domingo, 9 de outubro de 2016

PLANTAS DO JARDIM FITOGEOGRÁFICO – BROMÉLIA NIDULARIUM FERDINANDO-COBURGII

Nidularium ferdinando-coburgii na natureza

É muito comum, na comunidade de amantes da Botânica, não pertencentes à Academia (universidades e instituições de pesquisa), a circulação de nomes de plantas em que, ao nome binomial, apõem um terceiro nome, dito como VARIEDADE. Na grande maioria das vezes, a tal “variedade” nada mais representa que uma FORMA da planta, um clone da espécie cultivada, que apresentou características interessantes e, por isso, foi propagada vegetativamente, à exaustão, para suprir o mercado. Assim, na Botânica, essas plantas devem ser chamadas de FORMA, como dito acima.

As verdadeiras VARIEDADES são populações de plantas de determinadas espécies, que subsistem na natureza, usualmente ocupando microrregiões geográficas distintas da forma típica. Sim, elas um dia saíram daquela dita FORMA TÍPICA da planta, devido a mutações ou seleções ocasionais, que geraram indivíduos adaptados a certas mudanças ou particularidades do meio, logrando se perpetuarem e ocuparem território próprio. Existem teses que aventam a hipótese de que certas variedades de plantas terem sido, num passado remoto, a própria planta TIPO e que aquilo que encontramos hoje, em maior número e mais numerosamente representado, ser a VARIEDADE, que prosperou e colonizou as maiores áreas de ocorrência.

Isso não é nada provável, tão somente por questões estatísticas, que reputam muito mais provável que a variedade típica, mais numerosa e bem distribuída, obrigatoriamente assimilaria velhas populações menos importantes. De todo modo, como não é nosso blog um compêndio de genética evolutiva, servimo-nos de nossas primeiras linhas apenas para esclarecer bem o que é realmente uma VARIEDADE e o que representa uma FORMA.

Em Petrópolis, tanto quanto em grande espaço territorial da floresta atlântica de altitude, no Brasil Sudeste, ocorre uma bromélia que se torna característica dessa faixa ecológica – Nidularium ferdinando-coburgii. Nas florestas da região, especialmente nos vales mais abrigados, acima dos 1.000m de altitude, geralmente nas proximidades de cursos d’água murmurantes, essa bromélia assume importância capital, surgindo como espécie mais numerosa.

Roseta e flores de Nidularium ferdinando-coburgii

Ela vegeta principalmente no terço inferior dos troncos e galhos das árvores e sobre o solo, por cima de matacões de pedra, ou meramente na manta de folhas secas que cobre o chão úmido das matas de altitude. Na primavera, principalmente, deixa surgir uma coroa de folhas róseo-avermelhadas, no centro da roseta (coisa comum às bromélias deste gênero), entre as quais emergem flores arroxeadas, com pétalas fechadas e margeadas por linhas delicadamente alvas (ver fotos). Essas coroas vistosas servem para atrair aves e insetos, mas também para chamar atenção dos amantes de plantas, que a reconhecem de pronto, em meio ao caos da floresta densa.

Nidualrium ferdinando-coburgii apresenta variações clonais, que a fazem parecer, às vezes, plantas distintas. Também é comum, em vista da famosa plasticidade de formas desta família botânica (Bromeliaceae), que pensemos ter encontrado “variedades” da espécie, neste ou naquele morro, o que termina por se revelar equívoco, ao cultivarmos essas plantas, em condições diferentes daquela do habitat, quando todas convergem para um mesmo padrão.

Florescimento de Nidularium ferdinando-coburgii na coleção do JARDIM FITOGEOGRÁFICO


Na coleção de plantas do JARDIM FITOGEOGRÁFICO, Nidularium ferdinando-coburgii vegeta de forma idêntica à de seu habitat, até por terem sido plantadas em fac-símiles destes ecossistemas, que ocorrem poucos quilômetros dali. Por serem plantas nativas, sua tendência é de que se dispersem naturalmente, na floresta recuperada da coleção. Nesta mesma condição, possuímos uma virtual VARIEDADE de Nidularium ferdinando-coburgii, que coletamos na região, há muitos anos, exatamente para esclarecer-lhe a identidade. Essa variedade, em fase de descrição botânica, pelo taxonomista de bromélias Ivo de Azevedo Penna, apresenta a coroa de folhas centrais absolutamente verde, mesmo em estágio de florescimento, característica que havíamos observado, em seu habitat nativo, e que se manteve imutável, em diversas condições de cultivo, ao longo dos últimos anos.

Nidularium ferdinando-coburgii Wawra variedade viridis Penna habita certo vale da Serra dos Órgãos, onde somente ela ocorre, inexistindo populações da planta típica. Quando a encontramos, ficamos intrigados com a ausência de pigmentação violácea, em todas as plantas que encontramos, floresta afora. Coletamos diversos exemplares jovens e imaturos, como forma de nos certificarmos que as progênies em curso manteriam essa estranha característica. Todas as plantas desenvolveram a coroa esverdeada, característica que jamais perderam, ano após ano, mesmo depois de sua propagação vegetativa, que originou diversas plantas, mantidas até hoje em locais distintos e acompanhados.

Nidularium ferdinando-coburgii variedade viridis no habitat


A planta também apresenta aspecto pouco mais robusto de folhas e brácteas, diferindo assim da variedade típica, cujas folhas são levemente mais afiladas. Porém, nenhuma dessas variações morfológicas foi capaz, segundo Ivo Penna, de sustentar pretensões taxonômicas de elevá-la a espécie distinta. Então, antes de nos apressarmos em ver variedade e novas espécies, nas plantas que nos vêm às mãos, tratemos sempre de conhecer suas populações naturais e sua ecologia. Sem isso, estaremos constantemente inventando nulidades científicas.

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