Tenho publicado algumas crônicas sobre vinhos e pratos, aqui
no blog, talvez fazendo com que alguns me imaginem um expert – um sommelier –
ou até mesmo um connaisseur. Devo
esclarecer que não é bem isso. Sinto se decepciono os mais afoitos apreciadores
de vinhos, que gostam de seguir algumas regras ou que pertencem a tribos do
tipo Club Du Taste dun Vin. Sou um
artista, uma pessoa que aprecia o belo e que valoriza as sensações. Por isso,
procuro a beleza e devo dizer: A beleza
chega pelos olhos, pelo olfato, pela pele e pelo gosto também. Assim,
deixe-me iniciar este texto por informar que sim aprecio os bons vinhos, mas
sem compará-los a couros; terras de determinadas regiões; bananas e outros
frutos. Não seria capaz, na mais ampla acepção da afirmação.
Bebo alguns vinhos, principalmente seguindo seu terroir, em geral a partir de
conhecimentos obtidos em minhas viagens. Uma vez entendendo a região em que são
produzidos; a cultura de seus povos; seus solos; as vegetações que por lá
crescem e; principalmente, as pessoas que os fabricam, acabo seduzido por sua
mais bela realização – seus vinhos. E será sobre a estética de um conjunto de
rótulos que falarei hoje, literalmente pelos rótulos dos vinhos da Bodega Navarro Correas, de Mendoza, na
Argentina, onde estive, em 2006, passando a me envolver sem retorno com suas
paisagens e seus vinhos – o magnífico terroir
de Mendoza.
Navarro Correas - Coleccion Privada
Cabernet - Merlot - Malbec
safra 2003
Mendoza é um lugar fascinante, não somente por sua
estonteante paisagem, que separa o deserto e a Cordilheira dos Andes, mas
também pela beleza da cidade completamente arborizada, onde cada rua é irrigada
por um rego de águas cristalinas, que vêm diretamente dos Andes. Não é só no
viço dessas árvores e do Parque San Martin, regados por canais artificiais, nos
quais correm abundantes essas águas transparentes, que reside a beleza de
Mendoza. Seus vinhedos prósperos, que se concentram principalmente na região de
Luján de Cuyo e Godoy Cruz, também absorvem essa água mágica da Cordilheira.
Umedecendo os solos férteis aos pés da Cadeia Andina, que se formaram pela
lenta deposição de cinzas vulcânicas – loess
– essa água límpida ajuda a formar o terroir mendoncino, um dos maiores
milagres enológicos de nosso Continente.
Sempre que vou a alguma região
vinícola, indago com seus habitantes quais são seus rótulos preferidos, ficando
em segundo plano o marketing das bodegas ou o preço das marcas. O habitante do
lugar possui em suas papilas gustativas e no seu olfato impressas as melhores
experiências de sua neurolinguística nativa. Amam sua terra e, assim sendo,
sobressai a eles o terroir local,
desde a mais tenra infância. Procurando saber o que bebiam os mendoncinos, em
2006, uma das unanimidades eram os vinhos da Bodega Navarro Correas (www.navarrocorreasreserva.com
). Na época, trouxe de minha longa viagem de mais de 15.000km apenas uma
garrafa, que me indicaram: Navarro
Correas – Coleccion Privada – Cabernet +
Merlot + Malbec – safra 2003, que foi consumida em ocasião especial e que
deixou impressões as mais definitivas sobre este corte de uvas, que fabricam
até hoje, com absoluta regularidade e qualidade.
Dá para ver que me tornei
admirador dos vinhos desta bodega, que bebo fielmente, sendo bastante
recomendável a linha chamada ALEGORIA, cuja qualidade acabei conhecendo, mais
tarde, em 2008, num espetacular restaurante em San Martin de Los Andes, na
Patagônia, cujo curioso nome era Ku.
Acompanhou um churrasco de ovelha argentina igualmente inesquecível. Mas, o que
motivou este texto, na verdade, foi um aspecto da Bodega Navarro Correas que
somente veio ao encontro de minha obsessão pela beleza e, como muitos sabem,
pela Botânica. Esta vinícola tem adotado, há muito tempo, a prática elogiável
de veicular ARTE, nos rótulos de seus melhores vinhos. Indissociavelmente,
obras de artistas argentinos, como pode ser visto nas imagens que anexei.
Estratégia perfeita, devo afirmar: Associar a beleza das sensações de seus
vinhos à beleza das telas que decoram seus rótulos.
Em meio a isso, encontrei algumas
garrafas de Navarro Correas – Coleccion Privada – Cabernet + Merlot + Malbec –
safra 2007 - que traziam estampada a imagem dos umbus, que são curiosas árvores
que habitam o sul do Brasil, mas principalmente a Argentina e o Uruguay, sendo
por lá conhecidos como ombués. Assinavam as telas Nicolás Garcia Uriburu. Umbus
são plantas notáveis, cuja identidade botânica é Phytolaca dioica (família
Phytolacaceae). Habitam as florestas subtropicais e produzem imensos intumescimentos
na base de seus caules, o que já lhes rendeu extensa citação nos cancioneiros
gaúchos, uruguaios e argentinos, nos quais se conta que as mulheres e crianças
se escondiam entre seus troncos (alguns ocos) e assim escapavam dos invasores
inimigos, nas revoluções, que matavam os homens e violavam suas esposas e
filhas.
Rótulo do Navarro Correas - Coleccion Privada - Cabernet - Merlot - Malbec - safra 2007
com a figura do umbu - Phytolaca dioica pintada por Nicolás Garcia Uriburu
Adoro os umbus e pude vê-los nas
paisagens que percorri, este ano (2012), durante minha Expedição Fitogeográfica 2012. Também os encontrei plantados nos
parques de Montevideo e de Buenos Aires, onde não apenas enfeitam a paisagem
urbana, mas também servem de abrigo aos namorados ou aos que apenas desejam se
abrigar sob sua sombra, para ler ou tirar uma soneca. Vivas para os umbus; Viva
os excelentes vinhos da Bodega Navarro Correas; VIVA O BELO! VIVA A ARTE!
Acima - Vinhedos Cabernet em Mendoza
Acima - Um umbu - Phytolaca dioica - num parque de Buenos Aires
Abaixo - Uma argentina lê seu livro sob a sombra agradável de um umbu.
Abaixo - Flores de um umbuzeiro, na margem do rio Uruguay, entre Argentina e Uruguay, fotografado durante a Expedição Fitogeográfica 2012
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