sábado, 31 de dezembro de 2016

OBSERVANDO AVES PARA CONSERVAR A NATUREZA DA RPPN GRAZIELA MACIEL BARROSO

a raríssima águia-cinzenta sobrevoando a RPPN Graziela Maciel Barroso


No final da Década de 1990, surgia o Condomínio Quinta do Lago, agregando conceito absolutamente novo, na conservação da natureza: ultrapassando a mera obrigação legal de manter uma reserva florestal (reserva legal), prevista em lei, os empreendedores decidiram ir além, muito além, espontaneamente reconhecendo suas reservas como RPPN – reserva particular do patrimônio natural. Deixava-se para trás a mera obrigação, para assumir-se a VONTADE de conservar a natureza.

Foi nessa época que conheci o local, convidado a trabalhar para o reconhecimento dessa RPPN e também para elaborar seu primeiro plano de manejo. Havia participado ativamente das discussões oficiais sobre RPPNs, que tomavam fôlego, trabalhando também para reconhecer outras importantes unidades, como a RPPN da Fazenda Limeira, na Serra da Maria Comprida. Mas, seria a primeira vez que um projeto de urbanismo incorporava essa política como parte de seus propósitos. RPPNs são autodeclaradas, e não atos impostos por decreto. É preciso que seus proprietários desejem cria-la, por moto próprio. Enfim, é necessário que acreditem na conservação da natureza.

A ideia foi “soprada” pela Bióloga Yara Valverde, que então chefiava a APA-Petrópolis (Área de Proteção Ambiental de Petrópolis – unidade de conservação federal, que engloba toda a região) e pela Dra. Denise Tarin, Promotora de Justiça, que coordenava a Procuradoria de Meio Ambiente de Petrópolis. Os empreendedores pegaram imediatamente, enxergando nisso, não apenas um nobre propósito, mas também poderosa ferramenta de marketing: como não se seduzir pela ideia de morar num condomínio e ajudar a proteger a natureza, as espécies da fauna e da flora?

Foram alguns anos de luta, por parte dos empreendedores, para ver definitivamente reconhecida sua RPPN. Não havia precedentes de reservas particulares do patrimônio natural reconhecidas por condomínios. Quando já seguia para definitiva homologação, pelo Poder Público, tivemos a ideia de mudar o nome da RPPN para RPPN Graziela Maciel Barroso, em justa homenagem à grande Botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que morrera recentemente, tendo trabalhado duro, até seus 94 anos, naquela importante instituição científica. Ocorre que a RPPN Graziela Maciel Barroso protege duas espécies da flora criticamente ameaçadas – uma amarilidácea conhecida como rabo-de-galo (Worsleya procera); e uma minúscula bromélia litofítica que somente existe na localidade: Tillandsia grazielae.

A saudosa Dona Grazi, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro

acima - Worsleya procera (Amaryllidaceae) - rabo-de-galo


acima - a minúscula bromélia litofítica Tillandsia grazielae



Ao publicar a nova espécie de bromélia, anos antes, os naturalistas Sucre e Braga lhe deram o nome específico em homenagem à Dra. Graziela Maciel Barroso. Pessoalmente, iniciara minha vida de naturalista e botânico, no meio da Década de 1970, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, pelas mãos atenciosas da Dra. Grazi, como era conhecida. Somando-se a isso o fato que Tillandsia grazielae somente ocorre nas rochas que afloram na RPPN, pensamos todos em fazer esta oportuna homenagem. Nascia, no início dos anos 2000, a RPPN Graziela Maciel Barroso.

Elaboramos seu PLANO DE MANEJO, que foi um dos primeiros a serem apresentados, para este tipo de reserva - RPPN. Desde então, inúmeros programas de manejo, relacionados à RPPN Graziela Maciel Barroso, foram conduzidos pelos gestores do Condomínio: proteção e prevenção contra os temíveis incêndios criminosos, que anualmente assolam a região e sua vida silvestre; reflorestamentos e recuperação ambiental de margens de rios e encostas (inclusive fora dos limites formais da RPPN); projetos de educação e incentivo, em comunidades de entorno. Numa dessas comunidades carentes, o Vale do Carangola (antigamente conhecido como Sertão do Carangola), o Condomínio promoveu a regularização fundiária e delimitação de reserva florestal, em consórcio com a Prefeitura de Petrópolis, o que representou notável avanço social e ambiental.

Pedra da Maria Comprida - avistada da RPPN Graziela Maciel Barroso


acima - Pico do Seio de Vênus - ponto culminante da RPPN Graziela Maciel Barroso

Paulo Raguenet e Orlando Graeff, no alto da RPPN Graziela Maciel Barroso, no final dos anos noventa


Mas, havia um hiato fundamental, na história conservacionista da RPPN Graziela Maciel Barroso, algo que destoava imensamente dos principais propósitos deste tipo de unidade de conservação: NÃO HAVIA USO PÚBLICO! NÃO EXISTIA VISITAÇÃO DE SUAS ÁREAS SILVESTRES! O Plano de Manejo da reserva, elaborado no início da Década de 2000, apontava o desenvolvimento de um atraente sistema de trilhas ecológicas, que serviriam para a visitação contemplativa e interpretativa de belas linhas de cumeada, atravessando florestas conservadas, onde a flora e a fauna estariam protegidas.

A potencialidade existia, não somente pela presença de espécies raras da flora, citadas anteriormente, mas pela inegável beleza dos cenários, encontrados na zona de alta montanha, onde se destaca o pico do Seio de Vênus, histórico destino de naturalistas do Século XIX. Mas, havia algo no ar, desde o reconhecimento da RPPN, que indicava certa retração das tendências ecoturísticas na sociedade: mudanças filosóficas, que novamente distanciavam a sociedade da contemplação da natureza, se juntaram ao lamentável declínio econômico, que puxava junto o clima de insegurança urbana.

Assim, ao invés de se abrir à contemplação ambiental, a RPPN Graziela Maciel Barroso viveu certo isolamento, enquanto se fechava progressivamente a inter-relação entre ela e seu entorno: visitação poderia significar descontrole e insegurança, o que não deixava de ser verdade, haja vista a já referida queda de interesse das camadas mais cultas da sociedade pela contemplação da vida silvestre. Que tipo de visitantes esperar, em trilhas montanhosas, numa conjuntura como essa? Muitos belos projetos de ecoturismo, espalhados pelo Brasil, entraram em estagnação, alguns até em decadência, enquanto o interesse dos turistas se voltava mais às aventuras, esportes radicais, ou viagens internacionais.

Foi quando despontou, no horizonte, promissora tendência, que vem se transformando hoje numa onda muito positiva, que é a CONTEMPLAÇÃO DE AVES, mais conhecida pelo verbete em inglês: BIRDWATCHING. O Brasil – Petrópolis em destaque – integra uma série de destinos mundiais notáveis para a observação de aves, na natureza. Torna-se fácil entender a relação entre a biodiversidade de plantas, que aludíramos antes, e a riqueza de aves, que se observa em locais como a Floresta Atlântica – onde se encontra situada a RPPN Graziela Maciel Barroso.

O longo “inverno” de manejo ecoturístico da RPPN Graziela Maciel Barroso começou a ser rompido por esta “primavera” trazida pelo BIRDWATCHING, no final de 2016, quando fomos contatados pelo CONSÓRCIO PASSARINHO, integrado por duas empresas de consultoria ambiental, cuja missão consistia na implementação de um projeto de fortalecimento das RPPNs do Rio de Janeiro, tendo como mote fundamental exatamente o AVISTAMENTO DE AVES.  O referido projeto, com suporte do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e chancela do INEA (Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro), foca em duas frentes principais: atualização dos Planos de Manejo das RPPNs (elaboração, em casos de reservas que não contem com ele); publicação de um guia de RPPNs e Parques com potencial para BIRDWATCHING.

garça-real na RPPN Graziela Maciel Barroso

japu - ave comum na RPPN Graziela Maciel Barroso

maritaca consumindo jabuticabas na reserva


O apogeu deste projeto ocorrerá em meados deste novo ano – 2017 – quando está prevista a publicação do guia de unidades de conservação com potencial para avistamento de aves. O BIRDWATCHING é atividade que evidentemente transcende a diversão, uma vez que prevê uma densa iniciação, que atrai famílias inteiras. Curiosamente, as aves exercem atração da qual poucas pessoas conseguem escapar, depois de experimentar sua aproximação. Conheça um pouco mais sobre BIRDWATCHING no link - https://en.wikipedia.org/wiki/Birdwatching.

O site WIKIAVES (http://www.wikiaves.com.br/ ) é a bíblia dos observadores de aves, que se congregam em clubes ou associações. Uma das mais célebres é o COA – Clube dos Observadores de Aves, que congrega pessoas de todas as idades e gêneros (COA:http://www.coa-rj.com/ ). Evidentemente, o BIRDWATCHING não é atividade muito barata, uma vez que o aficionado acaba se obrigando a se equipar com binóculos, câmeras, lentes avançadas, livros e roupas. Além disso, os destinos não costumam ser muito fáceis de serem frequentados, seja pela distância, seja pela exclusividade. Mas, não restam dúvidas: é uma atividade geradora de importantes recursos, para as RPPNs, pousadas e parques que se dedicam a receber os observadores de aves.

A RPPN Graziela Maciel Barroso, por contar com excelente infraestrutura, vem participando dos estudos que atualizarão seu Plano de Manejo, mirando nesta promissora modalidade turística e cultural. Ainda há muito chão pela frente, bastante reflexão e discussão a ser feita, no ambiente condominal, de forma a ajustar pontos e estabelecer diretrizes. Mas, a semente foi plantada e, a julgar pela quantidade de aves, que habitam a reserva, sustentadas por sua natureza pujante, estamos diante de um ponto estratégico. Somente no projeto do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, que todos conhecem bem, situado na RPPN Graziela Maciel Barroso e abrigando cerca de MIL ESPÉCIES DE PLANTAS, entre a coleção botânica e sua floresta recuperada, já foram catalogadas, de modo preliminar, mais de SESSENTA AVES diferentes. O que não esperar das florestas de altitude da RPPN?

acima - maracanãs na floresta recuperada do Jardim Fitogeográfico


colibri descansando na inflorescência de uma bromélia do Jardim Fitogeográfico


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – A ORQUÍDEA EPIDENDRUM SECUNDUM


Epidendrum secundum

Existe um grupo curioso e intrigante de orquídeas, em nossa flora, que seguramente ainda comportaria muitos estudos taxonômicos: falamos da aliança que gira em torno de Epidendrum secundum. Já estivemos a mostrar uma linda espécie do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, que é Epidendrum xanthinum (ver postagem - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2016/09/plantas-do-jardim-fitogeografico_19.html ), uma planta bastante comum na Serra do Mar, com flores amarelas, que bem ilustra essa pendência. Mas, há tantas outras nativas, além de uma série de cultivares hortícolas, que foram introduzidas no mercado de plantas ornamentais e ocorrem quase que espontaneamente, em jardins residenciais, e aumenta a confusão, toda vez em que as avistamos.

Nossa série de publicações não tem objetivos de complicação e preferimos simplesmente apresentar cada planta que mantemos em cultivo, deixando aos aficionados a tarefa árdua de se ver a braços com a questão. Epidendrum secundum já foi conhecida com diversos nomes, tais como Epidendrum ellipticum, E. crassifolium, E. elongatum, entre tantos outros, o que se deveu, sem qualquer sombra de dúvidas, às suas possíveis e usuais variações regionais, que simplesmente não sustentaram reconhecimento como espécies diferentes. Então, até segunda ordem, o táxon válido é mesmo Epidendrum secundum Jacq.


 Acima – Epidendrum secundum da Serra da Piedade, em Minas Gerais
Abaixo – Inflorescências de E. secundum das montanhas do Peru (Machu Pichu)


A planta pode ser encontrada numa grande variedade de condições de crescimento, assim como numa vasta área geográfica de ocorrência, que inclui desde a Floresta Atlântica, até países vizinhos, como Peru, onde ela ocorre na lendária cidade perdida de Machu Pichu. Seu modo preferencial de crescimento, contudo, é mesmo o saxícola – aquele em que a planta medra nas frestas de rochas, metendo suas raízes nos restos de folhas secas e detritos. Adora sol, luz solar direta, quando consegue emitir suas mais vistosas inflorescências, que também variam de cores, entre o róseo (mais comum) e tonalidades vináceas e até amareladas.

No JARDIM FITOGEOGRÁFICO, Epidendrum secundum praticamente se naturalizou e se propaga hoje por diversos cantos, aos quais chega, através de sementes, ou divisão de rebentos, que aparecem junto à inflorescência e emitem dali novas raízes.


Acima – Epidendrum secundum vegetando sobre muro de pedra, na coleção do JARDIM FITOGEOGRÁFICO. Note os rebentos, que surgem nas hastes das inflorescências, dali enraizando e se propagando

Abaixo – A orquídea empresta notável efeito ornamental, na Fonte da Musa do JARDIM FITOGEOGRÁFICO


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – SCHWARTZIA BRASILIENSIS - RABO-DE-ARARA


Schwartzia brasiliensis

As restingas arenosas do litoral brasileiro, principalmente aquelas da Região Sudeste, são a pátria de muitas belas plantas, que cultivamos em nossos jardins. O ambiente úmido, disposto a fortes índices de radiação solar, fez surgir diversas plantas de folhas duras e resistentes, muitas delas produzindo flores vistosas, servindo para atrair seus polinizadores tão longe das florestas. As orquídeas e bromélias das restingas são célebres pelo seu caráter escultural; mas, as trepadeiras e plantas escandentes da matinha baixa das restingas também guardam lindas surpresas.

Uma dessas gratas surpresas das baixadas litorâneas do país é Schwartzia brasiliensis, antes conhecida como Norantea brasiliensis, uma marcgraviácea arbustiva, que se entremeia às arvoretas ramificadas dos scrubs costeiros. Ocorrem desde o Ceará, no Nordeste, até Santa Catarina, na Região Sul. Mas, é nas restingas fluminenses que essas belíssimas plantas mostram seu efeito paisagístico, com maior força. No litoral do Rio de Janeiro, eram avistadas nas restingas da Barra da Tijuca, já completamente extintas, e também na Região dos Lagos, no litoral de Cabo Frio.

O nome aqui referido – rabo-de-arara – não é muito conhecido e serve mais à sua parente do Brasil Central: Norantea guianensis. Sendo planta muito pouco difundida, em nossos jardins, é mais conhecida como “norantea”, simplesmente. Não é assim tão fácil de se conseguir uma muda de Schwartzia brasiliensis, nos hortos comerciais, certamente não se devendo isso a qualquer dificuldade de propagação, pois isso se dá com razoável facilidade, usualmente por mergulhões e alporques, também através de sementes, que germinam ao redor da planta, principalmente nas bainhas das folhas das bromélias-tanque.

Essa capacidade de germinar no meio das bromélias é justamente um dos recursos desta planta, nas restingas, para saltar os vazios arenosos, que costumam se interpor, entre uma ilha e outra de vegetação arbustiva. Por lá, são vistas misturando suas inflorescências extremamente ornamentais às de bromélias importantes, como Vriesea neoglutinosa e Vriesea procera, assim como de orquídeas comuns desse ecossistema, tais como aquelas do complexo de Epidendrum secundum.


As inflorescências de Schwartzia brasiliensis possuem nectários que propiciam maná para aves, muito especialmente beija-flores, que acorrem com frequência, assim como saíras, cambacicas e tantas outras aves tropicais. Por isso, o rabo-de-arara deveria ser muito mais utilizado, em nossos jardins residenciais, para trazer para perto de nós essas joias voadoras, que alegram o ambiente. No JARDIM FITOGEOGRÁFICO, integram os maciços de arvoretas e arbustos de restingas e campos rupestres, imitando a maneira com que ocorrem na natureza. 



Acima - Schwartzia brasiliensis no JARDIM FITOGEOGRÁFICO
Abaixo - Os maciços de plantas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO buscam imitar a natureza: Schwartzia brasiliensis, junto com a bromélia Vriesea neoglutinosa, ambas das restingas fluminenses



terça-feira, 6 de dezembro de 2016

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – TARUMÃ

terça-feira, 6 de dezembro de 2016


flores do tarumã - Vitex megapotamica

A floresta recuperada do JARDIM FITOGEOGRÁFICO é um feliz consórcio entre árvores da Floresta Atlântica, plantadas desde 2007, e tantas outras essências nativas, surgidas de forma espontânea. Algumas dessas plantas nativas, surgidas como alegres surpresas, sem que tivessem sido plantadas, vieram pelo vento, enquanto muitas outras chegaram com os passarinhos. Vitex megapotamica (o tarumã) foi uma dessas.

Vitex megapotamica pertence à família botânica Lamiaceae e já foi conhecida como Vitex montevidensis, sendo árvore que se espalha amplamente, desde o Sudeste, até o Rio Grande do Sul, adentrando o Uruguai e Prata. Cresce relativamente rápido e faz parte daquele grupo de árvores que perdem as folhas anualmente – árvores decíduas ou deciduais. Muitas de nossas árvores de Petrópolis são deciduais, característica que foi herdada de eras passadas, quando elas se livravam das folhas, para enfrentar longos invernos secos e frios. Hoje, a deciduidade serve bem para o enfrentamento da seca rigorosa, que se abate sobre as vertentes interioranas da Região Serrana Fluminense.

O tarumã tem importância relacionada à sua origem, no Jardim Fitogeográfico: é planta que produz grande quantidade de frutinhos pretos, adorados pelas aves. Essa característica, é claro, é bem vinda aqui em nossa floresta recuperada, somando-se ao camboatá (ver postagem - Camboatá Sustento da Fauna ), do qual já falamos anteriormente, no suprimento de alimentos à cada vez mais diversificada avifauna local. Mas, o tarumã também é muito importante como abrigo para algumas epífitas da coleção de plantas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, por possuir casca bem suberosa e de fácil fixação para orquídeas e bromélias.


Num tarumã que fica situado junto à entrada para as trilhas da floresta recuperada, estão agarradas bromélias como Neoregelia princepsVriesea phillippocoburgii e outras bromélias, que gostam bastante da deciduidade invernal da árvore, que permite a entrada de maior quantidade de luz, durante os dias frios de inverno. Mas, não há dúvidas, Vitex megapotamicaé muito mais importante para a passarada, que também a utiliza como ponto de pouso, de onde muitos beija-flores esquadrinham as lindas inflorescências de Schwartzia brasiliensis, situadas sobre um grande muro de pedras próximo.

o tarumã, ao centro, também serve de pouso às aves, de olho nas inflorescências nectarinas do rabo-de-arara (Schwartzia brasiliensis), em primeiro plano, à direita

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – A RAINHA DAS ORQUÍDEAS: CATTLEYA PURPURATA

Cattleya purpurata "carnea" - Acima

Ainda nos tempos em que se chamava simplesmente Laelia purpurata (lê-se Lélia purpurata), na primeira metade do Século XX, Cattleya purpurata foi reconhecida como “ rainha das orquídeas”, evidentemente pelo inquestionável apelo de sua beleza. Nossa Lélia purpurata ganhou os mercados, diretamente de Santa Catarina, sua pátria mais afamada, para o mundo inteiro, no qual foi reconhecida e desejada, para tristeza de nossas matas litorâneas, que a viram minguar à quase completa extinção, antes de fechado aquele Século XX.

Cattleya purpurata (que ainda passou, recentemente, pelo nome de Brasilaelia purpurata, antes de ser considerada uma Cattleya) ocorria de forma abundante, desde o Rio Grande do Sul, até os limites entre Santa Catarina e Paraná, onde se interrompia sua ocorrência natural, para, de modo abrupto e ainda hoje inexplicável, reaparecer em São Paulo e, episodicamente, próximo a Paraty, no estado do Rio de Janeiro, segundo relatos fidedignos. Existem ainda suposições de sua ocorrência no Espírito Santo. Porém, em todos esses locais, representa hoje raridade botânica, em face de sua coleta desenfreada, no passado.

O mercado reconhece diversas “variedades” de Cattleya purpurata, que os iniciados chamam também, simplesmente, de “purpuratas”, passando ao largo das pendengas taxonômicas. Porém, relutamos em reconhecer genuínas variedades nessas centenas de formas, uma vez que parecem nunca ter formado populações geográficas (ver postagem - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2016/10/plantas-do-jardim-fitogeografico_9.html). Ao que tudo indica, essas muitas lindas formas, que não cessam de aparecer, ainda hoje, surgiram em cultivo e pós-coleta, podendo quando muito ser caracterizadas como “variedades hortícolas” e não realmente subespécies naturais.

Cattleya purpurata "Rio do Sul"


Acima e Abaixo - População natural de Cattleya purpurata, numa figueira, no litoral do Rio Grande do Sul


Fato é que são plantas relativamente fáceis de cultivar, trazendo muita alegria aos orquidófilos, pelos resultados fascinantes, traduzidos em florescimentos impactantes, embora não duradouros, o que talvez lhes tenha roubado espaço, nos mercados. Nesta época do ano – meio da primavera – Cattleya purpurata realmente explode em flores e alegra os cultivos. Responde bem às adubações e tolera amplos gradientes de luz, embora aprecie copiosas regas, no início da estação.


Na coleção do JARDIM FITOGEOGRÁFICOCattleya purpurata habita a estufa, principalmente, ambientando-se também, de forma gloriosa, nos galhos de algumas árvores da floresta recuperada.

Abaixo - Plantas de Cattleya purpurata, nas árvores da floresta recuperada do JARDIM FITOGEOGRÁFICO




Acima - ilustração de Cattleya purpurata de Orlando Graeff

Acima - variedade hortícola de Cattleya purpurata, cultiva na estufa do Jardim Fitogeográfico, exibindo trinta e duas flores, na estação de 2016



quarta-feira, 26 de outubro de 2016

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – BROMÉLIA AECHMEA RAMOSA

Aechmea ramosa variedade festiva

Aechmea ramosa é uma bromélia bastante comum, no Sudeste e parte do Nordeste, habitando a faixa de transição entre o clima litorâneo e as vertentes continentais da Cadeia Marítima. Parece se beneficiar das condições ecológicas que prevalecem neste encontro entre a contínua disponibilidade de umidade atmosférica e a estacionalidade climática do Brasil Central, que lhe propicia longo período seco, no meio do ano.

As plantas típicas são portentosas, podendo alcançar cerca de um metro de diâmetro, com rosetas foliares amplas e guarnecidas de densos espinhos. Instalam-se em meio às copas de grandes árvores típicas da floresta estacional semidecidual, tais como ipês, louros e outras espécies dotadas de cascas espessas e rugosas. Nestes ambientes arejados e bem expostos, emitem longas inflorescências ramificadas, com tonalidade vermelho-amarelada, ostentando incontáveis flores, que depois se transformam em palatáveis frutinhos mucilaginosos, que as aves devoram avidamente, promovendo assim sua larga dispersão.

Frestas de paredões rochosos também servem bem à instalação dessas bromélias, que podem ser vistas, com frequência, nos cortes laterais de rodovias movimentadas, como a BR040 (Rio-Juiz de Fora). É uma planta bastante útil aos amantes de aves, podendo ser cultivada, nos arboretos urbanos e jardins, para onde atrairá diversos pássaros silvestres.


Existe uma variedade descrita e mais comumente cultivada – Aechmea ramosa variedade festiva – que é natural do Espírito Santo e se trata daquela mais conhecida e cultivada, nos jardins, por seu menor porte, por sua tonalidade vinácea das folhas e pelo profuso e contínuo florescimento. Adapta-se bem a diversos gradientes de luz, embora sinta muito o sol direto, na Região Serrana, onde está situado o JARDIM FITOGEOGRÁFICO, no qual se encontra presente, desde os ambientes de rock-gardens (jardins entre pedras), até o epifítico.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

A FLORESTA RECUPERADA DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO


Bromélia ambientada na floresta do JARDIM FITOGEOGRÁFICO

Numa das primeiras postagens desta série sobre as plantas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, falamos ligeiramente sobre o projeto da FLORESTA RECUPERADA (http://orlandograeff.blogspot.com.br/2016/09/quesnelia-arvensis-bromelia-da-floresta.html ), contando que, em 2007, quando começamos a ocupara o terreno, pouco mais ali havia que restos de uma pastagem abandonada, na qual cresciam, aqui e ali, algumas arvoretas espontâneas. Apenas uma grande árvore, vestígio da mata nativa que ali deve ter um dia existido, podia ser observada no local: uma frondosa bicuíba (Virola bicuhyba – família Myristicaceae), bastante danificada, que servia de esconderijo às abelhas e prometia despencar, em pouco tempo.

A partir de 2008, efetuamos um trabalho intenso de recuperação da floresta, pondo em prática tudo o que havíamos aprendido, em muitos anos de reflorestamentos e recuperações de áreas degradadas, na Região Serrana Fluminense e Serra do Mar. O plantio de espécies nativas, acompanhado de rigorosa fertilização e correção do solo, reintroduziu espécies pioneiras, que cuidaram rapidamente de fechar o dossel da mata, restabelecendo condições adequadas, similares às das florestas nativas da região.

O trabalho com as árvores ainda segue seu curso e deverá durar muitos anos, enquanto se identificam espaços ecológicos apropriados às árvores mais nobres, que possuem crescimento mais lento e são muito mais exigentes que as pioneiras, em termos de adaptação. Algumas dessas espécies nobres, que chamamos de “definitivas”, em nossos projetos de recuperação de áreas degradadas (PRADs), dos anos 1990/2000, não conseguem ressurgir na natureza, enquanto não se fecha o coberto florestal, do qual dependem quando jovens, antes que venham a aflorar e ocupar o estrato dominante.
Outras tantas espécies nativas são estritamente adaptadas ao ambiente de sob as copas das árvores maiores, sendo-lhes impossível ressurgir sozinhas, sem que a mata esteja fechada, acima. Essas arvoretas, muitas delas palmeiras delicadas, são chamadas esciófilas, termo que significa a mesma coisa que umbrófilas, ou seja, que gostam da sombra.

O pouco que falamos acima,  por si só, explica o termo que adotamos, para caracterizar nosso projeto, no qual abrigamos nossa coleção botânica – JARDIM FITOGEOGRÁFICO. A FITOGEOGRAFIA, ramo da ciência botânica que abraçamos e que nos levou a editar o livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL – UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E CONCEITOS (NAU Editora, 2015 – ver postagem http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ), trata das vegetações e de sua distribuição geográfica. As observações das plantas, como afirmava Carlos Toledo Rizzini, um dos maiores nomes desta ciência, são imprescindíveis ao fitogeógrafo. Mas, em nosso caso, resolvemos transcender a mera observação individual das plantas e nos atirar de cheio na ecologia delas, o que não deixa de ir ao encontro dos postulados metodológicos de Rizzini.

Assim, trabalhar com o projeto do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, não apenas na floresta recuperada, mas igualmente nos jardins de campos e restingas, situados na parte mais ensolarada da coleção, ajudou e ainda ajuda bastante a conhecer os processos envolvidos na associação entre plantas, para formar vegetações. Evidentemente, a tônica deste projeto são as plantas epífitas (que vegetam agarradas às árvores), assim como outras espécies que dependem do ambiente formado pelas vegetações tropicais para crescer. São principalmente: orquídeas, bromélias, filodendros, antúrios e outras joias que deliciam os horticultores.

Centenas de espécies dessas plantas, provenientes das mais diversas partes do Brasil, nativas de florestas as mais variadas, ocupam os ambientes proporcionados pelas árvores da floresta recuperada do JARDIM FITOGEOGRÁFICO. Se considerarmos o número de exemplares, então, essas plantinhas se contam aos milhares, neste parque criado por nós. Mais de 300m de caminhos foram projetados e executados, em meio a esta floresta, proporcionando acesso fácil a cada ambiente.

O status absolutamente degradado que encontramos, tanto quanto a distância considerável de nossa floresta para os fragmentos de matas nativas existentes ao redor, autorizou-nos a trabalhar com mais liberdade, no tocante à manutenção de espécies estranhas à flora local. Não haveria qualquer perigo de invasões ao ecossistema nativo, coisa que, aliás, teremos chances de comentar, em novas postagens, mostrando ser praticamente impossível que algo assim ocorra, em florestas tropicais bem conservadas, dado não contarem com a mesma capacidade da flora autóctone para competir pelos recursos, polinizadores, dispersores e condições microclimáticas. Além do macroclima, em si, que é soberano na potencialização dessas supostas invasões.


Resumindo: a FLORESTA RECUPERADA é um jardim. Um jardim silvestre, é fato, mas ainda assim representa um experimento intensamente manejado por nós, que mantemos o controle das condições horticulturais que permitem a inúmeras dessas plantas sobreviver em nossa região. Então, se falamos de um jardim, nada mais convidativo que visitá-lo, nas imagens a seguir, produzidas HOJE, aqui na floresta recuperada do JARDIM FITOGEOGRÁFICO. Bom passeio.