a raríssima águia-cinzenta sobrevoando a RPPN Graziela Maciel Barroso
No final da Década de 1990, surgia o Condomínio Quinta do
Lago, agregando conceito absolutamente novo, na conservação da
natureza: ultrapassando a mera obrigação legal de manter uma reserva florestal
(reserva legal), prevista em lei, os empreendedores decidiram ir além, muito
além, espontaneamente reconhecendo suas reservas como RPPN – reserva particular do patrimônio natural. Deixava-se para
trás a mera obrigação, para assumir-se a VONTADE de conservar a natureza.
Foi nessa época que conheci o local, convidado a trabalhar
para o reconhecimento dessa RPPN e também para elaborar seu primeiro plano de
manejo. Havia participado ativamente das discussões oficiais sobre RPPNs, que
tomavam fôlego, trabalhando também para reconhecer outras importantes unidades,
como a RPPN da Fazenda Limeira, na
Serra da Maria Comprida. Mas, seria a primeira vez que um projeto de urbanismo
incorporava essa política como parte de seus propósitos. RPPNs
são autodeclaradas, e não atos impostos por decreto. É preciso que
seus proprietários desejem cria-la, por moto próprio. Enfim, é necessário que
acreditem na conservação da natureza.
A ideia foi “soprada” pela Bióloga Yara
Valverde, que então chefiava a APA-Petrópolis (Área de Proteção
Ambiental de Petrópolis – unidade de conservação federal, que engloba toda a
região) e pela Dra. Denise Tarin,
Promotora de Justiça, que coordenava a Procuradoria de Meio Ambiente de
Petrópolis. Os empreendedores pegaram imediatamente, enxergando nisso, não
apenas um nobre propósito, mas também poderosa ferramenta de marketing: como
não se seduzir pela ideia de morar num condomínio e ajudar a proteger a
natureza, as espécies da fauna e da flora?
Foram alguns anos de luta, por parte dos empreendedores,
para ver definitivamente reconhecida sua RPPN. Não havia precedentes de
reservas particulares do patrimônio natural reconhecidas por condomínios.
Quando já seguia para definitiva homologação, pelo Poder Público, tivemos a
ideia de mudar o nome da RPPN para RPPN Graziela Maciel Barroso, em justa homenagem à grande
Botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que morrera
recentemente, tendo trabalhado duro, até seus 94 anos, naquela importante
instituição científica. Ocorre que a RPPN Graziela Maciel Barroso protege duas
espécies da flora criticamente ameaçadas – uma amarilidácea conhecida como
rabo-de-galo (Worsleya procera); e uma minúscula bromélia litofítica que
somente existe na localidade: Tillandsia
grazielae.
A saudosa Dona Grazi, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro
acima - Worsleya procera (Amaryllidaceae) - rabo-de-galo
acima - a minúscula bromélia litofítica Tillandsia grazielae
Ao publicar a nova espécie de bromélia, anos antes, os
naturalistas Sucre e Braga lhe deram o nome específico em homenagem à Dra.
Graziela Maciel Barroso. Pessoalmente, iniciara minha vida de naturalista e
botânico, no meio da Década de 1970, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
pelas mãos atenciosas da Dra. Grazi, como era conhecida.
Somando-se a isso o fato que Tillandsia grazielae somente ocorre
nas rochas que afloram na RPPN, pensamos todos em fazer esta oportuna
homenagem. Nascia, no início dos anos 2000, a RPPN Graziela Maciel Barroso.
Elaboramos seu PLANO DE MANEJO, que foi um dos primeiros a
serem apresentados, para este tipo de reserva - RPPN. Desde então, inúmeros
programas de manejo, relacionados à RPPN Graziela Maciel Barroso, foram
conduzidos pelos gestores do Condomínio: proteção e prevenção contra os
temíveis incêndios criminosos, que anualmente assolam a região e sua vida
silvestre; reflorestamentos e recuperação ambiental de margens de rios e
encostas (inclusive fora dos limites formais da RPPN); projetos de educação e
incentivo, em comunidades de entorno. Numa dessas comunidades carentes, o Vale
do Carangola (antigamente conhecido como Sertão do Carangola), o Condomínio
promoveu a regularização fundiária e delimitação de reserva florestal, em
consórcio com a Prefeitura de Petrópolis, o que representou notável avanço
social e ambiental.
Pedra da Maria Comprida - avistada da RPPN Graziela Maciel Barroso
Mas, havia um hiato fundamental, na história
conservacionista da RPPN Graziela Maciel Barroso, algo que destoava imensamente
dos principais propósitos deste tipo de unidade de conservação: NÃO HAVIA USO
PÚBLICO! NÃO EXISTIA VISITAÇÃO DE SUAS ÁREAS SILVESTRES! O Plano de Manejo da reserva, elaborado no início
da Década de 2000, apontava o desenvolvimento de um atraente sistema de trilhas
ecológicas, que serviriam para a visitação contemplativa e interpretativa de
belas linhas de cumeada, atravessando florestas conservadas, onde a flora e a
fauna estariam protegidas.
A potencialidade existia, não somente pela presença de
espécies raras da flora, citadas anteriormente, mas pela inegável beleza dos
cenários, encontrados na zona de alta montanha, onde se destaca o pico do Seio de
Vênus, histórico destino de naturalistas do Século XIX. Mas, havia algo no ar,
desde o reconhecimento da RPPN, que indicava certa retração das tendências
ecoturísticas na sociedade: mudanças filosóficas, que novamente distanciavam a
sociedade da contemplação da natureza, se juntaram ao lamentável declínio
econômico, que puxava junto o clima de insegurança urbana.
Assim, ao invés de se abrir à contemplação ambiental, a RPPN
Graziela Maciel Barroso viveu certo isolamento, enquanto se fechava
progressivamente a inter-relação entre ela e seu entorno: visitação poderia
significar descontrole e insegurança, o que não deixava de ser verdade, haja
vista a já referida queda de interesse das camadas mais cultas da sociedade
pela contemplação da vida silvestre. Que tipo de visitantes esperar, em trilhas
montanhosas, numa conjuntura como essa? Muitos belos projetos de ecoturismo,
espalhados pelo Brasil, entraram em estagnação, alguns até em decadência,
enquanto o interesse dos turistas se voltava mais às aventuras, esportes
radicais, ou viagens internacionais.
Foi quando despontou, no horizonte, promissora tendência,
que vem se transformando hoje numa onda muito positiva, que é a CONTEMPLAÇÃO DE
AVES, mais conhecida pelo verbete em inglês: BIRDWATCHING. O Brasil – Petrópolis em destaque – integra uma série
de destinos mundiais notáveis para a observação de aves, na natureza. Torna-se
fácil entender a relação entre a biodiversidade de plantas, que aludíramos
antes, e a riqueza de aves, que se observa em locais como a Floresta Atlântica –
onde se encontra situada a RPPN Graziela Maciel Barroso.
O longo “inverno” de manejo ecoturístico da RPPN Graziela
Maciel Barroso começou a ser rompido por esta “primavera” trazida pelo
BIRDWATCHING, no final de 2016, quando fomos contatados pelo CONSÓRCIO PASSARINHO, integrado por duas empresas de
consultoria ambiental, cuja missão consistia na implementação de um projeto de
fortalecimento das RPPNs do Rio de Janeiro, tendo como mote fundamental
exatamente o AVISTAMENTO DE AVES. O
referido projeto, com suporte do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e chancela do INEA (Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro), foca em
duas frentes principais: atualização dos Planos de Manejo das RPPNs
(elaboração, em casos de reservas que não contem com ele); publicação de um
guia de RPPNs e Parques com potencial para BIRDWATCHING.
garça-real na RPPN Graziela Maciel Barroso
O apogeu deste projeto ocorrerá em meados deste novo ano –
2017 – quando está prevista a publicação do guia de unidades de conservação com
potencial para avistamento de aves. O BIRDWATCHING é atividade que
evidentemente transcende a diversão, uma vez que prevê uma densa iniciação, que
atrai famílias inteiras. Curiosamente, as aves exercem atração da qual poucas
pessoas conseguem escapar, depois de experimentar sua aproximação. Conheça um
pouco mais sobre BIRDWATCHING no link - https://en.wikipedia.org/wiki/Birdwatching.
O site WIKIAVES (http://www.wikiaves.com.br/ ) é a bíblia dos observadores de
aves, que se congregam em clubes ou associações. Uma das mais célebres é o COA – Clube dos Observadores de Aves,
que congrega pessoas de todas as idades e gêneros (COA:http://www.coa-rj.com/ ). Evidentemente, o
BIRDWATCHING não é atividade muito barata, uma vez que o aficionado acaba se
obrigando a se equipar com binóculos, câmeras, lentes avançadas, livros e
roupas. Além disso, os destinos não costumam ser muito fáceis de serem
frequentados, seja pela distância, seja pela exclusividade. Mas, não restam
dúvidas: é uma atividade geradora de importantes recursos, para as RPPNs,
pousadas e parques que se dedicam a receber os observadores de aves.
A RPPN Graziela
Maciel Barroso, por contar com excelente infraestrutura, vem participando
dos estudos que atualizarão seu Plano de Manejo, mirando nesta promissora
modalidade turística e cultural. Ainda há muito chão pela frente, bastante
reflexão e discussão a ser feita, no ambiente condominal, de forma a ajustar
pontos e estabelecer diretrizes. Mas, a semente foi plantada e, a julgar pela
quantidade de aves, que habitam a reserva, sustentadas por sua natureza
pujante, estamos diante de um ponto estratégico. Somente no projeto do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, que todos conhecem bem, situado
na RPPN Graziela Maciel Barroso e abrigando cerca de MIL ESPÉCIES DE PLANTAS, entre a coleção botânica e sua floresta
recuperada, já foram catalogadas, de modo preliminar, mais de SESSENTA AVES diferentes. O que não
esperar das florestas de altitude da RPPN?
acima - maracanãs na floresta recuperada do Jardim Fitogeográfico
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