sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Parques Fluviais – O Parque da Orla do Piabanha e a Tragédia de Itaipava

Tinha decidido não tratar mais, neste blog, dos horrendos acontecimentos que vitimaram mais de 760 pessoas, em todo o Rio de Janeiro, 64 delas, pelo que consta, somente no Vale do Cuiabá, aqui em Itaipava. Falo da tragédia de Itaipava, na madrugada de 11 para 12 de janeiro, quando chuvas descomunais se abateram, sobre uma extensa linha de montanhas, na Região Serrana Fluminense, ocasionando escorregamentos, corridas de lama (Ver texto do dia 13 de janeiro, neste blog) e enchentes, que esmagaram não somente casas e gente, mas também a maior parte dos conceitos e conhecimentos da área técnica. Porém, ficara uma lacuna a ser preenchida, para mim, referente ao Parque da Orla do Piabanha, em Itaipava, que ficou conhecido como POP. Criado por mim e pela Yara Valverde, com a ajuda inestimável do falecido Luiz Campos Filho e do Guilherme Siqueira, em 2006, o POP acabou virando realidade, anos depois, com o pomposo nome de Parque Fluvial do Piabanha – Santo Antônio.
Mas, o que teria a ver o POP com a tragédia de Itaipava? Bem, para que o leitor possa entender um pouquinho do que digo, seria interessante que conhecesse o Parque Orla do Piabanha, o que pode ser feito a partir da consulta do projeto, publicado no portal Pluridoc (www.pluridoc.com). O POP nasceu, muitos anos antes, quando uma dragagem do rio Piabanha resultou em drásticas intervenções, nas suas margens, provocando celeuma ambiental. As dragagens eram necessárias, pois as enchentes assolavam a região e nenhuma outra solução podia ser apontada. Mas, o que fazer com as margens do Piabanha, antes que fossem ainda mais invadidas pelas ocupações ilegais e de alto risco? Surgiu, então, a idéia de se criar um parque público, que mesclasse os objetivos de laser e conservação ambiental, possibilitando a repetição previsível de outras obras de limpeza e dragagem, no futuro.
Em 2006, após a publicação da idéia e de meus desenhos, em parceria com o Luiz Campos Filho, na Revista Estações de Itaipava, um grupo de cidadãos petropolitanos, unidos em torno da NOVAMOSANTA, uma associação de moradores de Itaipava, resolveu convidar-nos a desenvolver o projeto, em nível conceitual. O sucesso foi total e, pela vontade dessa gente decidida, o POP acabou se transformando no Parque Fluvial do Piabanha – Santo Antônio, por abranger também o rio Santo Antônio, que recebe os rios do Jacó e Cuiabá, acima, desaguando no Piabanha, bem no Centro de Itaipava. Nem precisaria dizer que sua simplicidade se tornou complexa e muitas outras canetas apontaram a prancheta, até que ele tivesse suas obras iniciadas, com grande pompa de estado, durante 2010, um ano eleitoral. Nesta fase, tão somente pude ajudar definindo os conceitos da área de arborização e jardins, radicalmente alterados, tempos depois, na hora de ir para o campo.
Não vim aqui para criticar as obras de implantação do Parque Fluvial do Piabanha – Santo Antônio, até por que já lhe sobram duros ataques, por parte da sociedade, que vê seu sonho se transformar numa colcha de retalhos políticos, administrativos e de vaidades insaciáveis. Continuo a torcer para que ele se torne realidade, do jeito que vier, pois será ainda melhor do que a degradação definitiva e irreversível, liquidamente certa, frente ao seu eventual fracasso. Muito pelo contrário, venho declarar meu encanto com o cumprimento claro e inequívoco de sua função principal, cujo sucesso se pôde constatar, logo depois da medonha torrente de lama e destroços ter passado: Falo de sua missão de não atrapalhar o curso das águas dos rios, seja qual for sua vazão. Sim, pois este preceito havia ficado bem evidente no POP, como qualquer um poderá observar, no projeto de 2006, disponível na internet. As feições das margens do rio deveriam ser preservadas, prevendo que o rio pudesse vir a sofrer cheias, momentos nos quais necessitaria dessas calhas de transbordamento, para evitar tragédias maiores.
Em nossa concepção, o POP seria utilizado pelas pessoas, para caminhadas, passeios de bicicleta, cavalgadas e lazer, em geral, trazendo convívio do ser humano com o rio, já tão agredido e, com isso, restabelecendo ligações afetivas entre ele e a natureza. Nos momentos de cheia, seja com qual força isso ocorresse, a calha do rio seria utilizada por ele e suas águas, como sempre fora, por milhares de anos. Terminadas as enchentes, o POP seria limpo, sua grama cortada e seus pavimentos reparados, se necessário, retornando todos à vida normal – o rio e as pessoas. Isso não poderia ser feito com casas, carros e, é claro, vidas humanas. Por fim, tornando-se necessárias obras de dragagem e limpeza, as vias internas do POP serviriam para o movimento de máquinas e caminhões, voltando ao domínio dos cidadãos, logo depois.
O pequeno pedaço de Parque Fluvial do Piabanha – Santo Antônio, já iniciado, exatamente na barra do Santo Antônio, ponto final da terrível torrente da madrugada de 11 para 12 de janeiro de 2011, mostrou exatamente esta capacidade. O único pedaço da pequena praça que sofreu danos foi um trecho destituído de gabião (Enrocamento), um erro de execução, por sinal, que poderá ser facilmente reparado, antes da conclusão das obras. Podemos observar, com isso, que o caminho para essa nova relação “homem – cursos d’água urbanos” é mesmo esse, ou seja, os Parques Fluviais. Deixo aqui uma pergunta, meio imaginativa, sem querer bancar o chato, que só aparece depois dos fatos, para falar: Viu? Eu não falei? Essa pergunta, que pretendo ser construtiva, é a seguinte: Já imaginaram se, em vez de favelas, ocupações irregulares ou de risco, aterros etc., no Vale do Cuiabá, tivéssemos o POC (Parque da Orla do Cuiabá), teríamos assistido aos horrores noticiados? Ou estaríamos hoje apenas limpando o parque, para novos dias de sol, lazer e muito turismo – e divisas – na nossa querida e famosa Itaipava?







3 comentários:

  1. Antes de uma pista de ciclismo, gostaria de ter visto a relocação de todas as moradias de alto risco e ribeirnhas do Rio Santo Antonio. Da mesma forma que gostaria de ver o Prefeito reverter a verba carnavalesca em prol da tragédia de Itaipava...

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  2. Certíssimo! Mas, é bom informar que o grande gargalo do POP, que previa as ações de remoção e realocação de moradores - que foram cadastrados - se tornou exatamente as (in)atividades do poder público municipal, frente ao desafio. Tudo pára, SEMPRE, quando a ciclovia ou o parque, em si, esbarra nalguma moradia ou até mesmo nas indústrias de extração de areia etc. que, misteriosamente, depois do início das ações do POP, incrementaram-se, rapidamente. Assim, como andei dizendo no blog: Remoção sim, por que não?

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  3. Importante esse texto seu nesse momento. A maioria das pessoas ainda não entendeu claramente a dimensão ambiental e humana dos parques Fluviais. A função de área tampão, amortecendo os efeitos das enchentes, tem que ser enfatizado. A questão da necessidade de uma manutenção periódica pós enchente deverá ser objeto de uma valoração econômica que demonstre sua economicidade para o poder público, em relação à outras medidas de prevenção aos danos desses eventos naturais.

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