Neste sábado, dia 29 de janeiro de 2011, minha amiga Leda Maldonado, conhecida profissional da área paisagística de Itaipava e Petrópolis, me apresentou o jovem Nathan Miranda Gazineu David, de 17 anos, trazendo-o à minha casa, com o objetivo de mostrar a ele minha coleção de plantas. Leda me falou do rapaz, afirmando que se tratava de um “novo Orlando, trinta e cinco anos depois”. Ela queria referir, com isso, minha história de vida, relacionada às ciências naturais, que passara por situações similares, não somente na escolha dos gostos do jovem Nathan, semelhantes aos meus – principalmente orquídeas – mas também pela forma como ele hoje busca conhecer pessoas notoriamente ligadas ao meio ambiente, às plantas. Tínhamos uma tarde excepcionalmente quente, para os padrões locais, mas não deixamos de caminhar entre as plantas, conversando sobre orquídeas, bromélias, filodendros e outras paixões comuns aos dois.
Não pude deixar de relatar a ele sobre uma das mais marcantes oportunidades que a vida me ofereceu, quando buscava as mesmas coisas que ele, nos anos de 1970, no Rio de Janeiro. Foi quando bati às portas do Departamento de Botânica Sistemática do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, junto com meu colega de Grupo Quati de Pesquisa e Estudos da Vida Selvagem – Paulo Raguenet – procurando por um estágio. “Estágio? Não, isso não é bem assim”, nos falou um funcionário que nos recebeu, dois meninos, tais como o Nathan, à porta do Departamento. Porém, escapando ao comportamento habitual dos burocratas, este senhor ainda pensou um pouco, pediu que esperássemos um instante e foi falar com alguém: “Esperem, pois tem uma pessoa que talvez possa lhes ajudar”. Retornou, instantes depois, com uma senhora pequenina que logo nos perguntou: “O que querem?” A resposta: “Conhecer plantas, saber mais sobre botânica!”.
Aquela senhora era nada menos do que a Dra. Graziela Maciel Barroso, botânica que mudou o curso da pesquisa e da própria instituição do Jardim Botânico, vindo a se tornar a mais célebre taxonomista da América Latina. “Se vocês querem conhecimento, venham comigo. Não temos dinheiro para pagar e nem tanta estrutura assim (Que diferença para os dias de hoje!), mas as portas estão sempre abertas ao conhecimento...” Permaneci cerca de um ano, trabalhando no Jardim, onde também fui orientado pela Dra. Ariane Luna Peixoto, mais tarde diretora da Escola Nacional de Botânica Tropical e igualmente uma botânica de expressão mundial. Aquele gesto de boa vontade, contei a Nathan, abriu caminhos para tudo o que veio depois. Por isso, temos que estar sempre de portas abertas para os jovens, quando demonstram avidez pelo bom, pelo progresso cultural. Dona Grazi, como era conhecida no JBRJ, trabalhou duramente, até os 92 anos, formando novas gerações, que hoje brilham no cenário científico.
Tocou-me bastante a figura límpida e clara do menino Nathan. Enxerguei-me nele, não somente pela repetição romântica de meus passos, tantos anos atrás, mas pelo seu jeito típico do jovem de hoje. Assim como eu, nos anos setenta, ele trajava roupas de moda, assessórios “da hora” e sua mochila, às costas. Falava bastante, tentando demonstrar seus conhecimentos sobre as plantas – excelentes, por sinal – e portava uma câmera fotográfica digital, coisa impensável, em minha época. No visor da maquininha, me mostrava imagens de orquídeas, bromélias e outras paixões, além de seu orquidário, assim como o meu da Ipanema daqueles tempos, uma estrutura improvisada, própria da idade e das posses de um adolescente. Estava ali um jovem saudável, com sua vaidade típica dos dezessete, mas cheio de sonhos e vontades.
Tentei orientar, no pouco que pude, pensando que me encontrava agora do outro lado da vitrine. Olhando para o novo naturalista Nathan, que deseja ser, em suas palavras, Biólogo – Taxonomista Botânico – Especialista em Orchidaceae – mais em especial ainda, do gênero Agraecum – olhava para mim mesmo, no passado. Tinha ali, em minha frente, mais um sonhador, um idealista, com seus projetos. Não pude deixar de dar a ele um último conselho, antes de nos despedirmos: Projetos são planos de viagem. Tendo-os, sabemos para onde estamos querendo ir e poderemos, se necessário ou interessante for, mudar de rumo, no sentido de nossas realizações. Sem projetos, somos naus sem bússola e não sabemos para onde vamos, quase sempre encalhando em praias ruins. Boa sorte, Nathan! Lá de cima, Dona Graziela talvez esteja a me olhar, pensando que seu coração aberto conseguiu sensibilizar outros corações, outras mentes, dispondo novas pontes para novas carreiras, novas missões de vida. Satisfeito em poder ajudar, despedi-me do mais novo naturalista brasileiro, que seguia seu curso. Como dormi bem, esta noite. Eu, minhas orquídeas e minhas boas lembranças.
O Autor - Orlando Graeff - no final da Década de 1970, no Vale do rio Soberbo, Serra dos Órgãos, compenetrado, fotografando a floresta.
Oralando o conhecimento não tem limites! Agora voce está compatilhando-o com a geração futura, isso é impagável! O conhecimento é imensurável e voce,foi um previlegiado, e acredito por merecimento. Linda essa tarde narrado por voce com o jovem ávido por conhecimento, bacana!
ResponderExcluirObrigada pelo carinho com o qual acolheu o meu amiguinho Nathan.Nào sou especialista em orquideas,mas apaixonada por elas e pela natureza.Conheço Nathan já faz um bom tempo.....e sempre que nos encontramos estamos girando em torno das orquideas.Tenho pouco a oferecer a ele em conhecimento....mas fique imensamente feliz pelo oportunidade que voce deu a Ele...tenha certeza Ele fará bom uso de tudo quanto voce compartilhou com Ele.É jovem e se comporta como um ser maduro,nada comum nos jovens de igual faixa de idade.Obrigada.
ResponderExcluirNamir de cristo Góes