terça-feira, 4 de agosto de 2015

UM TANNAT DA SERRA DA CANASTRA – MG – ENFRENTA SEU PRIMO GAÚCHO: RELENA 2013 RESERVA x MIOLO 2013 RESERVA

Quando estive na Serra da Canastra, Minas Gerais, em abril de 2015, para mais uma memorável aventura de conhecimento de sua natureza singular (ver postagem do blog Expedição Fitogeográfica: http://expedicaofitogeografica2012.blogspot.com.br/2015/06/uma-nova-visita-serra-da-canastra-maio.html ), fui agraciado com uma surpresa. Meu guia e amigo Elossandro Coelho, um apaixonado por tudo que a região tem a oferecer, me presenteou com uma garrafa de vinho. Calma, não era um simples presente de fornecedor a cliente, daquele tipo de garrafa de vinho que a gente compra, coloca numa caixinha, com lacinho de fita e cartão de agradecimento. Não, não era nada disso:

- Trouxe aqui um vinho aqui da Serra da Canastra, de São João Batista do Glória, para você experimentar e dizer se gosta, disse-me Elossandro. Fiquei surpreso, não posso negar. Vinho, na Serra da Canastra? Vinhos, em Minas Gerais, já me deixariam um tanto descrente, talvez pelo simples fato de que não são e nem nunca foram tradição deste estado. Na Serra da Canastra, então... Que dizer? Quem conhece a região entenderá: lugar paradisíaco, de inigualáveis belezas naturais, nascente do rio São Francisco – o Velho Chico – e terra de gente simples, com aquele jeitinho tipicamente mineiro. Jamais esperaria encontrar uma vinícola, na Serra da Canastra, tradição usualmente ligada a imigrantes europeus e principalmente arraigada aos estados do sul.

Viajantes do Século XIX já diziam ter encontrado parreiras de uvas na região, assim como garrafas de vinho produzido por seus primeiros habitantes. Mas, isso se perdera no passado e seria mais que esperado que eu me surpreendesse com um... Vinho da Serra da Canastra, em pleno Século XXI. Meu amigo sabia disso e se adiantou em explicar: Tratava-se de uma pequena vinícola mantida por certa pessoa de fora da região, uma tentativa de introduzir a vinicultura na região, uma experiência levada a sério, segundo ele.

Sabedor de meu gosto por vinhos e, principalmente, pelas condições ecológicas em que eles são criados – terroir –, Elossandro resolveu me oferecer o presente, esperançoso de que eu me manifestasse sobre os resultados. Muito bem! Por que não? Peguei a garrafa do Relena Tannat – 2013 – Reserva e indaguei: - Posso levar e experimentar em casa? E mais, posso ser sincero, ao relatar os resultados? Diante da concordância com essas “rígidas” condições, trouxe a valiosa garrafa canastrense e, passados alguns meses, em condições apropriadas, realizei o teste.

A Serra da Canastra é uma grande superfície de cimeira, um platô elevado a mais de 1.200m, que representa importante divisor de águas e climas. Ela se estende aproximadamente de sudeste a noroeste, possuindo em sua área mais central ao menos duas cristas semiparalelas, que barram as massas de ar que advêm do planalto paulista, no qual domina a bacia do rio Grande, que corre ao Paraná. Para além dessa influência determinante, a norte-nordeste, estendem-se os domínios do Cerrado, no Triângulo Mineiro. Em seus limites mais a sudeste, nascem as águas do Velho Chico, partindo do topo da Canastra, para se derramarem pujantes na famosa cachoeira da Casca D’Anta.

Pois é naquela face voltada ao rio Grande, na vertente do chamado Chapadão da Babilônia, uma das duas cristas paralelas da Canastra, que se encontra situada a localidade de São João Batista do Glória, com altitudes da ordem dos 700-800m, onde se instalou a vinícola Relena, com parreirais pequenos e, segundo Elossandro, muito bem conduzidos. Há que se considerar que essa climatologia deve se prestar bem ao cultivo de uvas vinícolas, em função do efeito climático da barreira da Canastra e das temperaturas relativamente frias do inverno.



Acima - Serra da Canastra, um novo terroir em Minas Gerais?
Abaixo - Cachoeira Casca D'Anta, nascente do rio São Francisco, despencando da Serra da Canastra


Nossa experiência com o Tannat 2013 Reserva da Relena não poderia ser de forma mais instigante: Qual seriam as referências para um vinho produzido em pleno Brasil Central, sem contar ele com qualquer outro vinho notável, produzido na região? Estávamos falando de vinhos finos, descartando-se, obrigatoriamente, experiências menos sofisticadas, tais como aquelas que já ocorreram nalgumas partes de São Paulo. As uvas Tannat são provenientes do sul da França, mas ficaram especialmente famosas, no Novo Mundo, ao se consagrarem como típicas do Cone Sul, sendo o Uruguay, nos dias atuais, a pátria desses tintos poderosos.

Vinhos Tannat costumam ser potentes e encorpados, sendo seus taninos expressivos sua principal e desejável característica. Considerando-se a natureza da dieta uruguaia, na qual abundam carnes de primeira linha, destacando-se seus contrafilés muito gordos e suas ovelhas, explica-se a razão do forte investimento de suas vinícolas em bons Tannats, para fazer frente a tanta proteína e gordura. Rótulos célebres, como Bouza, Pisano, Don Pascual e Stagnari fizeram a fama dos uruguaios e se firmaram como itens obrigatórios, nas melhores caves. Mas, seria justo ter como referência ícones deste calibre, ao se avaliar o Tannat da Serra da Canastra?

Bem, devemos ter em conta que também o Brasil vem produzindo Tannats de boa qualidade, especialmente na chamada região da Campanha Gaúcha, bem lá na fronteira entre Rio Grande do Sul e Uruguai, onde alguns platôs tabuliformes, velhos planaltos de arenito, sediam vinícolas de porte, entre elas a célebre Miolo, que tem firmado internacionalmente o nome da vinicultura gaúcha. Aí estava a solução, para nosso teste comparativo: justapor dois vinhos brasileiros Tannat, preferencialmente produzidos no mesmo ano e sob processos similares.

Luiz Tomás Graeff nos trouxe do Rio Grande do Sul uma garrafa do Miolo Tannat 2013 Reserva. Estava lançado o desafio: um teste comparativo entre um vinho reconhecido no mercado, que encontraria consumidores em qualquer parte e que poucos recusariam mérito, e nosso novo Tannat canastrense, de São João Batista do Glória. Reunimo-nos em três apreciadores de bons vinhos, cada um com seus conceitos particulares e, sem dúvida, bem acostumados a apreciar juntos os mais diversos vinhos, sempre sustentando seus pontos de vista: Rosnéri (Méri) Copetti, Philip Shores e eu, sendo auxiliados pela cuidadosa Bárbara Graeff, uma abstêmia convicta, mas excelente organizadora.


Acima - Bebendo vinhos e opinando: Méri, Orlando e Philip
Abaixo - Os vinhos testados, juntamente com o queijo canastra e o culatello




O teste não tinha objetivos meramente técnicos, haja vista nenhum de nós ser profissional e sendo todos simples amantes de bons vinhos, que usualmente bebemos com a alma, não apenas com nossas mal treinadas papilas gustativas. Os dois vinhos foram abertos sem nossa presença, sendo numerados, assim como as duas taças que cada um de nós recebeu, para realizar a degustação. Vinho 1 e vinho 2... Era tudo que sabíamos sobre eles, ao recebê-los em nossa mesa.

Como não poderia deixar de ser, os dois vinhos também passariam por duas harmonizações importantes: uma delas, com caráter carregado de simbolismo, seria realizada acompanhada de queijo Canastra que eu trouxera de São Roque de Minas, fabricado pelo lendário Sr. Zé Mário (ou seja, o melhor queijo do Brasil – um queijo canastra), juntamente com um perfeito culatello (coração de pernil), irmão mais perfeito do presunto de Parma, fabricado no Rio Grande do Sul, no Planalto Médio; a segunda harmonização, como não poderia deixar de ser, seriam duas lindas e suculentas peças de fraldinha e alcatra, assadas na brasa.

Cerca de uma hora separaria esses dois testes, tendo sido novamente degustados, bem mais tarde, à noite, após boas horas abertos e repousando em suas próprias garrafas. Anotamos e debatemos alguns critérios relacionáveis à variedade. Nossa primeira impressão, sem sabermos o que bebíamos, mas posteriormente informados, foi a seguinte:


Taninos: No primeiro momento, o Relena passou aos meus dois comensais a impressão de superioridade, enquanto eu atribuía ao Miolo maior força, por conta de um inequívoco ataque, talvez em face de certa acidez. Contudo, já na segunda prova, na hora de enfrentar a carne, minha impressão modificara um pouco e já se expressavam com pouco mais de potência no Relena, embora tenha eu atribuído “leveza”.


Final: Méri não apreciou muito o final do Miolo, preferindo o Relena, enquanto Philip atribuiu uma permanência pouco maior ao vinho gaúcho, o que viria ao encontro de minhas impressões, que reconheciam, até a segunda prova, longo final ao Miolo, embora o Relena viesse avançando, até ali.


Frutas: Tannats são de caráter usualmente frutado e ambos não escondiam isso. Talvez, o maior ataque por mim atribuído ao Miolo viesse exatamente do cruzamento de suas frutas ácidas, ainda muito presentes, com seus taninos. Méri reconheceu frutas muito fortes no gaúcho, por ser caráter que ela não costuma apreciar tanto, nos vinhos brasileiros, de forma geral. Minha comensal valoriza bastante a maturidade dos vinhos italianos, especialmente toscanos de guarda, supertoscanos e franceses Bordeaux, muito embora tenha grande paixão pelos Tannats uruguaios, advindos dos solos férteis de Montevideo ou Salto. Philip “enxergou” perfumes fortes no Miolo, que não escondia sua relativa imaturidade na garrafa.


Corpo: Todos foram unânimes em não atribuir muita expressão aos corpos de ambos os tintos, por ocasião de sua abertura, coisa que não se alterou significativamente, mesmo uma hora após abertos. O Relena revelava mais espuma que o Miolo.


Coloração: Uma coloração mais intensa foi logo notada no Miolo, embora se tornasse um pouco difícil separá-los, quando justapostos. Cruzada com os corpos de ambos, percebia-se menor densidade do que aquela usualmente notada, por exemplo, nos uruguaios, assim como em outros Tannats da Campanha (RS). Méri e Philip observaram que o Miolo havia intensificado seu corpo, na segunda prova, resultando lágrimas mais duradouras, enquanto saboreávamos as deliciosas carnes, vindas do braseiro escaldante.


Harmonização: Méri não teve dúvidas em atribuir melhor harmonização do Relena com os queijos, mormente o Canastra (lembrando que não sabíamos de suas identidades, até então). Sua sensibilidade para a complexidade dos vinhos, tanto quanto sua percepção de harmonização, sempre se revelou superior à minha, o que a torna mais apta para esta avaliação. Ao saborear o Miolo, juntamente com as fatias de carne mal passada, achei-o mais efetivo, certamente por conta de seu ataque e permanência na boca. Mas, devo admitir: o Relena não fez feio, muito pelo contrário!


Mas, seria a terceira degustação, realizada bem mais tarde, algumas horas após abertos, aquela que efetivamente mostraria a qualidade dos dois vinhos: Já conhecendo suas identidades, verificamos que ambos haviam melhorado sobremaneira, tornando-se muito mais elegantes e arredondados. Isso mostrava, em definitivo, que o melhor momento dos Tannats brasileiros ainda se dá muito tempo após abertos. Sua aspereza, ou sua dureza, são consideravelmente abrandadas pelo passar das horas, enquanto suas frutas encontram o oxigênio livre do ar e seu álcool se evapora um pouco, liberando suas qualidades adormecidas.

Ambos tinham então melhorado seus taninos. Porém, para minha surpresa, o Relena os revelava muito superiores aos do Miolo, que ainda conservava frutas e acidez excessivas. Não havia mais dúvidas: o Relena se mostrava superior, em diversos aspectos, ao Miolo. Provavelmente, o clima fortemente estacional da Serra da Canastra seja mais adequado do que o da Campanha, ou, pelo menos, na safra em questão (2013), as uvas do Brasil Central haviam experimentado melhores condições do que aquelas do extremo sul do Rio Grande. De todo modo, ambos ainda precisam ser mais trabalhados, até que possam ser comparados com seus primos uruguaios.

Ficamos felizes de ver abrir-se o horizonte do Brasil Central às possibilidades enológicas de qualidade. Quanto a mim, um amante incondicional da Serra da Canastra, me enchi de gáudio, por ver seu Tannat brilhar e, mais ainda, quando acompanhado do célebre queijo Canastra do Sr. Zé Mário, de São Roque de Minas.

Todos achamos que o rótulo do Relena precisa melhorar muito, para se tornar proporcional à qualidade de seu conteúdo. Rolha e lacre, igualmente, ainda estão longe do ideal, de modo a enfrentar o mercado que, muito seguramente, o aguardam em futuro muito próximo.


domingo, 19 de abril de 2015

BROMÉLIAS E DENGUE – O MUSEU DE GRANDES NOVIDADES





Desde 2002-2003, quando o Rio de Janeiro enfrentou uma de suas maiores epidemias de dengue (melhor dizer SURTO), ocasião em que tivemos que despender imensa energia, para desmantelar a CRENÇA de que as bromélias seriam responsáveis pela proliferação do mosquito transmissor, pensava ter me livrado de tratar deste assunto. Mas, usualmente esquecidos do passado, insistimos sempre em tentar revivê-lo, o que não é exclusividade do assunto DENGUE. Afinal, ainda há quem se excite bastante ao surgir a “novidade” de golpes militares, para enfrentar a corrupção endêmica que assola o país. É o eternamente genial Cazuza: “Eu vejo o futuro repetir o passado; eu vejo um museu de grandes novidades”...

Pois eis que não consigo me segurar e tenho que contar um pouquinho do que vivemos, naquela época negra, quando a Sociedade Brasileira de Bromélias-SBBr teve que encarar o desafio, desde que um grande jornal decidiu veicular, em primeira página, a fotografia de uma praça carioca, cheia de lindas bromélias Neoregelia cruenta, com uma manchete que afirmava poder serem as bromélias “focos importantes do mosquito da dengue”. O poder público precisava encontrar algum ponto de interesse, algum bode expiatório, para desviar a atenção do fato de que, sim, a saúde pública do país é nossa notável vergonha. Claro: miraram em algo que talvez (somente talvez, como descobriram) não pudesse oferecer defesa – as bromélias. Com isso, pensaram, ganhariam tempo e criariam um “inimigo ideal”.

Pois bem, a gente realmente tem que saber escolher nossos inimigos. Erraram feio e, algum tempo depois, tiveram que capitular e desviar o tema para outras direções, diga-se de passagem, bem mais apropriadas, embora pouco tenha melhorado a situação, depois de tantos anos. Tivemos que oferecer resposta à pergunta angustiada da população: “afinal, as bromélias eram ou não eram criadouro importante do Aedes aegypti? Seriam elas responsáveis pelo brutal aumento dos casos de dengue na cidade?” Afinal, as plantas estavam em plena moda e eram avistadas por toda parte.

Associados da SBBr e amantes de bromélias, em geral, entraram em pânico; produtores colapsaram – muitos sumiram; algumas prefeituras decretaram a destruição das bromélias, até mesmo em refúgios silvestres (o que configura CRIME AMBIENTAL). Era necessário para nós oferecer contraditório àquela CRENÇA, antes que as bromélias sumissem de vez da face da terra. Devo dizer que foram tempos duros, que não gostaria de reviver. Mas, fizemos nossa parte e deixamos comprovado que NÃO, as bromélias NÃO REPRESENTAM CRIADOURO PRIORITÁRIO AO MOSQUITO TRANSMISSOR DA DENGUE, embora suas larvas possam ser encontradas TAMBÉM aí, como em infinitos outros locais, nos quais exista ÁGUA.

O assunto foi objeto de encontros, seminários e palestras, amplamente divulgadas na imprensa, que reuniram biólogos, agrônomos e cientistas ligados às doenças tropicais na América, ligados a importantes instituições, tais como UFRJ e UERJ, além da FEEMA (hoje INEA) e IBAMA. Tratarei de reeditar as VELHAS VERDADES, que desmentem as eternas GRANDES NOVIDADES sobre este assunto:

1) Talvez o ponto mais importante de toda essa história – A IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DOS CRIADOUROS: Ainda que a bromélia tanque-dependente (aquela que guarda água na embricação de suas folhas) possa abrigar larvas de Aedes aegypti, como pode qualquer recipiente que guarde água límpida, por tempo superior a uns quatro ou cinco dias, ela não sustenta importância epidemiológica – por raramente se encontrar na área de ação do mosquito, que é o INTERIOR DAS CASAS. É NO INTERIOR DAS CASAS, OU DOS AGLOMERADOS DE GENTE, QUE O MOSQUITO REALIZA A TRANSMISSÃO ENTRE PESSOAS DO VÍRUS DA DENGUE. É improvável pegar dengue no jardim, no bosque, na praça ou caminhando nas ruas. A PREDOMINÂNCIA ABSOLUTA DAS TRANSMISSÕES SE DÁ NO INTERIOR DAS RESIDÊNCIAS, RESTAURANTES E ATÉ COMÉRCIOS.

2) A bromélia guarda água, formando um lago de vida, no qual proliferam centenas de organismos diversificados, que oferecem ampla competição entre si e, é claro ao mosquito transmissor. O Aedes aegypti é um inseto exótico, não existindo na fauna brasileira, o que o coloca em inquestionável desvantagem, frente aos demais insetos. A dinâmica de populações de pequenos animais é tão intensa, no tanque de uma bromélia, que dificulta sobremaneira a persistência de eventuais infestações do Aedes aegypti, cujos episódios de colonização terminam sendo efêmeros.

3) É EXTREMAMENTE DIFÍCIL A IDENTIFICAÇÃO EXATA DAS LARVAS DO MOSQUITO DA DENGUE, QUANDO COMPARADAS ÀS DE OUTROS MOSQUITOS CULICÍNEOS de nossa fauna, que não transmitem a dengue. Assim, “encontrar larvas de mosquito da dengue” pode representar muitas vezes equívoco. Devemos ter muito cuidado, ao afirmar que os encontramos numa bromélia... ou em qualquer outro recipiente.

Veja nesta imagem emprestada se você consegue ver as diferenças entre larvas que enxerga num criadouro - NADA FÁCIL!


4) O mosquito da dengue não sobrevive em ambientes silvestres, ou seja, nas bromélias e outros possíveis recipientes de água limpa, no interior de florestas e até mesmo nas árvores mais elevadas ou ajardinamentos situados poucas dezenas de metros das casas. SUA VÍTIMA PRIORITÁRIA, QUE É O HOMEM, TEM QUE ESTAR POR PERTO! Assim, destruir bromélias em praças, jardins públicos, bosques, jardins botânicos e florestas próximas às cidades é uma grande perda de tempo e apenas incorrerá em CRIME AMBIENTAL, nada mais.

5) O CRIADOURO MAIS IMPORTANTE DO MOSQUITO DA DENGUE É O PNEU ABANDONADO, que reúne as condições ideais para sua proliferação: água limpa, fundo escuro (a larva foge da luz) e, principalmente – AUSÊNCIA DE INIMIGOS NATURAIS (que abundam nas bromélias). Seguem-se: CAIXAS D’ÁGUA DESTAMPADAS, CALHAS ENTUPIDAS, RALOS, VASOS SANITÁRIOS DE POUCO USO, VASOS DE PLANTAS COM PRATINHOS, além de lixo em geral (garrafas PET – até mesmo uma tampinha), plástico e outros reservatórios relacionados.

6) Por fim, é bom lembrar o conceito fundamental da entomologia (ciência que estuda os insetos): NÃO EXISTE ERRADICAÇÃO DE PRAGAS! Os esforços são efetuados no CONTROLE DOS INSETOS. Os mosquitos NUNCA deixarão de existir, assim como todas as demais pragas. Mas, eles podem e devem ser combatidos.


São estes os aspectos que devem ser considerados, no que se refere diretamente à RELAÇÃO ENTRE BROMÉLIAS E MOSQUITOS, sendo que a diretriz de combate ao mosquito deve ser centrada na PRIORIDADE DOS CRIADOUROS. DE NADA ADIANTARÁ COMBATER COM ENERGIA UM CRIADOURO QUE NÃO FOR IMPORTANTE, pois os agentes de saúde estarão gastando recursos (que são sempre poucos!) em demasia em algo que não oferecerá resposta prática. A ideia estapafúrdia de destruir bromélias foi abandonada, no Rio de Janeiro, tendo se voltado esforços ao lugar exato de ação dos mosquitos – O INTERIOR DAS RESIDÊNCIAS E LOCAIS DE AGLOMERAÇÃO HUMANA.

O Aedes aegypti é um mosquito pequeno e muito “nervoso”, difícil de ser capturado com tapas, o que o faz esvoaçar ligeiro, entre diversas vítimas, daí a grande taxa de transmissão do vírus. Ele prefere ataques diurnos e nunca voa longe de seu território – QUEM LEVA A DOENÇA PARA OUTRAS CASAS, ONDE HÁ OUTROS MOSQUITOS, É A PESSOA INFECTADA! O lugar predileto para suas picadas é o TORNOZELO.

Por estas razões, o COMBATE AO MOSQUITO DEVE SER EMPREENDIDO NO INTERIOR DAS RESIDÊNCIAS, SENDO ESTA A ÚNICA MANEIRA DE INTERROMPER A CADEIA DE CONTÁGIO. Claro que isso é difícil, mas não existe outra maneira de lutar. A PULVERIZAÇÃO DE RUAS E TERRENOS É INÚTIL  e já se sabe que não é capaz de interromper os surtos.

Mas, para terminar, devemos nos perguntar uma coisa bem do Século XXI: ISSO TUDO É NOVIDADE? DÁ NOTÍCIA?  Claro que não! O que interessa são novidades, mesmo que sejam velhas e dignas de museus. Trazer de volta a demonização das bromélias pode ser uma forma de encontrar notícias. Afinal, quem está interessado em combater o mosquito de forma responsável?

Resta ainda ter claro que a dengue é uma doença de imunologia praticamente constante, ou seja, você fica imune a determinada forma de vírus, depois de ter contato com ele, mesmo que, às vezes, não desenvolva a doença. Assim, os surtos da dengue são usualmente efeitos de idade da população (entrada de novos habitantes não imunes), além da entrada ocasional de novos tipos de vírus – que são os principais deflagradores dos surtos. As condições ecológicas favoráveis ao mosquito, como aquelas devidas ao tempo meteorológico, também operam surtos importantes.

NÃO DEIXO DE FAZER A RECOMENDAÇÃO QUE FIZEMOS, NO INÍCIO DA DÉCADA DE 2000: SE TIVER BROMÉLIAS EM CASA, AO PERCEBER A INCIDÊNCIA DE LARVAS DE MOSQUITOS – QUAISQUER DELES – PULVERIZE SUAS PLANTAS COM INSETICIDA PIRETRÓIDE À BASE D’ÁGUA (Recomendo o SBP, sem medo de fazer anúncio), A CADA QUATRO OU CINCO DIAS. E PRONTO! Derramar a água do tanque NO CHÃO SECO, também ajuda. Quem ama cuida. Assim, se você é amante de bromélias e as cultiva, como eu, cuide de sua coleção. Bromélia dentro de casa pode ser criadouro, se for ali deixada, sem cuidados. Aqui em casa, elas entram um pouco e embelezam, sem medo. Depois, como TODAS AS DEMAIS PLANTAS, retornam ao exterior, onde não oferecem perigo.

COMBATA A DOENÇA, NÃO AS BROMÉLIAS.

quarta-feira, 11 de março de 2015

PROFECIAS DE BUCKSY E O FAR-WEST CABOCLO

               Deve ter sido por volta de 1991, quase 1992, escutei a profecia de minha grande amiga Bucksy Araújo, mulher de imensa estatura intelectual, que aprendi a admirar, desde os tempos em que estudamos juntos, num colégio de Ipanema, no “Rio Antigo”: - Orlando, disse-me ela então, com sua voz aveludada, que esconde sua fortaleza de caráter e sua força pessoal, não demorará a chegar o dia em que isso aqui (Brasil) vai se transformar num Velho-Oeste, onde aquele que sacar primeiro e atirar melhor sobreviverá”. Calado, escutei aquilo com certa incredulidade. Afinal, nossa recém-nascida democracia florescia em aparentes avanços, sob a batuta entusiasmada e entusiasmante do presidente Fernando Collor de Melo, então o mais jovem mandatário já eleito pelo voto direto.

               Achei que Bucksy exagerava. Afeita ao estilo Country, do qual era célebre entusiasta, certamente imaginava cenários fantásticos, inspirados naquele período cercado de romantismo da história americana. E nosso país se prometia tão melhor! Nesta época, eu já abandonava gradativamente meu gosto por armas de fogo, atendendo ao amadurecimento de minha personalidade e à minha decisão de aperfeiçoar meu grau de civilização. Durante anos, especialmente na década de 1980, participara de nosso próprio Far-West, no Mato Grosso, quando conquistava meu espaço naquela que se revelaria a mais importante fronteira agrícola do país – o Centro-Oeste. Naqueles duros tempos, portar armas e atirar muito bem eram ingredientes importantes dos personagens dessa conquista territorial rural.

               Antes que me julguem mal, não carrego, por sorte, qualquer passivo criminal e não deixei nenhuma ossada escondida sob os chapadões vermelhos do Mato Grosso. Talvez mais por sorte, que por juízo. Mas, os tempos passaram, adentrei outra fase de minha vida, no Rio de Janeiro, onde exerci outras atividades menos, digamos assim, arriscadas, abrindo mão por completo da coleção de armas que amealhara, tanto quanto de meu gosto pelo seu uso, o que acompanhava, como afirmei, minha crescente determinação civilizatória.

               Voltando a lidar com o meio ambiente, o paisagismo e a pesquisa naturalista, enviesei automaticamente minha personalidade para um lado mais claro da força, como diriam os fanáticos pela série Guerra nas Estrelas, de George Lucas. Intelectualidade e reflexão não combinavam, decididamente, com a brutalidade e a capacidade destruidora das armas de fogo cada dia mais modernas, como tudo neste mundo tecnológico. Civilização prevê o domínio gradual do animal que habitamos pela nossa capacidade de raciocínio, que deveria sempre suplantar a força física. Mas, não há algo assim como um mundo ideal e a profecia de Bucksy nunca me saiu da lembrança.

               Numa postagem de 24 de abril de 2011 ( http://orlandograeff.blogspot.com.br/search?q=o+ovo+da+serpente ), neste mesmo blog, versei sobre um processo que já então se mostrava fora de controle e que hoje descambou para o cumprimento da profecia Bucksy, tanto para minha própria profecia do Ovo da Serpente: já há muito estamos em plena vigência do estado de descontrole e violência que previu minha querida amiga, no início dos anos 1990 e eu próprio, muitos anos depois. Mas, de onde vem isso? Seria então o caso de chamar Bucksy para compormos um exército de Brancaleone, cada um de nós com sua arma à cinta, treinando obsessivamente nossas miras, de forma a sobrevivermos neste New-West Tupiniquim?

               Antes que os amigos leitores se apavorem, devo contar primeiramente os capítulos seguintes da história pessoal de Bucksy, que a conduziram a se transformar numa excelente escritora de teatro (atriz ela já era!), uma proficiente produtora cultural e até mesmo adepta do Vegan, o que mostra que, uma vez mais, ela se afirma uma mulher à frente de seu tempo. Evoluiu e se civilizou ainda mais, deixando muito para trás sua porção cow-girl e se afirmando mais ser humano que bicho, tarefa a que ainda me entrego esforçadamente, pois ainda me enxergo muito mais como um Papa Francisco que um Gandhi. Explico: Enquanto o fantástico Gandhi professava a não violência e a resistência pacífica, com a qual ajudou a índia a se livrar do jugo britânico; nosso Sumo Pontífice Católico ainda deixa escorregar algumas doutrinas violentas, como “dar uns sopapos em quem ofender sua mãe; ou algumas palmadas nas crianças, que não fazem tão mal assim”.

               Então, para não cansar o leitor, deixe-me avançar no tema e afirmar categoricamente: posso até ainda carregar traços de minha violência inata, natural do animal que sou; mas não admito seu uso como forma civilizada, para resolver questões pessoais. Antes que me deem sopapos ou palmadas educadoras meus bons amigos, devo acrescentar um conceito democrático e legítimo, que ainda acredito ter que valer, por muitos séculos: violência tem que ser monopólio do estado, sendo exercida na forma da lei, exclusivamente pelas forças constituídas para isso – polícia. Claro que, na forma da lei vigente, a legítima defesa justifica o uso da força pelo cidadão comum. Bem... É justamente aí que se abre essa insistente discussão sobre o grau de bang-bang que deveria ser aceito na sociedade dita civilizada.

               Não tenho a pretensão de esgotar o assunto aqui, hoje, nesta postagem que já começa a se alongar por demais para os padrões de leitura paciente desses tempos de internet. Só desejo firmar até então minha completa insatisfação com este famigerado retrocesso civilizatório em que nos metemos, que cumpre a triste profecia de Bucksy sobre vivermos numa sociedade na qual um monte de cow-boys desvairados obtêm supremacia, à custa de “sacar mais rápido”. Minha amiga western estava coberta de razão e pagamos uma conta alta, ela e eu, por termos abandonado nossa índole selvagem e violenta, para ingressarmos num caminho civilizatório que nos lança hoje numa sensação de impotência. Orgulhosamente encontramo-nos os dois à frente de nosso tempo. Espero que sobrevivamos a isso!

               Na próxima postagem, farei algumas necessárias reflexões sobre a conjuntura que caracteriza nosso Near-West Caboclo.



 acima - imagem do cidadão ideal para o enfrentamento dos problemas de segurança do Brasil, nos dias de hoje


ANJOS E DEMÔNIOS – NOSSA ÉTICA LADEIRA ABAIXO

               Em meus passeios pelos estonteantes museus britânicos, onde se visita gratuitamente alguns dos mais importantes tesouros culturais da humanidade, encontrei meu grande amigo Felipe Costa, que andava em frente a uma das galerias de um desses museus, com um ar meio abichornado. Indaguei a ele qual a razão de seu semblante preocupado:

- Salve, Costa, que acervo artístico, não?
- É sim, tudo isso aqui disponível aos jovens ingleses, sem qualquer custo! Que responsabilidade com a educação, com a cultura...
- Então, oras, por que este semblante sério? O que te aflige?
- Sabe o que é, amigo? É que eu acho que não fui muito correto, há alguns minutos...
- O que é isso? Não furou a fila, não é? Os britânicos não gostam dessas coisas.
- Por certo que não, o amigo sabe de minha determinação ética. É que saí tirando umas fotos, havia alguns outros estrangeiros fazendo o mesmo, me animei... clic, clic, clic... Até enxergar aquele cartaz ali, veja.
- PROIBIDO FOTOGRAFIAS... Compreendo. Bem, afinal, ninguém está a fiscalizar... Outros turistas fazem o mesmo...
- Mas, você me conhece: não sou os outros, sabe que oriento meu procedimento pensando no que é certo, não naquilo que os outros fazem.

               Ruborizei com minhas concessões. Felipe é um garoto ético, age no sentido de que seus procedimentos representem norma universal... Gandhi. Eu mesmo, aqui em meu blog (http://orlandograeff.blogspot.com.br/search?q=e+se+todos+fizessem+isso) uma dessas vezes, aludi aos postulados de Kant, que perguntava provocativo: “e se todos fizessem isso?” Um pouco envergonhado de minha leniência ética, refleti um pouco sobre o impasse moral de meu jovem amigo.

               Felipe é um homem jovem, autêntico representante das novas gerações que herdarão o mundo. Tem pouco mais de vinte anos. O que seriam vinte aninhos, diante de minha longa experiência de cinquentão? TUDO, respondo eu! O frescor ético do meu jovem amigo é o azeite que lubrifica nossa sociedade viciada e cheia de, digamos assim, concessões. Estragados pela educação gradualmente destituída da ética, pagamos propina ao guarda, furamos fila, estacionamos na vaga dos deficientes, sujamos tudo à nossa volta (no sentido amplo do que isso significa). Felipe Costa, não, ele acha que isso é errado. Se é errado, por que fazer?

               Tratei de mitigar as angústias de meu amigo, sem deixar de concordar com seus princípios, dizendo a ele que nem precisaria se dar ao trabalho de fotografar tantas telas e esculturas. Afinal, na internet, ele poderia obter imagens de alta qualidade daquelas obras, além de fichas técnicas sobre elas... Há até o site dos museus! Seguimos adiante, ele sem fotografar mais nada e eu pensando com meus botões sobre a lição que tivera de meu jovem amigo.

               Algumas horas depois, vagando pelas tranquilas e bem arrumadas ruas do bairro de Belgravia, onde aprecio ficar, quando visito Londres, tive outro sinal de como é possível situar em nós mesmos, seres humanos ditos civilizados, nossos anjos e nossos demônios. Ao aguardar para atravessar uma rua muito calma, achei por bem respeitar o sinal de trânsito, mesmo quase não havendo automóveis. Quando o sinal finalmente abriu para mim, fazendo-me ensaiar os primeiros passos para atravessar, eis que enxergo um ciclista que se aproximava, ostentando seu capacete e seus elegantes trajes desportivos. Cuidado, disse a mim mesmo, ele vai passar correndo e me atropela!

               Foi quando reencontrei meus anjos e meus demônios: orientado por meus maliciosos diabinhos brasileiros, que nos fazem treinados em toda sorte de pilantragens e incivilidades triviais, preveni-me contra uma suposta agressividade do ciclista inglês, que não veio: o rapaz (também ele um jovem, como Felipe) parou antes da faixa de pedestres e assim permaneceu, até muito tempo após minha passagem, retomando suas pedaladas, tão logo lhe surgiu o sinal verde.

               Em Londres, devo dizer, para-se ao sinal vermelho, esteja você num automóvel, esteja você numa bicicleta! É a norma, é a lei. Se o ciclista não parasse, TALVEZ fosse multado, pois sim, há multas para isso, na capital britânica. Mas, não foi o caso. A rua estava quase deserta, não havia qualquer policial próximo e, mesmo que houvesse câmeras (pois que as há às centenas, por todos os lados), o rapaz não tinha qualquer placa de identificação à mostra em seu “camelo”. Por que parou ele, então, se os seu diabinho particular talvez lhe falasse ao ouvido: “vai lá, passa o sinal, que vai perder tempo aí parado”?

               Ocorre que, em países civilizados, que já passaram pelos tempos de pátria educadora, há muitas centenas de anos, para viver numa fase de PÁTRIA EDUCADA, vive-se a ética com ênfase, devidamente transformada no “anjinho”, que lhes vai ao ombro, fazendo-os perguntar de forma inversa àquela sugerida pelo diabinho: “SE É O CERTO, POR QUE NÃO FAZÊ-LO?

               Terminando minha reflexão, voltei ao que me dissera Felipe, horas antes, na galeria do museu. Se um procedimento é certo, por que DIABOS não fazê-lo? Mesmo que não haja alguém observando, um guarda de trânsito ou até mesmo um fiscal de museu, se há uma regra, se dispõe uma lei, devemos respeitá-las instintivamente, sem escutar as bobagens segredadas de nossos ombros, pelo demoniozinho impertinente que vive em todos os humanos. Foi o que se propôs a fazer Felipe, foi o que fez o ciclista londrino.

               Afirmamo-nos CIVILIZADOS, frequentemente apontado o dedo aos infratores pelos seus deslizes, em geral os grandes e notáveis. Mas, com grande frequência... Ou melhor, com GRADUAL FREQUÊNCIA, vamos fazendo concessões as mais diversas, em nossa PÁTRIA DESEDUCADA, pensando sempre em nós mesmos, em nossa comodidade, na praticidade da vida e, por fim, em interesse próprio. Instigados pelos nossos demônios, estamos caminhando ladeira abaixo em nossa ética, pois viramos uma sociedade autista, onde cada um somente olha para sua barriga, evitando os olhares pidões dos outros. Certo personagem cômico, de uma famosa revista americana, indagava: “what, me worry?” (O quê, eu me preocupar?).

               A lei é o complexo das condições existenciais da sociedade. Isso significa que, numa democracia, os representantes do povo se reúnem, debatem, escutam especialistas sobre os mais diversos assuntos e, por fim, elaboram as leis, que representam o pacto moral sobre o que se pode ou não fazer; sobre o que se deve ou não fazer; e, é claro, como punir aqueles que não respeitam a lei. Muito simples: a força policial cuida para que os cidadãos cumpram as leis (é o que os ingleses chamam – enforcement); o poder judiciário julga e eventualmente condena aqueles que transgridem esse código maior de procedimento. Mas, não há um policial para cada habitante, nem tampouco batalhões de juízes a dirimir os “casos”... E nem precisaria haver!

               Não serão nunca suficientes os milhares, milhões de policiais, para fiscalizar e coibir os atos lesivos à lei praticados por incontáveis cidadãos, se esses resolverem perseguir seus únicos interesses e vontades pessoais, atendendo aos “conselhos” do diabinho que lhes monta ao ombro. A ética é exatamente a noção do indivíduo de que existe um código de procedimentos, que é condição fundamental da existência da civilização. O indivíduo ético cumpre as leis, por que entende que isso é necessário – escuta seus anjos, em vez dos demônios. Foi como agiu Felipe, foi o que fez o ciclista de Londres!

               Obrigado, Felipe, por me fazer lembrar que devo rejuvenescer à sua consciência do que é ético, renunciando aos conselhos impertinentes de meus demônios envelhecidos, que me querem incivilizado. Sou brasileiro, sim, mas não creio que seja esta uma “qualidade” de nosso povo: sermos o país do jeitinho, a pátria da deseducação, a ladeira descendente da civilização, ao sabor da renúncia endêmica à ética. Bem, se o cartaz do museu determina suas normas – PROIBIDO FOTOGRAFAR – vamos guardar nossas câmeras; se o sinal está vermelho, vamos parar, mesmo que não haja um guarda anotando nossas placas. Somos nós mesmos os responsáveis por nossos anjos e demônios.

jovens aguardam o sinal abrir, para prosseguir com suas bicicletas, em Oxford, na Inglaterra: fazem isso simplesmente por que... é o certo!