No início de 2006, viajamos através dos semidesertos do
oeste argentino, partindo de Foz do Iguaçu e passando por Corrientes, Santiago Del
Estero e Catamarca, até atingir a Pré-Cordilheira dos Andes, junto à qual
seguimos até Mendoza, lendária capital dos vinhos. Foi uma experiência
inigualável e muitas fotos podem ser vistas sobre esta expedição no álbum do
Flickr - http://www.flickr.com/photos/12389332@N08/sets/72157601726384796/
. Durante esta admirável jornada, na qual experimentamos variações climáticas
dramáticas, experimentando calores da ordem de 45oC (Santiago Del
Estero) e frio andino, na passagem da Cordilheira ao Chile, conhecemos a zona
produtiva de La Rioja, verdadeiro oásis
plantado aos pés da Pré-Cordilheira.
Nossos objetivos, tirando o simples prazer da viagem em si,
eram predominantemente naturalistas: Interessavam-me aspectos biogeoclimáticos
que me levariam a compreender melhor algumas vegetações brasileiras, que venho
até hoje estudando (veja o blog relacionado – Expedição Fitogeográfica 2012).
Porém, não havia como ficar indiferente ao quadro revolucionário que víamos, em
La Rioja: Grandes plantações de oliveiras e videiras irrigadas com as águas
límpidas trazidas por canais, das elevadas montanhas, vicejando sobre férteis
solos de loess vulcânico, que abundam
ao longo dos Andes.
Muitos anos depois, já capturado pelos prazeres
enogastronômicos, perguntava-me por que não deparava com vinhos produzidos
naquela singela paisagem de tintas espanholas. Pois foi na mesma Malambo de Buenos Aires (que citei no post anterior – www.malamboalmacen.com.ar) que vim
a encontrar um rótulo que me excitou a curiosidade: Collovati, Malbec, 2008, produzido na região de Soñogasta, em plena
Rioja Argentina. O produto foi elogiado pelo dono da Malambo, que venho
considerando meu mais producente encontro enológico recente, naquele país.
Não possuo uma adega muito grande e nem precisaria. Moro
numa das maiores concentrações de boas lojas de vinhos do Rio de Janeiro –
Itaipava. Dessas lojas, ainda virei a falar, futuramente, por que bem merecem.
Mas, o fato é que meu estoque nunca ultrapassa umas trinta garrafas de vinhos
escolhidos aqui e ali, durante viagens e garimpos diversos. Bem, residindo em
meio a tantas adegas bem conduzidas, ao meu redor, por que gastar espaço em
minha casa, se posso repor meus estoques em alguns minutos, com alguns dos
melhores rótulos do Planeta? Depois, acabamos sempre consumindo nossa coleção,
num ritmo que impede armazenamento prolongado.
Assim, abriu-se espaço para que organizássemos uma “carta de
vinhos” particular e manuscrita, como tudo mais o que faço. Nesse caderno dos
prazeres, registrei esses dias minhas impressões sobre o potente Malbec riojano
da Collovati: “Excelente! Acompanhando contra-filés argentinos (que estavam
ótimos), sente-se o poder do terroir da
pré-cordilheira”. Matei minhas saudades de La Rioja, aonde pretendo voltar,
muito brevemente. Se possível, prevendo uma parada mais cuidadosa na região de
Soñogasta, para conferir de perto este terroir
que conseguiu originar um Malbec possivelmente superior a muitos daqueles
produzidos na tradicional Mendoza, algumas centenas de quilômetros ao sul.
Paisagens de La
Rioja, na Argentina – Imensos cactos colunares, sobre os quais somente
faltam alguns daqueles linces que vemos, nas imagens de desertos americanos do
norte; Infindáveis montanhas da Pré—Cordilheira, que foi erguida nos últimos
cem milhões de anos, empurrada pelo soerguimento monumental dos Andes.
O riojano Collovati e nossa Carta de Vinhos particular
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