Recentemente retornado da segunda fase da Expedição
Fitogeográfica 2012 (Ver blog http//:expedicaofitogeografica2012.blogspot),
que me levara pelo sul do Brasil, Uruguay e Argentina, estava ansioso por
testar novamente meu braseiro, não sei bem se movido por certa inveja das
condições que atestara, naquelas terras, ou se pura e simplesmente motivado por
alguns rótulos curiosos que trouxera na mala. De todo modo, para não ocasionar
comparações inevitáveis, fiquei longe dos cortes de contra-filé – meus preferidos
– e decidi queimar uma bem brasileira picanha da Bassi, que é das mais
sinceras.
Consultando nosso estoque, achei por bem destampar um Monte Cinco - Malbec 2008, de Mendoza,
que adquirira na Malambo (www.malamboalmacen.com.ar),
que é uma wine store situada na calle Guatemala, esquina com Thames, no
Palermo Soho, em Buenos Aires. Vinoteca y
Almacén Criollo é como se intitula a Malambo, que vem disponibilizando
excelentes rótulos de vinhos argentinos, em alternativa às marcas mais
conhecidas.
A missão, na Argentina, mais que no Uruguay, era identificar
novos caminhos enológicos, como alternativas diferenciadas das grandes marcas,
que são facilmente encontradas no mercado brasileiro, ainda que a preços por
vezes salgados. Fora desta forma que, anos atrás, conhecêramos bodegas
emergentes, como Navarro Correas (Mendoza) e NQN (de Neuquen – Patagônia). Por
lá, os genuínos consumidores locais já as haviam consagrado, enquanto ainda
eram raras ou inexistentes, em nossas terras. E assim foi feito, especialmente
na Malambo, onde garimpamos alguns itens de certa “novidade”.
No Uruguay, não tivéramos tanto trabalho, em face do
universo bem menor de vinícolas e pelo fato de que por lá não faríamos muita
força para encontrar “novidades” propriamente ditas. As lojas brasileiras dão
muito pouca atenção àquele país – injustamente – e, portanto, nos contentávamos
em buscar alguns excelentes vinhos, que muito raramente encontramos em nosso
mercado. Já na Argentina, uma visita às lojas mais conhecidas não surpreende
tanto, a não ser nos preços, um pouquinho – apenas um pouquinho – mais baratos
que no Brasil: Grande parte dos rótulos já podem ser achados nas prateleiras
daqui.
Por isso, trouxemos alguns itens novos para nós, tais como o
fascinante Monte Cinco - Malbec 2008,
que foi aberto na tarde quente de Itaipava (!), tendo sido experimentado
sozinho, poucos minutos após a retirada da rolha; acompanhando deliciosas
linguiças de cordeiro, já bem arejado; e acompanhando a picanha, juntamente com
palmitos frescos produzidos pelo amigo Rolf
Dieringer e abobrinhas túrgidas, levados ambos ao braseiro, lado a lado.
Surpreendeu pela safra 2008 e pela passagem por barris de
carvalho, que lhe garantiu caráter marcante e preservou corpo pronunciado. Digo
que surpreendeu pela safra, pois parecia ter sido recém engarrafado, de tão
vivamente colorido pela fruta, cujos traços ainda ressaltavam na boca.
Harmonizou-se à perfeição e não decepcionou, crescendo a cada instante, talvez
devido à perda gradual de sua intensidade alcoólica, que era razoável: 14,4%!!
Bem, tratava-se de um Malbec! Um tanto acostumado aos Tannats uruguaios e aos
cortes incríveis que provara no Rio Grande do Sul, especialmente os Merlots +
Cabernet Sauvignon, senti falta dos taninos agressivos, de que tanto gosto.
Mas, não haverá como deixar de dar minha humilde aprovação ao Monte Cinco – Malbec 2008 desta tarde.
Não sei se foi apenas coincidência, mas até a fonte
murmurante dos Jardins do Templo Fitogeográfico e sua contínua e congestionada
fila de passarinhos, que aguardavam sua vez para o banho, ficou mais bonita e
com suas cores contratantes. Curiosamente, também ficaram mais pronunciados os
cantos maviosos das cambaxirras, tico-ticos e sabiás-laranjeira, no silêncio da
montanha. Também mais deslumbrante ficou a disputa entre uma saíra-amarela e um
canário-da-terra, para ver quem se banhava primeiro, nas águas que fluíam
mansamente da escultura da musa balinesa, na fonte... É, deve ter sido mesmo os
14,4% deste encorpado e inebriante Malbec.
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