domingo, 18 de setembro de 2016

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – A BROMÉLIA NEOREGELIA CORREIA-ARAUJOI


Quando fazia jardins, na Década de 1990, era a época de ouro das bromélias, no paisagismo. Foi um verdadeiro “boom” de plantas trazidas da natureza, para lotar os jardins com bromélias, as mais variadas, vindas dos mais diversos locais. O mercado não se importava com a matéria conservacionista. Bem, talvez isso não tenha mudado muito, embora já se tenha hoje a plena consciência de que a coleta de plantas, nos ecossistemas, representa atividade danosa e até virou crime, passível de prisão.

Paralelamente, os horticultores trataram de produzir esplêndidas cultivares de bromélias, com belas características, que não encontram rivais na natureza. Essa, na verdade, foi a grande solução para o grave problema da coleta criminosa de plantas, uma vez que ninguém trocaria essas plantas bem produzidas e com formas à beira da perfeição, por outras vindas das matas, com folhas rasgadas, manchadas e cheias de pragas e doenças. Ainda mais se o preço for competitivo.
Numa postagem anterior, deste blog ( http://orlandograeff.blogspot.com.br/2013/01/e-se-todos-fizessem-isso-coleta-ou.html   ), tratei da complexa questão da coleta criminosa de plantas na natureza e creio que a questão foi bem definida. Naquela ocasião, citei o fato que, durante muitos anos, nas minhas expedições pelas florestas e demais ecossistemas brasileiros, cheguei a coletar plantas, com o estrito objetivo da descoberta científica e investigação. Nestas oportunidades, cuidava muito para coletar apenas partes de plantas (fragmentos de propagação vegetativa ou sementes), ou mesmo seedlings ou indivíduos redundantes, em populações que poderiam absorver este impacto necessário.

Felizmente, a ciência e o conhecimento sobre a flora avançaram muito, havendo excelentes listagens de espécies, para quase todos os ecossistemas, dispensando a necessidade de coletas. Mas, como seria de esperar, grande parte das plantas que trouxe da natureza ainda vivem na coleção de plantas do Jardim Fitogeográfico, tendo até deixado incontáveis descendentes, como é o caso da vistosa bromélia Neoregelia correia-araujoi, que já foi muito comum, na região da Costa Verde, litoral sul do estado do Rio de Janeiro. Essa bromélia era intensamente coletada, nas florestas de Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty, sendo empurrada às vias da extinção, embora venha se recuperando muito rapidamente, em função de ser planta bastante prolífica, no seu habitat natural.

Neoregelia correia-araujoi vive hoje em algumas árvores do Jardim Fitogeográfico, principalmente no setor da floresta recuperada. Mas, também se adapta bem aos muros de pedra, onde se imita uma de suas formas bastante comuns de ocorrência, na região de origem: os topos dos grande matacões de pedra granítica, quase à beira do mar. Velhos muros de ruínas do Século XIX, assim como telhados de algumas residências, em Angra dos Reis e Paraty, também abrigam belos indivíduos da bromélia que chamávamos de “finger-nail-plant”, no meio jardinocultural, por parecer com unhas pintadas com esmalte vermelho.


Esta bela bromélia, com porte relativamente avantajado, é uma planta tanque-dependente (guarda água no imbricamento de suas folhas), cujas flores alvas emergem diretamente do pequeno lago de vida e são intensamente buscadas por colibris e abelhas brasileiras. Seus pequenos frutinhos são bagas adocicadas, que os pássaros procuram avidamente, tratando de espalhar a planta, nas outras árvores. A espécie, aliás, tem cultivo muito fácil, bastando coletar suas sementes e plantá-las em vasos coletivos. Milhares de plantas saíram de semeaduras de nossa coleção, nos anos 2000, para abastecer cultivos comerciais, tendo assim colaborado para evitar a coleta.

bromélia Neoregelia correia-araujoi

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