domingo, 18 de fevereiro de 2018

ORGANIZANDO UMA COLEÇÃO DE PLANTAS – PARTE III – O MAPA DO TESOURO



Acima - Vista ao entardecer do Jardim Fitogeográfico


Tudo bem. Você acompanhou nossas sugestões de como “dar entrada” de uma nova planta em sua coleção; e depois de como manter suas plantas no lugar onde você mora, ou trabalha (se for uma instituição). Viu como organizar o cadastro de suas joias botânicas (postagem - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2017/12/organizando-uma-colecao-de-plantas.html ), numerando-as e catalogando-as, para que nunca mais se percam os preciosos dados e a história de cada plantinha. Depois, conheceu a maneira como mantemos as plantas aqui no Jardim Fitogeográfico (postagem - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2018/02/organizando-uma-colecao-de-plantas.html), onde temos como objetivo, além de acompanhar as espécies, individualmente, a contínua observação de como interagem com o meio, em cópias jardinoculturais de seus habitats naturais. Mas, deve estar se indagando: - Como vou localizar minhas joias botânicas, no meio desses jardins?

Que tal conhecer nossa metodologia? Devo adiantar que, em vista de minha natureza artística, você não encontrará aqui aqueles incríveis infográficos, muito menos recomendações de softwares avançados, baseados em complexos sistemas computacionais. Não, aqui no Jardim Fitogeográfico, você observará a mais fundamental aplicação da arte na ciência. Aliás, deixem-me dizer: nada tenho contra a modernidade da informática. Mas, por essência, valorizo a ARTE e prometo que ainda lhes vou explicar isso melhor, numa outra postagem, na qual falarei sobre ARTE, CIÊNCIA E PAISAGEM.

AS PLANTAS NA ESTUFA: Já falei, anteriormente, vão de etiquetas e simples conferência, de tempos em tempos, nada mais. Só reforço a ideia de que suas etiquetas sejam rigorosamente acompanhadas, para evitar equívocos com trocas acidentais de identidades ou perdas de etiquetas. No mais, cada um poderá desenvolver seus próprios sistemas e materiais.

AS PLANTAS NOS CANTEIROS E JARDINS: Lembram-se daqueles canteiros, que mostramos aqui, na postagem anterior? Então, imagine como é que a gente consegue saber qual planta é qual, em meio a tanta diversidade? Pois bem, a cada cerca de dois anos, dependendo do andamento das coisas, realizamos um meticuloso recadastramento dos canteiros, conferindo se as plantas ainda estão vivas (usualmente estão!) e, em determinados casos, transferindo-as para outros canteiros, onde encontrarão melhores condições para cada espécie. São feitos croquis e tiradas fotos, registrando a condição naquele instante, seguindo-se a elaboração de desenhos em planta-baixa, não necessariamente em escala definida. Esses desenhos trazem a localização de cada espécie, acompanhada de seu nome e numeração na coleção.

Ao longo do tempo, havendo alterações nesta localização ou até mesmo retirada ou morte de exemplares, são efetuadas anotações, que são averbadas nos desenhos, ou mesmo anotadas na listagem geral. Assim, quando chegar a época de novo recadastramento (o que está ocorrendo exatamente agora, no Jardim Fitogeográfico), essas eventuais alterações serão consideradas, na elaboração de novos croquis e desenhos.

TODOS OS CANTEIROS E JARDINS SÃO FOTOGRAFADOS, POR OCASIÃO DO RECADASTRAMENTO, GERANDO REGISTRO DE SUA SITUAÇÃO E FACILITANDO A LOCALIZAÇÃO DAS PLANTAS.

Veja adiante exemplos de canteiros cadastrados no JARDIM FITOGEOGRÁFICO, em acordo com a metodologia descrita:


Acima - planta esquemática de um canteiro do Jardim Fitogeográfico, segundo cadastro recente
Abaixo - o mesmo jardim, em fotografia atualizada


A Seguir - A mesma sequência desenho-planta-baixa / fotografia de outro canteiro - o Canteiro Sudoeste




AS PLANTAS NO ARBORETO: Na postagem – A Floresta Recuperada do Jardim Fitogeográfico (link - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2016/10/a-floresta-recuperada-do-jardim.html), você poderá conferir a origem do arboreto, que nada mais era, em 2008, que um capinzal, com algumas poucas árvores espontâneas, na parte posterior de nossa residência, onde está situado o projeto do Jardim Fitogeográfico. Hoje, forma uma bela floresta, comportando grande parte da coleção de bromélias e outras plantas epífitas. Existem aí DOIS SISTEMAS DE CONTROLE, que se interconectam: 1) CADASTRO DE ÁRVORES-SUPORTE (FORÓFITOS) ; 2) CADASTRO DOS CAMINHOS, no qual são registrados tanto a posição das árvores-suporte numeradas, quanto as plantas encanteiradas no solo, ao longo das trilhas.

Assim como ocorre no caso dos canteiros, anteriormente referidos, tudo isso é registrado em fotografias, para ajudar no cruzamento de dados, que permitirá melhor localização e controle das plantas. Veja a seguir exemplos de como são feitos o registro das árvores-suporte e dos caminhos em geral.


Acima - croquis cadastral da árvore-suporte 07 (A07)
Abaixo - imagem recente deste forófito A07 - uma pitangueira, aliás, excelente árvore-suporte



Adiante - sequência similar, que mostra as árvores-suporte A22 e A23, uma aroeirinha e uma capororoca, respectivamente, com suas hóspedes bromélias e orquídeas




Abaixo, exemplo de cadastro de um trecho da Aleia Ivo Penna (nome dado em homenagem ao arquiteto-botânico Ivo de Azevedo Penna, grande amigo, falecido há pouco tempo)




Você poderá eleger seu próprio sistema de organização, ou criar você mesmo, de acordo com suas habilidades e seu conhecimento. Mas, nunca se esqueça da importância que sua coleção poderá ter para a ciência e a cultura. Já vi inúmeras coleções desaparecerem, até mesmo as minhas! A perda é inegável, para a natureza, porque as plantas deixaram de estar nos habitats, para desempenhar suas funções ecológicas; e para a cultura e ciência, porque o conhecimento não deixou nada para as futuras gerações. Então, cuide bem de suas plantas e de sua coleção.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

ORGANIZANDO UMA COLEÇÃO DE PLANTAS – PARTE II: MANTENDO SUAS PLANTAS




Canteiro Sudoeste do Setor Muro Dianteiro do Jardim Fitogeográfico, em Petrópolis, Rio de Janeiro


Na postagem anterior – ORGANIZANDO UMA COLEÇÃO DE PLANTAS – PARTE I: CADASTRANDO EXEMPLARES (POSTAGEM: http://orlandograeff.blogspot.com.br/2017/12/organizando-uma-colecao-de-plantas.html  ) – mostramos a você como fazer para cadastrar as plantas obtidas, de forma a tornar mais organizada e cientificamente válida sua coleção. Falamos sobre numeração das plantas e sua indexação, de modo a jamais perder as informações fundamentais sobre a espécie que entrou em seu valioso acervo.

Lembre-se de que recomendamos que suas coletas na natureza, se forem realmente necessárias, não contribuam para o desaparecimento das espécies, que representam justamente aquilo que você mais ama. Prefira extrair-lhes um propágulo (uma ponta, offshot ou broto lateral), evitando sempre arrancar plantas únicas, em flores ou frutos, para permitir que elas possam de multiplicar em seu meio. Não arranque ou extraia plantas para vender ou fornecer a terceiros; não leve mais que o necessário para seu posterior cultivo e identificação na coleção; se possível, sendo habilitado para isso, proceda à coleta de um ramo fértil (galho florido) e sua posterior herborização, para depósito num herbário de instituição científica; faça boas fotografias e anote tudo o que disser respeito às condições ecológicas da população dessa planta e da comunidade vegetal em que vive.

TUDO ISSO SERÁ MUITO MAIS IMPORTANTE PARA A CIÊNCIA DO QUE A MERA POSSE DA PLANTA, QUE SOMENTE SATISFARÁ SUA VAIDADE DE COLECIONADOR.

Bem, uma vez tendo obtido sua planta – E TORÇO PARA QUE TENHA PREFERIDO GANHÁ-LA OU ADQUIRI-LA POR MEIOS LEGAIS – será hora de escolher a forma como ela será mantida em sua coleção. Você poderá cultivá-las em vasos ou potes, em local apropriado (uma estufa ou casa de vegetação, por exemplo); ou poderá mantê-las em canteiros, ou amarradas às árvores, se forem epífitas; ou entremeadas a pedras ou tocos, se forem plantas saxícolas; ou ainda mesmo afixá-las a superfícies de rochas, se forem plantas rupícolas. Mas, espere aí, o que são plantas epífitas, rupícolas ou saxícolas?

EPÍFITAS: plantas que vegetam agarradas aos galhos ou troncos de outras plantas (principalmente árvores). Usualmente, não são parasíticas, ou seja, apenas utilizam esses locais para atingir a luz e buscar nutrientes, a partir da poeira atmosférica e/ou aerossóis naturais. Orquídeas e bromélias são as mais famosas. Mas, há aráceas, cactáceas, begoniáceas, gesneriáceas, enfim diversas outras que podem mostrar hábitos epífitas, ou epifíticos.

Acima – bromélia Aechmea distichantha vegetando como epífita, na floresta mista de araucárias, em Campos do Jordão, SP


RUPÍCOLAS: plantas que crescem sobre as pedras, utilizando-as exatamente para a mesma finalidade que vimos nas epífitas.

Acima – bromélias Tillandsia tenuifolia com hábitos rupícolas ou litofíticos, num afloramento de rocha granítica, em Milagres, na Bahia



SAXÍCOLAS: embora muito se confundam com as RUPÍCOLAS, as plantas saxícolas vegetam ENTRE pedras, ou depósitos de solos rochosos, metendo suas raízes de entremeio aos blocos e o material terrosos ali depositado.




Acima – belas plantas de Dyckia sp. (Bromeliaceae) crescendo em ambiente saxícola, na Serra Azul, Barra do Garças, Mato Grosso

Então, conhecendo os ambientes em que suas plantas podem crescer na natureza, além do próprio solo, de forma geral, como você acha que seria interessante mantê-las, em sua coleção? Bem, já mencionamos os próprios vasos, de modo geral, que você poderá manter em estufas, ou locais com microclima adequado e semelhante àquele em que elas vegeta, na natureza. Mas, no caso de nosso projeto do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, em que tentamos investigar e reproduzir as relações ecológicas das plantas, nos ecossistemas, optamos por outros dois modos de manter as plantas, além é claro da estufa.

CANTEIROS E JARDINS DE ÁREAS CAMPESTRES OU ABERTAS:

São aqueles nos quais cultivamos as plantas provenientes de campos rupestres, campos de altitude, restingas e vegetações de natureza rupestre. São geralmente BROMÉLIAS, ORQUÍDEAS, CACTÁCEAS, ARÁCEAS (principalmente dos gêneros Philodendron e Anthurium) e, em alguns casos, de VELOSIÁCEAS. Praticamente todas essas plantas são provenientes de ambientes extremamente iluminados e arejados, onde formam complexas comunidades botânicas, em que tomam parte plantas terrestres, tais como CLUSIÁCEAS, MORÁCEAS, MIRTÁCEAS e outras arvoretas e arbustos muito tolerantes às condições extremas desses ecossistemas. Nesses canteiros buscamos imitar as paisagens naturais, aprendendo muito com isso sobre as relações entre essas plantas, assim como à própria horticultura a elas relacionada.

VEJA A SEGUIR ALGUNS DOS CANTEIROS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO:







O ARBORETO:

Grande parte das plantas da coleção do JARDIM FITOGEOGRÁFICO pertencem às famílias botânicas BROMELIACEAE e ORCHIDACEAE, caracterizando-se por espécies fundamentalmente epífitas, embora muitas delas apresentem hábitos alternativos, sendo também encontradas no solo, ou nas rochas. Assim, ao mesmo tempo em que reflorestamos uma área de quase 6.000m2, na encosta abaixo da residência, além de mais algumas centenas, numa área de reserva florestal lindeira, começamos a cultivar nossas plantas diretamente nos troncos e galhos das árvores nativas pré-existentes e de algumas daquelas que plantamos. Esta área, cortada por algumas centenas de metros de trilhas e aleias, é chamada de ARBORETO.

O cultivo de plantas no ARBORETO é complexo e trabalhoso, principalmente por causa do contínuo crescimento das árvores-suporte, assim como de outras tantas, que surgem de forma espontânea, produto da regeneração da flora local. Essa gradual evolução do stand florestal determina alteração constante do mapa de sombras e da microclimatologia, ocasionando consequentes mudanças nas condições de cada espécie. Mas, de modo geral, os resultados têm sido gratificantes, ajudando a mostrar de que forma essas plantas se adaptam à complexidade natural de seus ecossistemas. Enfim, é um maravilhoso desafio.

OBSERVE COMO SÃO MANTIDAS AS PLANTAS EPÍFITAS, NO ARBORETO, ASSIM COMO AS TERRESTRES DE HÁBITOS FLORESTAIS:






MAS, CUIDADO! NÃO É APROPRIADO INSERIR ESPÉCIES EXÓTICAS OU ESTRANHAS À FLORA LOCAL, QUANDO VOCÊ TIVER UMA FLORESTA NATIVA CONSERVADA! Elas poderão invadir o restante da mata e concorrer com as plantas nativas, fazendo-as desaparecer. Em nosso caso, o JARDIM FITOGEOGRÁFICO, assim como a reserva florestal lindeira, representam fragmento ressurgente de vegetação, em área isolada das demais florestas, onde somente havia antes pastagens e capoeiras.

Em nossa próxima postagem, vamos comentar o que fazemos para ORGANIZAR A COLEÇÃO, sem perder a identidade e a localização de nossas tantas plantas