Uma visita ao Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, precisa começar por Carlos Barbosa, uma pequena cidade, cercada de Tramontina, por todos os lados. Falo da Tramontina dos aços finos, uma das empresas que fazem o orgulho da indústria do Rio Grande do Sul. Quem vem de Farroupilha, na direção de Bento Gonçalves, por uma estrada de movimento medonho, da qual ainda virei a falar, deverá virar à esquerda, em direção a Carlos Barbosa, que está então situada muito próximo. Quem vem de Porto Alegre, por São Vendelino, chega direto à capital dos queijos de qualidade – Carlos Barbosa, onde se fabricam os famosos queijos Santa Clara.
Carlos Barbosa tem até uma Festa do Queijo, no inverno, que atrai multidões de turistas. Mas, a maior parte das pessoas que diuturnamente acorre à cidade vem em busca da imensa loja que a Tramontina mantém, na qual se vendem praticamente todos os produtos de sua linha. De nossa parte, os itens para gastronomia são o mote de nossa visita quase anual. Nessa época do ano, próximo ao Natal, obrigamo-nos a nos espremer entre centenas de pessoas que chegam nos ônibus de turismo, ávidos pelas compras. Mas, afinal, no Brasil atual, onde é que isso não ocorre?
Mas, talvez ainda mais importante do que a Tramontina, cujas fábricas, como falei, cercam quase toda a cidade, seja a pequena lojinha chamada Fetina de Formaio, situada aos fundos da mega-loja da grande empresa. Fetina de Formaio, em dialeto gringo (Gringos, no Sul, são os italianos da Serra Gaúcha, vindos da região do Veneto), significa: Fatia de queijo. Isso explica a natureza do comércio da Fetina de Formaio, que vende produtos genuinamente italianos, dos quais também virei a falar, em outros textos. Ali, encontra-se uma das mais inigualáveis iguarias que já pudemos provar e que se tornou item básico de degustações, em dias mais frios petropolitanos: Trata-se do Culatello, que é um presunto curado, feito com o coração do pernil do porco. Lembra um presunto crudo espanhol ou de Parma italiano. Mas, eu posso afirmar, pode ser muito melhor do que muitos deles! Vai bem com praticamente todos os tintos sul-americanos, especialmente os Cabernet Sauvignon, os Malbec e, é claro, os Carmeneres chilenos.
Na Fetina de Formaio, ainda achamos salames coloniais, de javali e de lombo puro, além de toda sorte de outros produtos excepcionais do Rio Grande do Sul. Quem quiser encontrar tudo isso poderá seguir direto ao Vale dos Vinhedos, onde está situada a Queijaria Valbrenta, coirmã da Fetina de Formaio (Pertence aos mesmos donos – www.queijariavalbrenta.com.br). Mas, sem dúvida, perderá a performance genuinamente italiana e inesquecível dos familiares que atendem em Carlos Barbosa.
Voltando para Bento Gonçalves, encontra-se a rota do Vale dos Vinhedos, quase em frente ao acesso à cidade. É muito fácil e valerá à pena adentrar a Toscana Brasileira. Digo isso, na qualidade de quem esteve, ainda este ano, na Toscana Italiana, onde as paisagens são de tirar o fôlego... Assim como essas do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. Costumamos visitar o Vale dos Vinhedos quase todos os anos, quando faço uma parada obrigatória na vinícola Vallontano (www.vallontano.com.br), cujo enólogo Luis Henrique Zanini eu muito admiro e de quem poderei falar, oportunamente, noutro texto sobre os vinhos gaúchos. Desta vez, não nos decepcionamos e pudemos desfrutar de suas paisagens harmoniosas, cuidadosamente preservadas e melhoradas pelas vinícolas, que se espalham, ao longo de seu percurso.
O Vale dos Vinhedos pode ser visitado no período de um dia, contando com cerca de 50km de vinícolas, hotéis (Poucos, ainda) e atrações, que podem ser conferidas, antecipadamente, no site da Aprovale, que é a entidade que congrega os empresários da região que produz alguns dos melhores espumantes que alguém poderia provar – www.valedosvinhedos.com.br. Porém, posso garantir: quem reservar pelo menos uns dois ou três dias no Vale dos Vinhedos não se arrependerá. Especialmente se puder ficar por ali, sem depender de dirigir para longe, ainda mais se levar uma bicicleta e uma boa câmera fotográfica.
Os vinhos da região já contam com uma denominação de origem e trazem incríveis surpresas ao apreciador que se decidir a largar os preconceitos contra produtos nacionais. Além da Vallontano, cujo Merlot e o Tannat vêm se sobressaindo como alguns dos melhores do país, posso citar as mesmas variedades da Pizzato, também uma vinícola pequena, mas que vem trabalhando bem sua qualidade. Uma grata descoberta, desta vez, foi a Trattoria Mama Gemma, próxima ao Hotel Villa Michelon, que serve massas de excelente paladar. Seu chef Altamir Pessali é o mesmo da Trattoria Primo Camilo, em Garibaldi, uma casa bem famosa na região. A Mama Gemma foi aberta há coisa de uns sessenta dias e não decepciona. Você pode pedir um tipo de rodízio, no qual poderá provar todos os seus itens.
O segredo do Vale dos Vinhedos é um Plano Diretor, rigorosamente seguido, que mantém a paisagem com seus traços italianos, com belos vinhedos recortados nas matas e agradáveis construções tradicionais. Mas, não há dúvidas: São seus vinhos, especialmente seus espumantes de grande vivacidade e frescor, que fazem valer um bom passeio.
Acima: Ambiente típico da Colônia Italiana, no Vale dos Vinhedos
Acima: Interior de uma cantina familiar na Colônia Italiana, do Vale dos Vinhedos
Abaixo: Uvas no parreiral da Vinícola Vallontano, em Bento Gonçalves
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