Canteiro 02 do Setor
Muro Dianteiro Sudoeste do Jardim Fitogeográfico, em
Petrópolis, Rio de Janeiro
Você também é um amante de plantas? Tem espaço em sua casa?
Coleciona plantas? Muito provavelmente, se você está lendo meu texto, será este
o caso. Sim, pois a maior parte dos meus amigos da internet, ou representa
pesquisadores, ou amantes de plantas, muito embora vinhos também façam parte
dos interesses comuns com muitos deles. Então, se você já é um colecionador
experiente, talvez pegue algumas dicas nesta postagem; se está começando, ou
quer melhorar o nível da coleção, aproveite um pouco da minha experiência, para
organizar suas plantas.
Antes de mais nada, é necessário avaliar os propósitos de
sua coleção. Pode ser que você apenas goste de juntar plantas, aqui ou ali,
levando-as para seu espaço e cultivando-as com carinho, para enfeitar o
ambiente. Mas, posso apostar que não! Você é antes de tudo um COLECIONADOR!
Colecionaria selos, se fosse o caso; juntaria vinhos, se os apreciasse; enfim,
nada de mais, as pessoas gostam de colecionar coisas, é muito bom. Frederico Carlos Hoehne, um dos mais
importantes naturalistas do Século XX, afirmava que “todo bom menino começa a
colecionar coisas, quando começa a se interessar pelo mundo”. Não fui eu quem
disse! Foi Hoehne: COLECIONAR FAZ BEM!
Assim, se você está querendo organizar sua coleção de
plantas, é sinal claro de que o interesse botânico surgiu em você e chegou a
hora de saber mais sobre cada um dos itens que você juntou; e mais ainda sobre
aqueles outros que pretende arrumar por aí. Então, é hora de focar e organizar
sua coleção. Se você gosta das plantas que coleciona, deve ter em mente,
acima de tudo, que os objetos de seu desejo e devoção precisam ser mais
conhecidos, protegidos e até propagados, para que não desapareçam. Sua coleção
deve estar apta ao estudo. Pode ser que apenas você se interesse por essas
plantas, sendo assim razoável que se torne fácil consultar os dados sobre elas.
Mas, é muito possível que ela passe a representar interesse para
pesquisadores e estudiosos. Então, é bom que tome alguns cuidados, a saber.
Obtendo Plantas:
Se você coletou uma planta na natureza, e espero que tenha
cuidado para apenas retirar um propágulo, ou somente uma amostra, preservando o
restante da população, deve anotar cuidadosamente o lugar onde a encontrou
(coordenadas geográficas, dados sobre o habitat, forma de crescimento etc.),
além de tirar boas fotos da população natural. Uma boa etiqueta ajudará a
organizar as plantinhas que conseguiu, até que vão para seu cultivo. A
identidade da planta é seu dado mais importante e não poderá ser perdida
jamais. Eu mesmo, por força de inúmeras mudanças de endereço, perdi diversas
identidades de plantas e hoje olho para elas, desapontado por não poder mais
resgatar tão importante informação.
Acima – Orlando Graeff, no início dos anos
1980, no orquidário da Reserva Natural
da Fazenda Ipanema, no Mato Grosso, coleção completamente desaparecida,
anos depois – perdas irreparáveis para a cultura e a ciência
Cadastrando sua Planta:
Assim como nós temos ID e CPF, as plantas deverão receber
um número de identificação, que jamais será mudado. O nome dela é menos
importante do que essa numeração, que será indexada a uma ficha, ou listagem.
Há quem defenda até que cada indivíduo seja cadastrado com um número,
exclusivamente. Se você andou apanhando plantas demais (o que espero não ser o
caso), realmente deverá cadastrá-las individualmente, mesmo que se pareçam
muito. A MORFOLOGIA É UMA ARMADILHA e é bastante comum que duas ou mais de suas
plantas, que você pensava se tratarem da mesma coisa, se revelem espécies
diferentes. Então, fica a seu critério essa escolha. Especialmente bromélias
podem te pregar este tipo de peça, assim, CUIDADO!
O número da planta não mudará nunca mais! Isso é
fundamental. Não se esqueça: há números de sobra, até o infinito. Então, se
você coletou uma planta, ou a recebeu de alguém, não importa, atribua-lhe um
número, faça sua ficha e, mesmo que ela morra, ou desapareça, não mais
utilize este número. Se conseguir outra “igual”, confira-lhe um novo
número. Alguém poderá, um dia, realizar um trabalho científico sobre sua
plantinha, quem sabe até uma espécie nova. Então, ele citará o material
examinado, acompanhado do número de sua coleção. Isso não poderá mudar, sob o
risco de colocar por terra todo um trabalho de pesquisa.
Se você conhecer minha bromélia Alcantarea vinicolor,
cadastrada sob o número 342, saberá que foi coletada em Pedra Azul, no Espírito
Santo, na Década de 1990, pelo naturalista Pedro Nahoum,
tendo sido cedido a mim um exemplar, em janeiro de 2000. Daqui a dez anos, se
você quiser saber mais sobre esta planta, bastará citar este número e pronto,
você terá encontrado a mesma exata bromélia, sem riscos de engano... A não ser
que ela tenha morrido! Bem, daí é outro assunto. Afinal, falamos de seres vivos
e sobre isso, falaremos numa das próximas postagens.
Acima – A bromélia Alcantarea
vinicolor, na coleção do Jardim Fitogeográfico, em
Petrópolis
Como Cadastrar:
Enfim, sabendo as boas regras para dar entrada a uma planta
em sua coleção organizada, você terá que saber como realizar este cadastro.
Algumas coisas são realmente fundamentais e devem constar de seu cadastro: nome
da planta (se você já souber); nome vulgar (se for conhecido); família
botânica a que pertence; origem do seu exemplar; local de
obtenção ou dados do local ou estabelecimento comercial, se tiver comprado;
data de obtenção; e as observações gerais sobre a planta, que
poderão relacionar dados geográficos, hábito da planta etc. Essa listagem
poderá ser feita num programa ou aplicativo específico, ou simplesmente num
texto de Word, como é efetuado aqui, no Jardim Fitogeográfico, há muitos anos.
Seja lá como o fizer, tome um imenso cuidado: faça backups
regularmente e, se possível, imprima em papel, guardando em local apropriado.
Como exemplo de uma ficha de planta, posso oferecer o seguinte:
443
– Bromelia
horstii Werner Rauh – Família Bromeliaceae
Origem: Jaciara, Mato Grosso;
Data de Obtenção: 1999, durante viagem
à região do Balneário da Cachoeira da Fumaça, juntamente com Luiz Campos Filho;
Observações: Planta extremamente
agressiva e guarnecida de espinhos, desenvolvendo intumescimento, na base do
caule, que pode permanecer como órgão de sobrevivência, no ambiente pedregoso
(saxícola), no qual a planta vive, sendo comuns os incêndios florestais. Produz
vistosas inflorescências, com lindas flores violáceas, sobre brácteas rosadas.
Essa planta foi encontrada por nós (o saudoso Luiz Campos Filho – que seria nosso Diretor Administrativo, na Sociedade Brasileira de Bromélias-SBBr,
entre 2001 e 2003), enquanto investigávamos a natureza de uma bela região da
borda da Serra de São Vicente, no Mato Grosso, já próximo ao Pantanal, onde
seria desenvolvido um projeto turístico. Os dados sobre a planta constam da
ficha, tendo sido tiradas muitas fotos, que ajudaram na identificação da
espécie, feita pelo grande naturalista Eddie Esteves.
Adiante – Bromelia
horstii, no habitat, em Mato Grosso (foto em filme negativo), e suas
flores, em cultivo, anos depois, na coleção do Jardim Fitogeográfico
Se você tem iniciação botânica, na área de Taxonomia, também
poderá coletar material para fazer uma EXSICATA, ou seja, uma amostra da planta
seca, para depósito num herbário de sua confiança. Esse procedimento é ainda
mais importante do que a coleta de material vivo, para compor sua coleção, pois
poderá conferir validade científica para futuras listagens de flora, assim como
para a descoberta de novas espécies. Mas, isso requer conhecimento e preparo
técnico prático, que não é objeto de nossa conversa de hoje. Então, vamos lá:
nada de malbaratar sua expedição, ou sua nova aquisição de plantas. Cadastre
acertadamente, para que a ciência tire merecido proveito de sua coleção!
Acima – Canteiro 01
do Setor Muro Dianteiro Sudoeste, no JARDIM FITOGEOGRÁFICO
PRÓXIMA POSTAGEM: MANTENDO SUA PLANTA NA COLEÇÃO
Sugestões de leitura neste blog:
E se todos fizessem isso? Coleta ou Extrativismo? Uma Ameaça às Plantas Brasileiras - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2013/01/e-se-todos-fizessem-isso-coleta-ou.html
As Origens do Templo Fitogeográfico - http://orlandograeff.blogspot.com.br/2012/02/as-origens-do-templo-fitogeografico.html