quinta-feira, 23 de junho de 2011

INÍCIO DE INVERNO EM ITAIPAVA – UM CHATO NA SERRA

          Do outono para o inverno, surgem paisagens que não costumamos ver, durante outras épocas do ano, em Itaipava. Não que as demais estações do ano não tenham seu charme próprio, claro que não! Mas, nesta época, os cenários ganham uma tonalidade esmaecida, conferida pela constante condensação da umidade, guardada durante as épocas chuvosas, o que acontece mais nas madrugadas frias e daí para as primeiras horas da manhã, resulta em brumas suaves, que realçam as cores da paisagem. Entremeando-se entre vales anfractuosos, em meio às escarpas elevadas das altas serras, essa névoa tênue nos permite entender as verdadeiras formas dessas montanhas elevadas, além de lhes emprestar coloração suavemente azulada. É comum que exclamemos, frente a tão belos espetáculos: Eu nunca havia percebido aquela montanha, que agora vejo ali, na frente daquela outra, mais alta. Essas revelações de início de inverno, na verdade, são apenas parte do que podemos ver de bom, em Itaipava, nesta época do ano, mas também em tantas outras estações.
          Acordando cedo, todos os dias, aí pelas 6:00h ou pouco depois, costumo iniciar meu dia com uma conferida nos jardins de minha casa, sendo cumprimentado invariavelmente pelos ansiosos pastores-alemães, que contam os minutos, até nossa aparição. Tem que ter roupa própria para isso – e tenho – daquelas mais surradas, para aguentarem a alegria da bicharada, depois de toda uma noite de expectativas pelos donos adorados. Vale à pena! Uma conferida no termômetro, quase sempre nos informará que a manhã se inicia com algo em torno dos 10oC, o que desperta ainda mais fome. Ah, o café da manhã: Pães quentinhos, da Padaria de Bonsucesso, alguns dos melhores do país, me acreditem, ou mesmo o famoso pão integral do Luiz. Mas, espere aí! Se é para falar das boas coisas de Petrópolis e Itaipava, não posso deixar de citar o pão do Sítio do Moinho, do grande Dick Thompson, figura inesquecível que abandonou o Rio, para fazer por aqui um monte de coisas de que gostava e que faz como ninguém: Verduras orgânicas, conservas e massas pré-prontas para você terminar de preparar na sua própria casa, com gostinho de home-made.
         Café da manhã de Itaipava também é cheio de frutas de excelente qualidade, adquiridas no mesmo lugar em que encontramos as coisas deliciosas do Sítio do Moinho – Hortomercado de Itaipava. O lugar tem seu charme, não somente por que encontramos nele tudo de bom para nossas mesas esfomeadas de inverno, mas por que também achamos nossos amigos, com suas bolsas reutilizáveis, correndo atrás das mesmas coisas que nós, ou simplesmente comendo pastel no boteco do Horto, tomando uma cerveja gelada – coisa perfeitamente possível, no clima da região, depois das 10:00h, quando o sol domina o dia. Na divertida fila da banca do Fernando, que acaba se organizando sozinha, todo mundo meio entreverado, encontramos artistas de televisão, escritores, jornalistas famosos e toda sorte de gente interessante, que aguarda sua vez para comprar os melhores itens do Rio de Janeiro: patês, requeijões, pães (inclusive do Sítio do Moinho), frios e especialidades. Do Hortomercado de Itaipava, você sairá invariavelmente sequioso por um bom rótulo de vinho, pois a coisa fica prometendo, com tantas delícias na bolsa.
          Achou que não ia encontrar bons vinhos em Itaipava? Bem, afinal, é final de semana, deve estar tudo fechado... Qual nada! Seu passeio está apenas começando, pois falta você dar uma conferida nos diversos endereços, nos quais você se surpreenderá com a diversidade de excelentes marcas, de todas as origens do Planeta: Sem que isso signifique uma ordem da minha preferência, posso citar o Ailton e seus filhos, no Shopping Altair, lugarzinho que a gente se sente na casa dos amigos; o Ari de Araras – que agora tem sua filial chiquérrima, no Shopping Estação – com excelentes rótulos até do Brasil; ou tem o sofisticado Lidador, no Shopping Arcadia. Alguém poderia logo indagar: “Mas isso tudo deve ter ocasionado longos deslocamentos”. Afinal, são tantos lugares a visitar, antes de voltar pra casa. Qual nada! Tudo isso acontece em pouco mais do que quatro quilômetros, nos quais existem tantas outras coisas incríveis, que você não encontrará, certamente, tempo bastante para conferir, num final de semana somente. Mas, já que andamos “tanto”, terminando as compras no Shopping Arcadia, com uma garrafa de bom chileno nas mãos, que tal comer ali mesmo, antes de voltar para nosso esconderijo nas montanhas?
          Pois será neste shopping Arcadia mesmo que você encontrará uma comida simplesmente inacreditável: Pimenteira Imperial... é o nome dos restaurante. Mas, espera aí! Nós de Itaipava o conhecemos mesmo por: Marquinhos! É, Marquinhos é o restauranteur que conduz este “quilo” gastronômico, em Itaipava. Não conheço outra pessoa com o talento dele para transformar um restaurante ao quilo num semelhante festim de delírio gastronômico, verdadeira “Festa de Babete”, se você não tomar cuidado e fechar um pouco a boca. O mais interessante disso tudo é que o Marquinhos é nosso colega de malhação, no Itaipava Gym, assim como outros talentosos profissionais que abundam em Itaipava. É isso: Em Itaipava, você convive com as pessoas que estão por trás dos excelentes negócios, que marcam a região. Alguns deles, sequer possuem um endereço notável, pois não dão conta de atender às encomendas e solicitações feitas pelos conhecidos, amigos, pessoas que te vêem, pelas ruas, como jamais aconteceria no Rio ou qualquer outra grande metrópole.
          Poderia encher essa página de exemplos disso: A Luciana, que faz os melhores doces e tortas que alguém poderá ter provado; O Ademar e a Tereza, que são dois dos melhores veterinários de cavalos de raça que alguém encontraria – Aliás, nem vou começar a falar em cavalos, que mereceriam capítulo próprio, em Itaipava – Melhor nem recomeçar a listar as coisas boas de Itaipava. Melhor me concentrar neste fato notável: Tudo isso está ali, na sua frente, na maior naturalidade, sem salamaleques ou formalidades. Tem um amigo que fala: “Em Petrópolis, se você fechar os olhos e apalpar, não terá erro: É comadre ou é compadre!” É isso, você é um ser humano por aqui, não meramente um cartão de visita, um folder ou anúncio nalguma placa.
          Pois é, sentado próximo à janela de minha casa, olhando a deslumbrante Serra da Maria Comprida, bem na minha frente, num dia desses, de início de inverno, convenço-me de uma coisa importante, para um sujeito chato como eu: Reclamar de autoridades que tratam tão mal um lugar perfeito como esse é um direito... é uma OBRIGAÇÃO! Cheguei a pensar que não tinha nem esse direito e nem essa obrigação e que estava ficando ranzinza e de mal com a vida. Qual nada! Se fosse assim, eu não estaria honrando tanta coisa boa que Itaipava e Petrópolis têm para me oferecer, deixando que estraguem tudo isso, em nome da mediocridade de alguns – MUITOS – gestores públicos. Sigo em frente, chato como na primavera e no verão, mas deliciosamente envolto por essa inigualável paisagem da Região Serrana do Rio de Janeiro.


sexta-feira, 17 de junho de 2011

A TIME LINE UP – A VERDADEIRA HISTÓRIA DO SURF

          Eu tinha cerca de 16 anos e o surf estava em minhas veias; e na alma de praticamente todos os garotos de Ipanema, nos anos de 1970. Lá se vão quase 37 anos, um bocado de tempo. Mas tinha uma coisa que jamais me saíra da mente, aliás, o único lugar em que isso estava guardado: Uma história em quadrinhos – HQ como chamávamos – que eu desenhara, naquela tenra idade, se não me falha a memória, para um concurso de desenhos ou historinhas de uma revista ligada à turma de O Pasquim, jornaleco genial, que era o único a fazer frente, culturalmente, à ditadura que mandava no país. É claro que meu desenho não ganhou nada, pois essa turma não estava nem aí para o surf que, para eles, seguramente significava um modismo importado da juventude dourada da Califórnia – coisa de burguês. Porém, para mim, essa historinha representou um marco de minha mente imaginativa.

          Cheguei a guardar uma fotocópia do tal HQ, que contava a História do Surf, em minha maneira de imaginá-la, num misto de humor e de espiritualismo juvenil. Porém, essa cópia amarelada simplesmente sumiu, talvez jogada no lixo por alguma pessoa incompreensiva, Mas, ao longo dos anos, ela ficou em minha cabeça e eu sempre sonhei desenhá-la de novo. Recentemente, ao postar alguns velhos desenhos, no Facebook, onde tenho reencontrado muitos amigos daqueles bons tempos, recebi uma chamada dura da amiga querida Eugenia Mari. Observando uma troca de conversas, no site de relacionamento, entre mim e outro amigo, que não conhecia meus dons artísticos como ela, pegou a deixa, quando ele me disse, ao ver um daqueles velhos desenhos: “Não conhecia esse dom”. Respondi acanhado: “LUTO para voltar a desenhar...” Eugenia não perdeu a chance: “Pois então, saia do LUTO e volte a desenhar..!”

          Foi na boca do estômago essa descompostura da Eugenia e tomei a decisão: É agora! Voltarei a desenhar, da maneira que mais gosto e utilizando o tão sonhado tema. E assim veio a nova versão do HQ dos anos 70, desenhada com esferográfica preta – minha mais prazerosa ferramenta. Redesenhei a velha história, que ganhou um nome novo, bem representativo de seu conteúdo: A Time Line Up, algo que poderia soar como “uma linha do tempo”, mas que representa, na verdade, uma referência ao surf mesmo. O LINE UP, para os surfistas, é aquela linha imaginária, na qual ficam os surfistas esperando pelas ondas. A galera fica sentada em suas pranchas, aguardando que as séries entrem, para remar e surfá-las. O TEMPO (TIME) entrou nisso pela história do surf, que surgiu há milênios, supostamente no Hawaii, como um desafio de guerreiros, que enfrentavam as ondas “cascudas” do arquipélago místico. Porém, como vocês verão, minha teoria é um pouco mais complexa.

          Ela foi desenhada em branco e preto, tal qual a versão original, pois é a técnica mais exigente para HQ. Ainda pretendo fazer uma versão colorizada, mas decidi publicá-la assim, da forma original. O roteiro e o story-board é praticamente o mesmo, o que também representou um desafio à minha memória e à minha capacidade sintética. Não poderia me perder em delongas e correr o risco de me transformar num Ridley Scott, diretor da mais sintética e densa película a que já assisti – Blade Runner – que mais tarde sucumbiu aos filmes de três horas, jamais voltando a realizar algo como o velho filme de ficção, deslumbrante, com pouco menos de duas horas de irretocável perfeição.

          Alguns ícones comportamentais do surf mudaram, em todos esses anos, como o próprio esporte. Assim tratei de adaptá-los aos tempos atuais, para não perder sentido. Estou satisfeito, por ter realizado este “remake” e espero que divirta aos meus amigos e leitores, tanto quanto me divertiu. E lembrem-se: Nem tudo o que se conta da história do surf é verdade. Melhor ler A TIME LINE UP e tirar suas próprias conclusões.

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