No jornal Bom Dia Rio de 14 de abril de 2011, noticiou-se que a reciclagem de lixo vem decaindo, ano após ano, na Cidade do Rio de Janeiro, tendo como principais razões, primeiro, o problema logístico, relacionado às dificuldades de separação, coleta e transporte; em segundo, por conseqüência da primeira, devido à gradativa desmotivação da população. Segundo dados da COMLURB – Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro – o volume total de lixo reciclado caiu de 10.377 toneladas, em 2008, para 8.292 toneladas, no ano passado. Ou seja, o que já era pouco, tornou-se pouquíssimo!
O telejornal mostrou casos tristes em que condomínios inteiros, com centenas de famílias, ainda separam seu lixo, não sem trabalhosos protocolos internos, apenas para vê-lo atirado no interior dos mesmos caminhões que coletam o lixo convencional, indo parar nos lixões. Tudo isso é bastante triste e apenas mostra que caminhamos na contramão dos países desenvolvidos, com os quais tanto tentamos nos parecer. Nosso problema é a (falta de) CIDADANIA, uma palavra que parece ter saído de moda ou caído em desgraça, talvez por ter sido apropriada por todo tipo de escroques, nos últimos anos, para ser utilizada em discursos demagogos, que lhe “queimaram o filme.”
Eu mesmo me lembro de ter atravessado um ano inteiro, quando residia no Vale do Cuiabá, em Petrópolis, muitos anos passados, separando cuidadosamente o lixo, em minha casa: Plásticos, garrafas PET, papéis (sim, ainda utilizávamos papel para nossos escritos!), latas etc. Cada coisa tinha seu lugar e realmente reduziu-se muito, nessa ocasião, o volume de lixo que destinávamos à coleta da Prefeitura. Enquanto se acumulavam imensos volumes de recicláveis, esperávamos descobrir o que fazer com o produto de tanto trabalho. Para encurtar esta parte triste da história, acabamos vendo todos aqueles sacos e caixas, cuidadosamente separados, seguindo para o lixo comum, exatamente como os condomínios do Rio hoje vêem o seu.
Os especialistas consultados pelo Bom Dia Rio recomendam que não sejam desmobilizados os esforços de cidadania dessa gente frustrada, para não perderem o “habito” de separar e reciclar. A COMLURB promete um grande projeto que pretende levar os níveis de reciclagem atuais, de 1% do volume total, até 5%, nos próximos anos. Uma das estratégias a serem adotadas, bastante apropriada, para esses tempos, é a profissionalização dos catadores de lixo do aterro de Gramacho (Duque de Caxias), recentemente fechado, transformando-os de seu estado de marginalidade social para agentes de desenvolvimento sustentável. Tomara que consigam! Assim como não conseguimos hoje desenvolver nossa economia, pela simples carência de recursos humanos, já existe falta de catadores de lixo – Uma das justificativas apresentadas para o fracasso da coleta seletiva no Rio.
Para aqueles que, assim como eu, residem em áreas menos urbanizadas, onde existem jardins, lavouras e mesmo florestas, tenho algumas dicas sugestivas de como começar a tornar mais leves suas consciências, enquanto o poder público não consegue fazer sua parte, ou seja, a coleta seletiva. Falo, principalmente, da matéria orgânica de origem vegetal. Ressalto que isso não exclui a importância de qualquer iniciativa para estimular a reciclagem dos demais materiais. Porém, no caso da matéria orgânica, dois aspectos estimulam a imediata adoção de seu aproveitamento: 1) O lixo dos países em desenvolvimento, como o nosso, apresentam grande percentual de matéria orgânica, quase 80% do total, o que revela a natureza relativamente fresca e farta de nossa dieta; 2) A matéria orgânica é um dos melhores adubos para os solos tropicais.
Reciclando matéria orgânica, estamos colaborando com dois pontos essenciais: A diminuição expressiva do volume de lixo transportado e disposto na natureza e; A recuperação dos solos fracos que nos circundam. No primeiro aspecto, a sociedade deveria esperar que o poder público, por se ver aliviado das pressões logísticas, direcionasse os recursos para atacar sua principal carência – A COLETA SELETIVA que é fundamental para viabilizar qualquer projeto de reciclagem. Quanto ao segundo aspecto, assume capital importância para a economia de baixo carbono. Estranho? Não, não é tão estranho. Deixe-me explicar, antes de seguirmos para as dicas práticas de reciclagem da matéria orgânica.
A região na qual vivemos já foi praticamente toda coberta por florestas – a Mata Atlântica – que regulava nossos processos climáticos, hidrológicos e de solos. Sua supressão, como se pode imaginar, foi acompanhada da queima de praticamente toda a sua biomassa, coisa que persiste lamentavelmente, até os dias atuais. Essa queima direta das florestas, que ainda ocorre, impedindo sua regeneração, mesmo onde ela se vê desejada, é acompanhada da queima constante de matéria orgânica do lixo, na maioria das cidades médias e pequenas da Região Serrana Fluminense, o que alimenta ainda mais a taxa de gás carbônico da atmosfera. Enquanto isso, os projetos de recuperação de áreas desmatadas carecem justamente deste tipo de adubo e, sem ele, não conseguem ir para frente, mesmo com a aplicação de pesadas e caríssimas doses de adubos químicos.
Adicionalmente, os condomínios – como aquele em que moro – são cheios de injustificadas áreas gramadas, sem qualquer utilização que não seja a rejeição à floresta (e seus mosquitos, aranhas, aves e toda sorte de seres “estranhos e assustadores”). Daí, a semana é passada sob o som desagradável das roçadeiras a gasolina – e sua emissão contínua de CO2 – que produzem farta quantidade de lixo orgânico que... é QUEIMADA, colaborando igualmente para o efeito estufa. Em meu condomínio, particularmente, a única amenização para este desastre ambiental é a proibição da queima de resíduos, o que acaba gerando pesados ônus de coleta e transporte para outras áreas onde, com certeza, a preciosa matéria orgânica é... QUEIMADA.
Minha solução – já implementada, às minhas próprias custas, como deve ser – foi a seguinte:
1) 1) Jardins de baixa manutenção, com apenas a quantidade de áreas gramadas suficientes;
2) Reflorestamento de todas as demais áreas, de forma a reduzir a produção inútil de lixo de podas e corte de gramados, além de melhorar – em muito – minha climatologia, além de encher minha casa de passarinhos;
3) 2) Recuperação de TODOS os resíduos orgânicos vegetais, sem exceção (o que inclui os restos de cozinha), gerando redução drástica de volume em meu lixo e, por conseguinte, de TODO o condomínio;
4) 3) Trituração de resíduos, para aumento da velocidade de decomposição, na composteira. Galhos mais grossos viram lenha para minhas pizzas, depois de devidamente secos – às vezes, viram adubo para algumas de minhas orquídeas, que apreciam madeira em decomposição;
5) 4)Compostagem em local adequado, que deve ser coberto – para evitar vetores (ratos, baratas etc.) – e dotado de fundo cônico, para coleta do precioso chorume. O chorume, que é um efluente, pode ser danoso ao lençol freático, mas se torna o melhor dos adubos, se utilizado na rega de hortas e plantas – Veja o desenho que postei adiante;
6) 5) Depois de decomposta, a matéria orgânica se transforma numa massa escura e friável, que deve ser drenada e peneirada. Os detritos ainda não totalmente decompostos são levados de volta à composteira, para continuar “sumindo”;
7) 6)A melhor parte: O adubo orgânico deve ser aplicado PREFERENCIALMENTE EM COBERTURA (sem incorporação no solo) nos canteiros, hortas e, em meu caso, sobre o solo da floresta, contribuindo para sua lenta recondução à biomassa florestal, um dia torrada, no passado triste de nossa região.
Posso dizer que estou muito longe ainda de ter de volta toda minha preciosa matéria orgânica, dependendo da aquisição de outras fontes, tais como húmus de minhoca ou substratos industriais. É claro que existem muitos projetos alternativos de composteira, adequados a cada situação. Podem ter certeza: Não existe a menor possibilidade, em nosso clima e condições ecológicas, de atingirmos tão cedo um auspicioso superávit de produção de matéria orgânica, em nossas casas e condomínios, o que poderia gerar qualquer tipo de excesso. Portanto, experimentem sem medo! A compostagem pode ser ajudada por fosfatos naturais e outros adubos. Seu melhor efeito é sobre nosso sono: DORME-SE TÃO BEM, SABENDO DO BEM QUE ESTAMOS FAZENDO!
Vista típica dos condomínios da Região Serrana Fluminense - ACIMA
ABAIXO - Como seria melhor o ambiente, com menos gramados e mais árvores: Clima mais ameno, menos lixo, menos ruído de roçadeiras e muito mais aves
ABAIXO - A queima de lixo ainda é uma doença ambiental séria, nas pequenas e médias cidades
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