quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mad Max e as Abelhinhas

“Silenciosamente, bilhões de abelhas estão morrendo, colocando toda a nossa cadeia alimentar em perigo. Abelhas não fazem apenas mel, elas são uma força de trabalho gigante e humilde, polinizando 90% das plantas que produzimos”. Recebi esta mensagem, hoje cedo, pela internet, numa campanha contra os agrotóxicos, que vêm prejudicando o ambiente, por todo o Planeta. Recentemente, disparou-se um alerta, na imprensa, sobre o misterioso desaparecimento de abelhas, nos Estados Unidos e na Europa. Suas colméias eram encontradas vazias, sem que se achassem restos dos insetos, em parte alguma. Tipicamente um crime sem corpos.
Alguns dias atrás, também no Hemisfério Norte, aves morreram, aos milhares, representando igualmente um mistério, que tentou ser explicado pelo efeito de fogos de artifício, na virada do ano, entre outras razões aventadas. Bem, seja lá qual for realmente a razão para esses fenômenos que afetam a natureza, eles refletem, mais ou menos, o mesmo processo que a nós também tem afetado, matando-nos em consideráveis quantidades, tais como as chuvas, que caíram em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Falo da explosão de crescimento do homem e de suas atividades sobre o Planeta, traduzida no termo Economia de Escala. É o que todos acabamos por celebrar, elegendo políticos que fomentam esta corrente, “administrando” as coisas, de forma a não atrapalhar e deliciosa explosão de consumo e acesso de todos a tudo, indiscriminadamente. Tornou-se objetivo maior, em todas as partes, exorbitar os níveis de consumo de mercadorias, serviços, felicidades embaladas nos mais belos pacotes e embrulhos. Pelo que vemos, em seus efeitos sobre abelhinhas, passarinhos e gente, estamos realmente caminhando para o mundo do Mad Max.
Alguém se lembra do Mad Max? Era uma série de filmes de (quase) ficção, estrelados pelo baixinho Mel Gibson, na qual um ex-policial durão agia, em seu carro “envenenado” (Credo, que coisa antiga: Envenenado!), contra hordas de celerados, organizados em gangues igualmente motorizadas, que aterrorizavam o que restara de ruas e estradas, fazendo suas próprias leis. O que víamos, nos filmes do Mad Max, parece hoje muito mais próximo da realidade de nosso futuro do que os quadros depressivos e dark de outros cenários ficcionais, que imaginam apocalipses súbitos, com a terra tragando cidades, colisões de asteróides e ondas de frio que congelam até o aço. Sim, o futuro está aí mesmo, nas milícias, na dengue, nas batalhas campais, nas ruas, dentro de automóveis, com dezenas de milhares de mortos por ano nas estradas, em cada um de nós impondo nossas próprias vontades, em busca do prazer a todo custo... e na resultante morte das abelhinhas, dos passarinhos, na nossa morte.
Estamos cegos, quanto à capacidade do Mundo de abrigar bilhões de consumidores felizes, em busca de mais e mais, todos os dias, os dias todos. Espalhando-nos como uma colônia de bactérias, sobre um meio de cultura, num laboratório, tornamo-nos uma doença para o Planeta. Não me parece que alguém escute os apelos dos ambientalistas, que advertem para as abelhas que morrem, para os rios que se infectam e para a insustentabilidade da escala de consumo que impomos às terras, mares e ares.
Nesta manhã, enquanto escrevia este texto, chegavam notícias de mais uma tragédia de chuvas, na rua em que eu morava, até um ano atrás, em Itaipava, Petrópolis: Nove mortes, até o momento, no mesmo exato local em que isso já ocorrera, cerca de dois anos atrás. Lembro-me muito bem de chegar à Estrada do Gentio (local da tragédia de ontem e hoje), durante o período das últimas eleições municipais, e ver o atual prefeito, então candidato, cercado de sorridentes cabos eleitorais, tendo ao seu redor inúmeros populares, emocionados com tão ilustre presença. Como carneirinhos, aos milhares, milhões, seguimos a onda que nos leva, na direção do prazer, da felicidade que vem em forma de novos modelos de quinquilharias das quais, anos antes, jamais imaginaríamos um dia depender tanto. Não sabíamos, naquele tempo, que não poderíamos jamais ter vivido sem elas. Quanto às abelhinhas...

Um comentário:

  1. Caro vizinho.
    Compartilho de sua tristeza pela falta de respeito do ser humano a terra que o acolhe.
    A violência e a falta de cuidado com que os cidadãos têm tratado, não só a natureza, como também a seus semelhantes, nos trouxeram de vez do Rio para Itaipava, e é muito triste ver reflexos desta mesma falta de cuidados por aqui também...

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