Manhã de sol simplesmente deslumbrante, em Petrópolis. No período entre os dias 15 de janeiro e 15 de fevereiro de cada ano, nossa região experimenta quase invariavelmente seu veranico. Ele pode ter uma semana ou até mesmo, nos casos mais extremos, ocupar um mês inteiro, o que não vem acontecendo este ano. Sol e céu azul são tudo o que você verá, durante esses dias. Sorte nossa que Itaipava tem um dos melhores climas do país e, assim, não deixa de bater uma brisa leve e agradável, que nos transporta a paisagens já vistas, na Argentina ou no Uruguai. Do Uruguai veio o vinho que abrimos hoje – Don Pascual Tannat reserva, safra 2011.
Da grelha, saltaram uns bifões de contra-filé argentino, emoldurados com uma capa de gordura incorruptivelmente branca, cortados com três dedos de largura. Procedência: Província de Buenos Ayres. Não tem muito segredo, a não ser ficar ali, muito atento, cuidando dos petiscos, de forma a assá-los baixo, num braseiro alucinadamente quente, começando pelo lado da gordura (eles se equilibram sobre ela, por conta de sua espessura, digamos assim, exagerada). Desculpem-me os criadores de gado zebuíno, de cuja raça detemos hoje o maior rebanho do Planeta, mas nada poderá rivalizar com a carne do Cone Sul, produzida a partir de raças européias.
Na mesa, o vinho uruguaio! Primeira surpresa foi a rolha que, poucos minutos após destampada, exibia coloração exatamente idêntica àquela que muitos de nós conhecemos, nos bons tempos: Picolé de uva, em pleno verão da praia de Ipanema. Sim, falo daquele “uvita” ou “ki-uva”, que imaginávamos artificial, devido àquela cor violeta profunda e homogênea. Pois ali estava ela, a cor UVITA, na pontinha da rolha, prometendo sensações originais. E elas vieram, a começar pelos primeiros aromas testados no copo, entre o vai e vem cozinha-churrasqueira; churrasqueira-cozinha. Eram densos e prolongados, mesmo com a taça ainda quieta.
A primeira degustação foi prazerosa e se fez acompanhar de intensa liberação de aromas de frutas. Claro, um vinho novo como esse poderia não ser lá tudo de bom, deixando sobressair a fruta... mas foi! Enquanto enfrentávamos os gordos nacos do contra-filé dos hermanos (delicioso, mas ainda creio mais nos gaúchos), descobríamos evolução excepcional no vinho do Establecimiento Juanicó. Taninos fortes cortavam feito faca no churrasco, enquanto o corpo se pronunciava vagarosamente. Não chegou ao corpo dos Malbec justa-andinos, mas permaneceu razoavelmente na boca. A coloração dos vinhos jovens é deliciosamente plástica e alegra a bebida.
Os bons vinhos da região próxima a Montevideo se devem ao encontro do clima temperado do Prata e aos solos herdados da longa degradação dos granitos-rosa, cujos velhos matacões ainda podem ser divisados na paisagem, quando se cruza a Ruta no05, a caminho de Rivera. Fica a dica da aventura eno-gastronômica deste domingo: Vinhos uruguaios SIM. Do que se faz por lá, não posso negar, minha grande preferência é pela variedade Tannat, que alguns poderão chamar de Harriague. Novos como o nosso de hoje ou remontando à safra lendária de 2002, eles sempre surpreenderão. Mas, de qualquer forma priorizo os Reserva, que ganham forma, ao passar pelo carvalho.
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