dos rios Poxoréo e Coité, na grande depressão ou
pediplano de Poxoréo, saíram fortunas incalculáveis, até o final do Século XX,
na forma de diamantes brutos, que eram, em sua esmagadora maioria,
contrabandeados para outros países. Como em todas as jazidas diamantíferas do
Brasil, pouco restou de tanta exploração, a não ser um monte de seixos rolados,
amontoados na paisagem, ao lado de imensas crateras e erosões irrecuperáveis,
nos vales dos rios.
A única atividade que atravessou todos esses tempos,
praticamente sem mudanças dignas de nota, foi a pecuária de baixo rendimento,
na qual algumas poucas rezes pastam por capoeiras ou pastagens muito fracas, em
meio aos restos daquilo que, um dia, foram cerradões e florestas estacionais.
Atestam a presença pretérita dessas matas alguns exemplares de árvores mais
resistentes, ou que foram preservadas pelos pecuaristas, com objetivo de dar
alguma sombra ao gado, ou mesmo para servir de madeira, em ocasiões próprias.
paisagem rural da região de Poxoréo, no Mato Grosso, onde vegeta Encyclia linearifolioides
Mas, o botânico interessado sempre encontrará atrativos para
sua curiosidade, ao percorrer essas pastagens semiabandonadas, observando esses
velhos exemplares arbóreos, ou até seus galhos secos, caídos ao chão. São
bromélias e orquídeas, que resistiram à destruição e sobrevivem, por longos
anos, até que essas árvores sejam derrubadas, pelo homem, ou pelo vento. Largas
moitas de Aechmea bromeliifolia, uma
bromeliácea comum na região; touceiras agigantadas de orquídeas-sumaré (Cyrtopodium saintlegerianum); ou
notáveis indivíduos da linda orquídea Cattleya
nobilior, são avistamentos relativamente comuns, nessas paisagens.
Porém, há uma orquidácea muito discreta, quase invisível,
com pseudobulbos esféricos e folhas tão curtas quanto afiladas, que costuma
passar despercebida, aos olhos dos observadores leigos. É Encyclia linearifolioides,
que gosta de galhos quase secos e cascudos, quase à luz solar plena,
florescendo elegantemente, nesta época do ano. Esses galhos despencam e belos
exemplares dessa orquídea são esquecidas sobre a capineira, sendo devorados
pelos bois, ou simplesmente apodrecendo solitariamente.
Assim, chegou o exemplar dessa orquídea, que até hoje vive
na coleção de plantas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, mantida no interior da estufa
de orquídeas: encontrada sobre galhos secos de um enorme ipê, caídos ao solo, numa
estradinha arenosa, que atravessa a baixada de Poxoréo, na Década de 1990,
durante uma expedição que realizamos ao Mato Grosso. Serviu ao propósito de
cultivo e identificação, para esclarecer mais sobre a flora regional.
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