quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A tragédia de Itaipava

Quando iniciei meus trabalhos, na área ambiental, em Petrópolis, no início da década de 1990, tomei contato, pela primeira vez, com as idéias dos diagnósticos e zoneamentos ambientais, através das idéias defendidas pela então Chefe (Gerente) da Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis (APA-Petrópolis) Yara Valverde. Para aqueles que não são plenamente familiarizados com as políticas públicas para meio ambiente, devo explicar que uma APA representa uma determinada área territorial, definida por Lei, na qual as atividades humanas devem ser conduzidas sob diretrizes especialmente direcionadas à proteção da natureza. É uma unidade de conservação, neste caso, sob a tutela do Governo Federal (Instituto Chico Mendes – Ex-Ibama), mas não é propriedade da União, como os Parques Nacionais ou Reservas Biológicas. Não possui cercas e portarias, as terras são privadas e apenas o desenvolvimento humano é supervisionado pelo Estado... Ou, pelo menos, deveria.
Yara Valverde, hoje Doutora em Gestão Ambiental, com ênfase em APAs e paisagens protegidas, preconizava a realização de estudos ambientais, incluindo o chamado Geoprocessamento (Análise de imagens e mapas), antes da realização de qualquer projeto de desenvolvimento urbano. Como Petrópolis e Itaipava sempre foram áreas de grande interesse, para o desenvolvimento de condomínios e loteamentos, acabei assessorando inúmeros empreendedores, na tarefa de planejar essas novas áreas habitadas, cuidando para que seu inevitável impacto ambiental fosse o menor possível e, em alguns felizes casos, as paisagens resultantes se tornassem ainda melhores do que antes. Não demorou para que eu percebesse a filosofia da Yara Valverde de, sim, aceitar que o desenvolvimento era inevitável, mas que poderia servir para se traçarem as linhas de uma paisagem urbana bem melhor, para o futuro.
Aprendi muito, fazendo o que fazia e observando os demais profissionais Arquitetos, Engenheiros e Geólogos, que planejavam essas novas áreas residenciais e que me escutavam, quando também eu indicava diretrizes e recomendações, em minha área específica de atuação – Agronomia (Sentido Amplo), dentro dos Diagnósticos e Zoneamentos Ambientais. Percebi que, quando se decide desempenhar corretamente o planejamento urbano, utilizando-se técnicas e não a politicagem e o populismo, podem efetivamente surgir cidades melhores e mais seguras. Porém, quando se vira as costas para tudo isso, estamos semeando tragédias, tais como essas que agora se repetem, de forma avassaladora, nas cidades serranas de Petrópolis (Itaipava), Teresópolis e Nova Friburgo. Vi nascerem condomínios e loteamentos que hoje representam áreas seguras e relativamente conservadas, em seu meio ambiente: Condomínio Quinta do Lago; Vale do Barão; Santa Clara (Araras), entre outros, todos precedidos de estudos ambientais, planejamento e estudos de impacto ambiental.
No sentido inverso, assisti à luta da Yara Valverde, assim como da então Promotora de Justiça Denise Tarin e de outras autoridades, contra a liberalidade com que os gestores públicos, principalmente do poder público municipal, tratavam a questão habitacional popular. Votos eram a única e exclusiva motivação desses “homens públicos” para a condução dos rumos do desenvolvimento de qualquer uma dessas cidades. Fiz minha parte, até onde o pensamento ético e técnico foi demandado, neste processo complexo. Depois, frente ao desinteresse real pela qualidade do desenvolvimento e ao êxito dos interesses políticos “desenvolvimentistas”, fui gradualmente me afastando, pois não tinha forças contra os PACs impostos como “solução final”, a qualquer custo. Isso tem tudo a ver com o que postei, alguns textos atrás, neste blog: Consumo a qualquer custo!
Sonho, realmente, em ver restituído o império da Lei e da técnica, contra a vontade pessoal de pessoas guindadas ao poder, pela força dos votos dos que hoje morrem, debaixo da lama e dos entulhos. Idealizo uma paisagem urbana responsavelmente administrada, na qual se retirem definitivamente as pessoas de áreas potencialmente perigosas, realocando-as em bairros planejados. Para isso, teremos que ter coragem de perder votos, nas próximas eleições, desde que tomemos as decisões corretas, preocupando-nos com o bem comum, ao final do processo, e não com as ambicionadas reeleições – O pior dos vícios políticos da humanidade. Remoção? Sim, por que não? Desde que seja feito de forma correta, humana e planejada. Reeleição? Não! Essa doença deveria ser banida de vez de nossa democracia.
Costumo acompanhar meus textos de fotografias, que servem para tornar menos tediosa a leitura e alegrar a página. Peço desculpas, desta vez, mas me abstenho de reproduzir as imagens medonhas a que tenho tido acesso, pelo Facebook e internet, de modo geral, sobre a tragédia ocorrida em minha vizinhança de Itaipava. Não quero que sirvam como apelo, golpe baixo, soco no estômago de meus amigos e leitores.

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