Meu amigo Maurício Verboonen, companheiro de aventuras, pelo Brasil afora, me escreveu, falando sobre o texto que postei, referente à tragédia do Vale do Cuiabá, ocasionada pelas chuvas desta semana. Disse-me ele:
“É a maior verdade a sua análise da tragédia, pois não se pode alegar surpresa quanto aos danos causados nas casas que foram afetadas; de fato é um evento causado por uma precipitação de chuva extraordinária mas previsível de ocorrer em um prazo de décadas, cabe ao poder público analisar os riscos e não autorizar a ocupação das áreas que podem ser afetadas e remover as construções já edificadas.
O paternalismo eleitoreiro ignora esta obrigação e autoriza construir, permite ligação de luz e água, estimula a urbanização, asfaltamento, linhas de ônibus e colhe os votos dos beneficiados por estas ações. As tragédias são explicadas por fatos imprevistos ou pela ridícula sugestão que as águas são obstruídas pelo lixo (a contribuição do lixo é desprezível nos alagamentos que vimos ontem).
Qual o tamanho da tarefa? Alargamento dos canais dos rios, construção de bacias para dispersar o volume maior da enchente, interdição de encostas e várzeas para a construção de prédios, demolição e reconstrução de milhares de imóveis em áreas seguras e por aí vai...
Sendo assim eu prevejo a repetição do mesmo de sempre: prantear os mortos, sepultá-los e esquecer o ocorrido; verbas para a reconstrução serão gastas porcamente ou roubadas e segue a nossa triste avacalhação.
Nenhum otimismo. Me dê esperanças”
Achei importante transcrever sua mensagem, antes de firmar minhas impressões, com respeito ao que ele afirmou. Como qualquer um pode ver, grande parte das pessoas pensa desta maneira, que pode ser resumida num paradigma essencial: O sistema não se fundamenta na racionalidade técnica, mas sim, essencialmente, no eterno jogo da perpetuação do poder. Não seriam necessárias mais palavras, para definir o padrão cultural envolvido na repetição cíclica de tragédias, epidemias e outras vicissitudes deste Brasil que vai pra frente. Mas, creio que não poderei deixar de apontar caminhos, mesmo que, como afirmou meu amigo Maurício, o poder estabelecido continue “pouco ligando e andando” para minhas opiniões.
Escutei um entrevistado da Rede Globo, cujo nome não tive tempo de anotar e, portanto, peço a licença da transcrição de suas afirmações, sem a citação de sua autoria. Disse ele: “Durante muitos anos, acreditávamos nada poder fazer, com relação à situação do Morro do Alemão, no Rio. Pois bem. Mostramos ser possível fazer diferente, por lá. E a comunidade hoje se encontra pacificada e a vida mudou. Por que não podemos fazer o mesmo, com relação à repetição de tantas tragédias, todos os anos, dando um basta nesse jogo de empurrar para frente?” Foi disso que Maurício me falou: “Qual o tamanho da tarefa?” Ela é imensa, não há dúvidas, como era quase impensável a tarefa do Morro do Alemão. Certamente, deverá ser enfrentada com coragem política, espero que ela ainda exista, em alguma dessas cabeças coroadas que andamos colocando lá, nas Câmaras de Vereadores, Prefeituras, Alerj e Palácio das Laranjeiras.
Sempre fui encarado, por muitas (Não poucas) pessoas, como um tipo de fascista ecológico, quando afirmava, sem medos das estrelas vermelhas do poder, que era favorável às remoções de famílias de áreas de risco, do enfrentamento duro dos processos de urbanização caótica, nas encostas e zonas de risco. Devolviam-me com os usuais desaforos: “Você quer tirar pessoas para plantar bromélias e ajudar os bichinhos”. Vêem agora a injustiça? Não comigo, mas com essa gente, essas pessoas, que eram ali mantidas, por suposta justiça social, apenas para morrer agora, sob toneladas de entulho. Enquanto isso, os estrelados vestem honradamente seus uniformes de campanha camuflados e se atiram heroicamente ao resgate dos desvalidos, fingindo não terem sido eles, lá atrás, quem realmente os manteve, ecologicamente, na frente da torrente de lama assassina. Repito o que venho afirmando: Remoção sim, por que não? Vamos mudar definitivamente este paradigma imbecil? Então, mesmo sem ser especialista em políticas habitacionais, mas a partir de minha pequena experiência em meio ambiente, aqui vai uma receita de bolo, para ser melhorada pelos doutores do poder:
1)Procure, inicialmente, recursos financeiros (que efetivamente existem – A Dilma falou!) para aplicar no processo; 2)Encontre, a partir de diagnósticos responsáveis, adicionando um pouco de boa vontade, áreas disponíveis para realocação, com toda a decência – Use uma pitada de autoridade, se dispuser deste condimento; 3)Retire as famílias dos locais de risco, indicados por levantamentos técnicos (Este produto se encontra disponível em qualquer gabinete das universidades e mesmo no governo); 4)Coloque as famílias em local seguro e, por fim; 5)Transforme as áreas de risco em parques fluviais, florestas urbanas e outras modalidades de áreas públicas, em caráter irrevogável. As calhas de rios e alinhamentos de fluxo devem ser sistematizadas, de forma a absorver possíveis sobre-fluxos. Pronto, a receita está pronta e pode ser servida para a sociedade. Mas, cuidado: Se você que a prepara tiver cargo eletivo, poderá não se reeleger, pois certamente desagradará muitas pessoas. Mas, com certeza, terá cumprido com suas obrigações e o futuro mostrará isso.
Ainda pretendo voltar a este assunto, mais à frente, assim como ao dos parques fluviais, como o Orla do Piabanha, que vêm sendo bastante comentados, por tratar áreas de margens de rios. Por fim: Chega de reeleições! Ao buscá-las, freneticamente, os políticos fazem toda sorte de tratos com o diabo e viram as costas às suas verdadeiras obrigações – CUIDAR DA COLETIVIDADE!
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