quinta-feira, 24 de agosto de 2017

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – NEOREGELIA MACWILLIAMSII vs. N. COMPACTA

Falando esses dias sobre as “armadilhas da morfologia”, durante uma palestra sobre vegetações brasileiras, no 68º Congresso Nacional de Botânica, no Rio de Janeiro, referi os ensinamentos do amigo Gustavo Martinelli, um dos mais brilhantes naturalistas que conheço: - Orlando, cuidado com a morfologia pura e simples das plantas! O que importa é conhece-las, para saber se são ou não são diferentes ou iguais!

Martinelli mostra, com imensa facilidade, em face dos mais recentes conhecimentos e avanços da filogenia de grupos, o quanto a Botânica se equivocou, até hoje, ao aproximar e aparentar plantas morfologicamente similares, agrupando-as em famílias e gêneros, por vezes espécies iguais, levando em conta meramente sua parecença física. De fato, famílias inteiras de plantas têm sido movidas e alteradas, deixando para trás essas impressões artificiais e adotando o verdadeiro conhecimento de sua biologia e de sua história evolutiva.

Bem, sabemos que a ciência, de modo geral, está eivada de artificialismos, até porque é o homem que a faz, somos nós que observamos a natureza e, portanto, será sempre à luz de NOSSOS conhecimentos que faremos nossas classificações e agrupamentos daquilo que observamos: plantas, bichos, paisagens botânicas e a Fitogeografia, afinal. Então, não podemos também apenas reclamar daqueles que, outrora, se dedicaram a classificar e organizar o que viam, para nos deixar seu precioso legado.

Também devemos lembrar da genialidade e da capacidade de observação empírica de grandes gênios, a começar por Darwin, que sintetizou sua irretocável Teoria da Evolução das Espécies, quase que simplesmente a partir de suas observações e reflexões, pouco mais tendo à mão, naqueles tempos, que lupas e cadernetas de campo. Sob tal aspecto, até pelo objeto principal desta postagem do blog, devo remeter ao meu querido tutor bromeliológico Ivo Penna, que nos deixou recentemente, que referia, por seu turno, o grande professor Edmundo Pereira, com quem trabalhara, por muitos anos e que lhe ensinara um método valioso, na análise das bromélias: “tem que observar o jeitão da planta!”, afirmava Pereira, como método mais importante de investigação de plantas que vinham da natureza e eram estudadas.

Ivo Penna, certa vez, me chamou a observar a imensa diferença entre duas espécies de bromélias das restingas fluminenses, que a jardinocultura e até mesmo colecionadores reputavam espécie única, sob a denominação de Neoregelia compacta. De muito fácil cultivo e então abundantes nas áreas silvestres do Rio de Janeiro, essas bromélias eram massivamente coletadas, para compor jardins residenciais, em todos os cantos. Assim com as bromélias-imperiais da Serra Fluminense (Alcantarea imperialis), as “neoregélias” não faltavam nos viveiros do Rio. Só que, poucos notavam, havia ali na verdade DUAS PLANTAS DIFERENTES, morfologicamente parecidas, mas com hábitos e biologias completamente diversos uma da outra: Neoregelia compacta e Neoregelia macwilliamsii.

A vocês leitores, faço hoje o mesmo que fez o saudoso Ivo Penna, ao me mostrar, lado a lado, essas duas plantas em flores, para que eu apurasse meu senso de observação e constatasse o quanto diferiam uma da outra, embora exibissem morfologia tão similar, quando vistas nos cenários de cultivo. Ambas são plantas de farto crescimento lateral – estoloníferas – e se espalham de modo muito parecido, recobrindo grande área, em curto espaço de tempo. Ao observá-las na natureza, contudo, poderemos constatá-las ocupando nichos ecologicamente diferentes, árvores-suporte (forófitos) distintas e microambientes específicos, havendo certa variação na preferência pela iluminação e proximidade da influência salina do oceano.

Vejam então, a seguir, essas duas plantas da flora fluminense, em flores, no JARDIM FITOGEOGRÁFICO, que foi concebido exatamente para esta finalidade: cultivar as plantas da natureza brasileira, buscando a recriação de seus ambientes originais:

A Seguir - Neoregelia compacta (Mez) L. B. Smith e suas flores de coloração levemente violeta




Adiante – Neoregelia macwilliamsii L. B. Smith e suas flores esbranquiçadas e com forma diversa daquela de N. compacta






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