Artigo publicado no Boletim da Sociedade Brasileira de
Bromélias-SBBr , em 2001, e
atualizado em julho de 2010, para disponibilização no portal da internet Pluridoc www.pluridoc.com
Bromélias são plantas da família botânica Bromeliaceae, de distribuição
praticamente exclusiva no Continente Americano. As chamadas bromélias-tanque,
espécies que são capazes de guardar água no imbricamento de suas folhas,
representam importante capítulo na diversidade biológica das restingas
arenosas, que caracterizam grande parte da paisagem litorânea do Brasil. Mesmo
se tratando de uma vegetação estritamente relacionada à Mata Atlântica, bioma
abundante em águas, as restingas são ambientes de notável restrição hídrica.
Assentadas sobre areias litorâneas, de origem Quaternária, as restingas são
pobres em aquíferos e sua fauna enfrenta sérias restrições com relação à
disponibilidade de água.
Desta forma, em determinadas regiões de restinga, as bromélias são os
únicos locais onde os animais poderão encontrar este recurso essencial. Existem
espécies que podem guardar diminutas quantidades de água – menos do que o
conteúdo de um copo, tais como nos gêneros Neoregelia, Vriesea e Aechmea.
Outras conseguem armazenar tanto quanto o conteúdo de um balde, ou mais até,
como ocorre nas plantas do gênero Alcantarea, que alternam sua
ocorrência, nos costões rochosos marginais às planícies litorâneas. A água das
bromélias não é pura, apesar de se apresentar frequentemente clara e límpida.
Ela contém sais minerais, ácidos orgânicos e toda uma coleção de organismos que
vivem nela ou dela se utilizam para alguma parte de suas vidas.
Os animais podem utilizar as bromélias apenas para se dessedentar, no
ambiente hostil e quente da restinga: Desde cachorros do mato até quatis bebem
águas nas bromélias, sendo elas, por vezes, sua única fonte de água. Outros
animais frequentam o tanque das bromélias para caçar ou apenas para molhar a
pele, como é o caso dos anfíbios e répteis, além de aves e até mesmo pequenos
mamíferos, entre eles o mico-leão-dourado, nas matas litorâneas do Rio de
Janeiro.
Existem outros bichos que depositam seus ovos nas bromélias, para que
suas larvas passem ali os primeiros momentos da vida: pererecas, mosquitos,
libélulas e certos crustáceos. Aliás, existem formas de vida que passam a vida
inteira dentro dos tanques das bromélias e, nas restingas e na Mata Atlântica,
alguns deles são exclusivos desse ambiente.
Tão variada é a fauna dos tanques das bromélias quanto complexa, sendo
comum existir uma estrutura extremamente especializada, respeitando horas do
dia e estações do ano para suas atividades. Numa restinga, as bromélias
situadas na borda sul das moitas de vegetação terão uma fauna diversa daquelas encontradas
na borda norte. Igualmente, as plantas situadas na sombra terão comunidades
animais diferentes daquelas que vicejam em pleno sol. Animais observados na
água das bromélias durante o verão serão diferentes daqueles encontrados
durante o inverno, não somente em quantidade, mas também em qualidade.
Por isso, as bromélias são reputadas como multiplicadoras de vida na
natureza. Delas dependem inúmeras formas de vida extremamente exclusivas e
importantes para o restante dos ecossistemas e até para o homem. Os
pesquisadores consideram as bromélias como indicadores biológicos ou
simplesmente bioindicadores, uma vez que sua presença, em maior ou menor
número na vegetação, indicará o grau de conservação do sistema ecológico local.
Além da água que as espécies tanque-dependentes armazenam, as bromélias possuem
imensa interdependência com aves, morcegos e insetos que as polinizam ou delas
dependem para comer os frutos.
Preservar as bromélias na natureza é tarefa essencial para manter a
qualidade do ambiente. A destruição dos ecossistemas de restinga, assim como a
coleta de suas plantas representa perigosa pressão, no sentido da extinção de
inúmeras espécies de bromélias e de toda uma variada fauna ainda pouco
conhecida pela ciência.
Bromélias representam determinantes ambientes multiplicadores de vida,
nas vegetações que cobrem as restingas arenosas do litoral brasileiro:
Acima – Neoregelia
spectabilis exibindo seu tanque reservatório de água. As flores brancas
emergem em meio ao poço central de suas folhas e seus frutos representam
importante fonte de alimentação para pássaros.
Abaixo – População de
bromélias Hohenbergia castellanosii, numa vegetação de restinga do
Recôncavo Baiano – Plantas em crítico estado de ameaça, devido à coleta
criminosa e à destruição da vegetação
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