Eu tinha cerca de 16 anos e o surf estava em minhas veias; e na alma de praticamente todos os garotos de Ipanema, nos anos de 1970. Lá se vão quase 37 anos, um bocado de tempo. Mas tinha uma coisa que jamais me saíra da mente, aliás, o único lugar em que isso estava guardado: Uma história em quadrinhos – HQ como chamávamos – que eu desenhara, naquela tenra idade, se não me falha a memória, para um concurso de desenhos ou historinhas de uma revista ligada à turma de O Pasquim, jornaleco genial, que era o único a fazer frente, culturalmente, à ditadura que mandava no país. É claro que meu desenho não ganhou nada, pois essa turma não estava nem aí para o surf que, para eles, seguramente significava um modismo importado da juventude dourada da Califórnia – coisa de burguês. Porém, para mim, essa historinha representou um marco de minha mente imaginativa.
Cheguei a guardar uma fotocópia do tal HQ, que contava a História do Surf, em minha maneira de imaginá-la, num misto de humor e de espiritualismo juvenil. Porém, essa cópia amarelada simplesmente sumiu, talvez jogada no lixo por alguma pessoa incompreensiva, Mas, ao longo dos anos, ela ficou em minha cabeça e eu sempre sonhei desenhá-la de novo. Recentemente, ao postar alguns velhos desenhos, no Facebook, onde tenho reencontrado muitos amigos daqueles bons tempos, recebi uma chamada dura da amiga querida Eugenia Mari. Observando uma troca de conversas, no site de relacionamento, entre mim e outro amigo, que não conhecia meus dons artísticos como ela, pegou a deixa, quando ele me disse, ao ver um daqueles velhos desenhos: “Não conhecia esse dom”. Respondi acanhado: “LUTO para voltar a desenhar...” Eugenia não perdeu a chance: “Pois então, saia do LUTO e volte a desenhar..!”
Foi na boca do estômago essa descompostura da Eugenia e tomei a decisão: É agora! Voltarei a desenhar, da maneira que mais gosto e utilizando o tão sonhado tema. E assim veio a nova versão do HQ dos anos 70, desenhada com esferográfica preta – minha mais prazerosa ferramenta. Redesenhei a velha história, que ganhou um nome novo, bem representativo de seu conteúdo: A Time Line Up, algo que poderia soar como “uma linha do tempo”, mas que representa, na verdade, uma referência ao surf mesmo. O LINE UP, para os surfistas, é aquela linha imaginária, na qual ficam os surfistas esperando pelas ondas. A galera fica sentada em suas pranchas, aguardando que as séries entrem, para remar e surfá-las. O TEMPO (TIME) entrou nisso pela história do surf, que surgiu há milênios, supostamente no Hawaii, como um desafio de guerreiros, que enfrentavam as ondas “cascudas” do arquipélago místico. Porém, como vocês verão, minha teoria é um pouco mais complexa.
Ela foi desenhada em branco e preto, tal qual a versão original, pois é a técnica mais exigente para HQ. Ainda pretendo fazer uma versão colorizada, mas decidi publicá-la assim, da forma original. O roteiro e o story-board é praticamente o mesmo, o que também representou um desafio à minha memória e à minha capacidade sintética. Não poderia me perder em delongas e correr o risco de me transformar num Ridley Scott, diretor da mais sintética e densa película a que já assisti – Blade Runner – que mais tarde sucumbiu aos filmes de três horas, jamais voltando a realizar algo como o velho filme de ficção, deslumbrante, com pouco menos de duas horas de irretocável perfeição.
Alguns ícones comportamentais do surf mudaram, em todos esses anos, como o próprio esporte. Assim tratei de adaptá-los aos tempos atuais, para não perder sentido. Estou satisfeito, por ter realizado este “remake” e espero que divirta aos meus amigos e leitores, tanto quanto me divertiu. E lembrem-se: Nem tudo o que se conta da história do surf é verdade. Melhor ler A TIME LINE UP e tirar suas próprias conclusões.
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