Canteiro Sudoeste do
Setor Muro Dianteiro do Jardim Fitogeográfico, em
Petrópolis, Rio de Janeiro
Na postagem anterior – ORGANIZANDO UMA COLEÇÃO DE PLANTAS –
PARTE I: CADASTRANDO EXEMPLARES (POSTAGEM: http://orlandograeff.blogspot.com.br/2017/12/organizando-uma-colecao-de-plantas.html
) – mostramos a você como fazer para cadastrar as plantas obtidas, de
forma a tornar mais organizada e cientificamente válida sua coleção. Falamos
sobre numeração das plantas e sua indexação, de modo a jamais perder as
informações fundamentais sobre a espécie que entrou em seu valioso acervo.
Lembre-se de que recomendamos que suas coletas na natureza,
se forem realmente necessárias, não contribuam para o desaparecimento das
espécies, que representam justamente aquilo que você mais ama. Prefira
extrair-lhes um propágulo (uma ponta, offshot ou broto lateral), evitando
sempre arrancar plantas únicas, em flores ou frutos, para permitir que elas
possam de multiplicar em seu meio. Não arranque ou extraia plantas para vender
ou fornecer a terceiros; não leve mais que o necessário para seu posterior
cultivo e identificação na coleção; se possível, sendo habilitado para isso,
proceda à coleta de um ramo fértil (galho florido) e sua posterior
herborização, para depósito num herbário de instituição científica; faça boas
fotografias e anote tudo o que disser respeito às condições ecológicas da
população dessa planta e da comunidade vegetal em que vive.
TUDO ISSO SERÁ MUITO MAIS
IMPORTANTE PARA A CIÊNCIA DO QUE A MERA POSSE DA PLANTA, QUE SOMENTE SATISFARÁ
SUA VAIDADE DE COLECIONADOR.
Bem, uma vez tendo obtido sua planta – E TORÇO PARA QUE
TENHA PREFERIDO GANHÁ-LA OU ADQUIRI-LA POR MEIOS LEGAIS – será hora de escolher
a forma como ela será mantida em sua coleção. Você poderá cultivá-las em vasos
ou potes, em local apropriado (uma estufa ou casa de vegetação, por exemplo);
ou poderá mantê-las em canteiros, ou amarradas às árvores, se forem epífitas; ou entremeadas a pedras ou tocos, se forem plantas saxícolas; ou ainda mesmo afixá-las a superfícies de rochas,
se forem plantas rupícolas. Mas, espere aí, o que são
plantas epífitas, rupícolas ou saxícolas?
EPÍFITAS: plantas que
vegetam agarradas aos galhos ou troncos de outras plantas (principalmente
árvores). Usualmente, não são parasíticas, ou seja, apenas utilizam esses
locais para atingir a luz e buscar nutrientes, a partir da poeira atmosférica
e/ou aerossóis naturais. Orquídeas e bromélias são as mais famosas. Mas, há
aráceas, cactáceas, begoniáceas, gesneriáceas, enfim diversas outras que podem
mostrar hábitos epífitas, ou epifíticos.
Acima – bromélia Aechmea
distichantha vegetando como epífita, na floresta mista de araucárias,
em Campos do Jordão, SP
RUPÍCOLAS:
plantas que crescem sobre as pedras, utilizando-as exatamente para a mesma
finalidade que vimos nas epífitas.
Acima – bromélias Tillandsia
tenuifolia com hábitos rupícolas ou litofíticos, num afloramento de
rocha granítica, em Milagres, na Bahia
SAXÍCOLAS: embora muito
se confundam com as RUPÍCOLAS, as plantas saxícolas vegetam ENTRE pedras, ou
depósitos de solos rochosos, metendo suas raízes de entremeio aos blocos e o
material terrosos ali depositado.
Acima – belas plantas
de Dyckia
sp. (Bromeliaceae) crescendo em ambiente saxícola, na Serra Azul, Barra
do Garças, Mato Grosso
Então, conhecendo os ambientes em que suas plantas podem
crescer na natureza, além do próprio solo, de forma geral, como você acha que
seria interessante mantê-las, em sua coleção? Bem, já mencionamos os próprios
vasos, de modo geral, que você poderá manter em estufas, ou locais com
microclima adequado e semelhante àquele em que elas vegeta, na natureza. Mas,
no caso de nosso projeto do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, em que tentamos investigar e
reproduzir as relações ecológicas das plantas, nos ecossistemas, optamos por
outros dois modos de manter as plantas, além é claro da estufa.
CANTEIROS E JARDINS DE ÁREAS CAMPESTRES OU ABERTAS:
São aqueles nos quais cultivamos as plantas provenientes de
campos rupestres, campos de altitude, restingas e vegetações de natureza
rupestre. São geralmente BROMÉLIAS, ORQUÍDEAS, CACTÁCEAS, ARÁCEAS
(principalmente dos gêneros Philodendron e Anthurium) e, em alguns casos, de
VELOSIÁCEAS. Praticamente todas essas plantas são provenientes de ambientes
extremamente iluminados e arejados, onde formam complexas comunidades
botânicas, em que tomam parte plantas terrestres, tais como CLUSIÁCEAS,
MORÁCEAS, MIRTÁCEAS e outras arvoretas e arbustos muito tolerantes às condições
extremas desses ecossistemas. Nesses canteiros buscamos imitar as paisagens
naturais, aprendendo muito com isso sobre as relações entre essas plantas,
assim como à própria horticultura a elas relacionada.
VEJA A SEGUIR ALGUNS DOS CANTEIROS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO:
O ARBORETO:
Grande parte das plantas da coleção do JARDIM FITOGEOGRÁFICO
pertencem às famílias botânicas BROMELIACEAE e ORCHIDACEAE, caracterizando-se
por espécies fundamentalmente epífitas, embora muitas delas apresentem hábitos
alternativos, sendo também encontradas no solo, ou nas rochas. Assim, ao mesmo
tempo em que reflorestamos uma área de quase 6.000m2, na encosta abaixo da
residência, além de mais algumas centenas, numa área de reserva florestal
lindeira, começamos a cultivar nossas plantas diretamente nos troncos e galhos
das árvores nativas pré-existentes e de algumas daquelas que plantamos. Esta
área, cortada por algumas centenas de metros de trilhas e aleias, é chamada de
ARBORETO.
O cultivo de plantas no ARBORETO é complexo e trabalhoso,
principalmente por causa do contínuo crescimento das árvores-suporte, assim
como de outras tantas, que surgem de forma espontânea, produto da regeneração
da flora local. Essa gradual evolução do stand florestal determina alteração
constante do mapa de sombras e da microclimatologia, ocasionando consequentes
mudanças nas condições de cada espécie. Mas, de modo geral, os resultados têm
sido gratificantes, ajudando a mostrar de que forma essas plantas se adaptam à
complexidade natural de seus ecossistemas. Enfim, é um maravilhoso desafio.
OBSERVE COMO SÃO MANTIDAS AS PLANTAS EPÍFITAS, NO ARBORETO,
ASSIM COMO AS TERRESTRES DE HÁBITOS FLORESTAIS:
MAS, CUIDADO! NÃO É APROPRIADO INSERIR ESPÉCIES EXÓTICAS OU
ESTRANHAS À FLORA LOCAL, QUANDO VOCÊ TIVER UMA FLORESTA NATIVA CONSERVADA! Elas
poderão invadir o restante da mata e concorrer com as plantas nativas,
fazendo-as desaparecer. Em nosso caso, o JARDIM FITOGEOGRÁFICO, assim como a
reserva florestal lindeira, representam fragmento ressurgente de vegetação, em
área isolada das demais florestas, onde somente havia antes pastagens e
capoeiras.
Em nossa próxima postagem, vamos comentar o que fazemos para
ORGANIZAR A COLEÇÃO, sem perder a identidade e a localização de nossas tantas
plantas
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