domingo, 21 de outubro de 2012

EVENTOS ENOGASTRONÔMICOS DE SUPREMA IMPORTÂNCIA 3 – MALBEC MENDONCINO MUITO INTERESSANTE E CARNE BRASILEIRA


          Recentemente retornado da segunda fase da Expedição Fitogeográfica 2012 (Ver blog http//:expedicaofitogeografica2012.blogspot), que me levara pelo sul do Brasil, Uruguay e Argentina, estava ansioso por testar novamente meu braseiro, não sei bem se movido por certa inveja das condições que atestara, naquelas terras, ou se pura e simplesmente motivado por alguns rótulos curiosos que trouxera na mala. De todo modo, para não ocasionar comparações inevitáveis, fiquei longe dos cortes de contra-filé – meus preferidos – e decidi queimar uma bem brasileira picanha da Bassi, que é das mais sinceras.
Consultando nosso estoque, achei por bem destampar um Monte Cinco - Malbec 2008, de Mendoza, que adquirira na Malambo (www.malamboalmacen.com.ar), que é uma wine store situada na calle Guatemala, esquina com Thames, no Palermo Soho, em Buenos Aires. Vinoteca y Almacén Criollo é como se intitula a Malambo, que vem disponibilizando excelentes rótulos de vinhos argentinos, em alternativa às marcas mais conhecidas.

          A missão, na Argentina, mais que no Uruguay, era identificar novos caminhos enológicos, como alternativas diferenciadas das grandes marcas, que são facilmente encontradas no mercado brasileiro, ainda que a preços por vezes salgados. Fora desta forma que, anos atrás, conhecêramos bodegas emergentes, como Navarro Correas (Mendoza) e NQN (de Neuquen – Patagônia). Por lá, os genuínos consumidores locais já as haviam consagrado, enquanto ainda eram raras ou inexistentes, em nossas terras. E assim foi feito, especialmente na Malambo, onde garimpamos alguns itens de certa “novidade”.

          No Uruguay, não tivéramos tanto trabalho, em face do universo bem menor de vinícolas e pelo fato de que por lá não faríamos muita força para encontrar “novidades” propriamente ditas. As lojas brasileiras dão muito pouca atenção àquele país – injustamente – e, portanto, nos contentávamos em buscar alguns excelentes vinhos, que muito raramente encontramos em nosso mercado. Já na Argentina, uma visita às lojas mais conhecidas não surpreende tanto, a não ser nos preços, um pouquinho – apenas um pouquinho – mais baratos que no Brasil: Grande parte dos rótulos já podem ser achados nas prateleiras daqui.

          Por isso, trouxemos alguns itens novos para nós, tais como o fascinante Monte Cinco - Malbec 2008, que foi aberto na tarde quente de Itaipava (!), tendo sido experimentado sozinho, poucos minutos após a retirada da rolha; acompanhando deliciosas linguiças de cordeiro, já bem arejado; e acompanhando a picanha, juntamente com palmitos frescos produzidos pelo amigo Rolf Dieringer e abobrinhas túrgidas, levados ambos ao braseiro, lado a lado.

          Surpreendeu pela safra 2008 e pela passagem por barris de carvalho, que lhe garantiu caráter marcante e preservou corpo pronunciado. Digo que surpreendeu pela safra, pois parecia ter sido recém engarrafado, de tão vivamente colorido pela fruta, cujos traços ainda ressaltavam na boca. Harmonizou-se à perfeição e não decepcionou, crescendo a cada instante, talvez devido à perda gradual de sua intensidade alcoólica, que era razoável: 14,4%!! Bem, tratava-se de um Malbec! Um tanto acostumado aos Tannats uruguaios e aos cortes incríveis que provara no Rio Grande do Sul, especialmente os Merlots + Cabernet Sauvignon, senti falta dos taninos agressivos, de que tanto gosto. Mas, não haverá como deixar de dar minha humilde aprovação ao Monte Cinco – Malbec 2008 desta tarde.

          Não sei se foi apenas coincidência, mas até a fonte murmurante dos Jardins do Templo Fitogeográfico e sua contínua e congestionada fila de passarinhos, que aguardavam sua vez para o banho, ficou mais bonita e com suas cores contratantes. Curiosamente, também ficaram mais pronunciados os cantos maviosos das cambaxirras, tico-ticos e sabiás-laranjeira, no silêncio da montanha. Também mais deslumbrante ficou a disputa entre uma saíra-amarela e um canário-da-terra, para ver quem se banhava primeiro, nas águas que fluíam mansamente da escultura da musa balinesa, na fonte... É, deve ter sido mesmo os 14,4% deste encorpado e inebriante Malbec.



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