Bromélia ambientada na floresta do JARDIM FITOGEOGRÁFICO
Numa das primeiras postagens desta série sobre as plantas do
JARDIM FITOGEOGRÁFICO, falamos ligeiramente sobre o projeto da FLORESTA
RECUPERADA (http://orlandograeff.blogspot.com.br/2016/09/quesnelia-arvensis-bromelia-da-floresta.html ), contando que, em 2007, quando começamos a ocupara o terreno,
pouco mais ali havia que restos de uma pastagem abandonada, na qual cresciam,
aqui e ali, algumas arvoretas espontâneas. Apenas uma grande árvore, vestígio
da mata nativa que ali deve ter um dia existido, podia ser observada no local:
uma frondosa bicuíba (Virola bicuhyba – família
Myristicaceae), bastante danificada, que servia de esconderijo às abelhas e
prometia despencar, em pouco tempo.
A partir de 2008, efetuamos um trabalho intenso de recuperação
da floresta, pondo em prática tudo o que havíamos aprendido, em muitos anos de
reflorestamentos e recuperações de áreas degradadas, na Região Serrana
Fluminense e Serra do Mar. O plantio de espécies nativas, acompanhado de
rigorosa fertilização e correção do solo, reintroduziu espécies pioneiras, que
cuidaram rapidamente de fechar o dossel da mata, restabelecendo condições
adequadas, similares às das florestas nativas da região.
O trabalho com as árvores ainda segue seu curso e deverá
durar muitos anos, enquanto se identificam espaços ecológicos apropriados às
árvores mais nobres, que possuem crescimento mais lento e são muito mais
exigentes que as pioneiras, em termos de adaptação. Algumas dessas espécies
nobres, que chamamos de “definitivas”, em nossos projetos de recuperação de
áreas degradadas (PRADs), dos anos 1990/2000, não conseguem ressurgir na
natureza, enquanto não se fecha o coberto florestal, do qual dependem quando
jovens, antes que venham a aflorar e ocupar o estrato dominante.
Outras tantas espécies nativas são estritamente adaptadas ao
ambiente de sob as copas das árvores maiores, sendo-lhes impossível ressurgir
sozinhas, sem que a mata esteja fechada, acima. Essas arvoretas, muitas delas
palmeiras delicadas, são chamadas esciófilas, termo que significa a mesma coisa que umbrófilas, ou seja, que gostam da
sombra.
O pouco que falamos acima,
por si só, explica o termo que adotamos, para caracterizar nosso
projeto, no qual abrigamos nossa coleção botânica – JARDIM
FITOGEOGRÁFICO. A FITOGEOGRAFIA, ramo da ciência botânica que
abraçamos e que nos levou a editar o livro FITOGEOGRAFIA DO BRASIL – UMA ATUALIZAÇÃO DE BASES E
CONCEITOS (NAU Editora, 2015 – ver postagem http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/10/o-livro-fitogeografia-do-brasil-uma.html ), trata das vegetações
e de sua distribuição geográfica. As observações das plantas, como afirmava Carlos Toledo Rizzini, um dos maiores
nomes desta ciência, são imprescindíveis ao fitogeógrafo. Mas, em nosso caso,
resolvemos transcender a mera observação individual das plantas e nos atirar de
cheio na ecologia delas, o que não deixa de ir ao encontro dos postulados
metodológicos de Rizzini.
Assim, trabalhar com o projeto do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, não
apenas na floresta recuperada, mas igualmente nos jardins de campos e
restingas, situados na parte mais ensolarada da coleção, ajudou e ainda ajuda
bastante a conhecer os processos envolvidos na associação entre plantas, para
formar vegetações. Evidentemente, a tônica deste projeto são as plantas epífitas (que
vegetam agarradas às árvores), assim como outras espécies que dependem do
ambiente formado pelas vegetações tropicais para crescer. São principalmente: orquídeas,
bromélias, filodendros, antúrios e outras joias que deliciam os horticultores.
Centenas de espécies dessas plantas, provenientes das mais
diversas partes do Brasil, nativas de florestas as mais variadas, ocupam os
ambientes proporcionados pelas árvores da floresta recuperada do JARDIM
FITOGEOGRÁFICO. Se considerarmos o número de exemplares, então, essas
plantinhas se contam aos milhares, neste parque criado por nós. Mais de 300m de
caminhos foram projetados e executados, em meio a esta floresta, proporcionando
acesso fácil a cada ambiente.
O status absolutamente degradado que encontramos, tanto
quanto a distância considerável de nossa floresta para os fragmentos de matas
nativas existentes ao redor, autorizou-nos a trabalhar com mais liberdade, no
tocante à manutenção de espécies estranhas à flora local. Não haveria qualquer
perigo de invasões ao ecossistema nativo, coisa que, aliás, teremos chances de
comentar, em novas postagens, mostrando ser praticamente impossível que algo
assim ocorra, em florestas tropicais bem conservadas, dado não contarem com a
mesma capacidade da flora autóctone para competir pelos recursos, polinizadores,
dispersores e condições microclimáticas. Além do macroclima, em si, que é
soberano na potencialização dessas supostas invasões.
Resumindo: a FLORESTA
RECUPERADA é um jardim. Um jardim silvestre, é fato, mas ainda assim
representa um experimento intensamente manejado por nós, que mantemos o
controle das condições horticulturais que permitem a inúmeras dessas plantas
sobreviver em nossa região. Então, se falamos de um jardim, nada mais
convidativo que visitá-lo, nas imagens a seguir, produzidas HOJE, aqui na
floresta recuperada do JARDIM FITOGEOGRÁFICO. Bom passeio.
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