Para os amantes de vinhos e os enólogos, um Terroir significa, fundamentalmente, o conjunto de condições ecológicas, nas quais determinada cepa ou vinha foi cultivada, antes de gerar o vinho: Clima local (Topoclima); Condições de radiação solar naquele ano; Umidade do solo, durante o desenvolvimento e; Solos, principalmente – Daí o termo TERROIR. Para mim, contudo, um pobre apreciador de vinhos e nada mais, um Terroir pode congregar conjunto mais subjetivo, mais sensitivo, envolvendo as condições culturais em que determinado vinho nasceu e, até mesmo, por que não, o ambiente e a emoção, no momento em que foi bebido.
Não me arvoro de conhecedor de vinhos, o que não sou, por mais que me esforce. É claro que, com o passar dos anos – e das garrafas – a gente acaba sabendo um pouquinho mais, tal qual ocorre quando nos interessamos por outros assuntos, o que, em meu caso, concerne à Geografia Botânica. Determinado a escrever uma obra sobre as vegetações do Brasil e de alguns países fronteiriços, acabei por conhecer razoavelmente o assunto e creio que não faria feio, hoje em dia, se tivesse que discuti-lo, em rodas iniciadas. Assim, colecionando centenas de rolhas, acabei desenvolvendo alguma sensibilidade, com relação aos vinhos. Sensibilidade, eu falei. Como sujeito bastante afeto à sensibilidade, artista que sou, tem sido ela meu guia, na arte de apreciar vinhos. E foi assim que encontrei, entendi e passei a apreciar alguns tipos de Terroir, nesta minha mais recente viagem, que me levou até o Rio Grande do Sul e ao Uruguay.
No Uruguay, durante minha segunda passagem pelo pequeno país, pude finalmente entender como eles produzem suas uvas, basicamente em dois lugares: As cercanias de Montevideo, sob clima fortemente marítimo e sobre velhos solos, assentados sobre granitos róseos e; Na região Noroeste, espremidas entre a pampa sem fim e as Serras do Sudoeste Gaúcho, num clima bem mais seco e a partir de solos drenados. Aliás, do lado brasileiro, os gaúchos da Almadén e da Santa Colina também mantêm vinhedos, numa região conhecida como Campanha Gaúcha, próximo a Santana do Livramento. Apreciei fartamente os vinhos Tannat do Uruguay, num restaurante pra lá de recomendável, em Montevideo, chamado El Fogon, harmonizando-se com entrecotes suculentos e uma paleta de cordeiro memorável. A despeito de tantas boas marcas, ficou a excelente impressão dos vinhos da Stagnari, sendo regionalmente reputada a safra de 2002 como uma das melhores já ocorridas, nos últimos anos. Se bem que, a julgar pela severa seca que assola o Uruguay, este ano, vêm aí excelentes vinhos, na próxima safra.
Porém, foi no Vale dos Vinhedos que tive a minha melhor experiência enológica dos últimos tempos, exatamente pela minha definição anteriormente citada de Terroir: O Terroir da sensibilidade, surgido não somente no detido exame das condições ecológicas daquela região, que já se considera uma Denominação de Origem Controlada brasileira, mas pelas condições afetivas que envolveram minha visita. Explico: A recepção carinhosa, regada a intensa identificação pessoal com o enólogo Luis Henrique Zanini, da Vinícola Vallontano (www.vallontano.com.br), da qual surgiu o meu Terroir preferido, na Serra Gaúcha.
Zanini já é velho conhecido, tendo sido a mim apresentado, tempos atrás, quando ainda engarrafava seus vinhos naqueles garrafões tradicionais da Colônia Italiana, época desde a qual passou a se esmerar, na busca da formação da hoje excelente qualidade dos vinhos fabricados, ou melhor, nascidos na Vallontano. Desde então venho acompanhando seu trabalho, que já me brindara com Tannats expressivos e Cabernet Sauvignons respeitáveis. Mas, desta vez, Zanini tratou de sedimentar, na mais pura acepção do termo, meu Terroir preferido, na Serra Gaúcha: O Terroir Vallontano, de Luis Henrique Zanini, durante nossa visita à sua cantina, em Bento Gonçalves.
No dia 28 de dezembro de 2010, o ocupadíssimo enólogo da Vallontano se dispôs a nos receber, pessoalmente e exclusivamente, em suas instalações do Vale dos Vinhedos, reservando-nos duas agradáveis horas de seu precioso tempo, durante as quais nos mostrou tudo sobre seus processos de vinificação e sobre sua filosofia purista, na busca de vinhos de alma e corpo. Zanini somente utiliza uvas de vinhedos próprios, em seu processo de vinificação, nem um grão sequer fora de seu meticuloso controle produtivo, o que chega a impor-lhe frustrações de safra, caso não consiga a qualidade almejada. Com isso, sua produção é pequena e se vê praticamente toda absorvida pela distribuidora Mistral, de São Paulo. Conhecendo pessoalmente processos produtivos da Itália e da França (Borgonha), ele vem desenvolvendo vinhos varietais que traduzem intensamente seu Terroir, sem deixá-los conspurcar por modismos e padrões massivos de mercado. Cada garrafa é uma garrafa, sem a preocupação economicista de afirmação em macro-mercados. Exatamente como eu, Zanini acredita que cada vinho tem seu sabor próprio, independentemente de ditames impostos pela ditadura dos “julgadores das revistas internacionais”. Já não há mais espaço para preconceitos contra vinhos nacionais do Brasil. Desde, é claro, que não busquemos neles cópias facsímile de vinhos chilenos, argentinos ou franceses.
Vinhedos e Uvas da Vinícola Vallontano, no Vale dos Vinhedos, Rio Grande do Sul
Terminamos nossa visita degustando diversos Cabernet Sauvignon, Tannat e, é claro, os Merlot que o Rio Grande do Sul vem aprendendo a fazer, com grande talento. Posso afirmar, com meu espírito gratificado pela oportunidade a mim concedida, que identifiquei meu Terroir preferido, no Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul: O Terroir do Zanini, da Vallontano. Um Terroir feito de solos, clima, ventos e, é claro, do talento espiritual de Luis Henrique Zanini. A propósito, a Queijaria Valbrento fica bem ao lado da Vinícola Vallontano e, nela, qualquer um poderá encontrar o magnífico Culatello, para ser apreciado, devidamente regado aos vinhos da Serra Gaúcha.
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