quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Entre Petrópolis e São Paulo

          No início de 2005, ou seja, seis anos atrás, o jornal petropolitano A Tribuna de Petrópolis publicou um texto meu, que falava sobre um tema bastante atual, naquela época: As enchentes e desastres naturais, na cidade. Resgatei-o, em meu computador, e notei uma coisa curiosa: Ele continua bastante atual, nos dias de hoje! Resolvi, então, transcrevê-lo neste Blog, para provocar o que sempre tento – A reflexão sobre os temas corriqueiros de nossa sociedade. Creio que sua leitura será capaz de levantar algumas discussões relevantes sobre esse grave problema de Petrópolis, que é a sua vulnerabilidade aos fenômenos naturais, especialmente as chuvas. Eis o texto de 2005:

           O clima das regiões, conhecido como macroclima, sofre modificações cíclicas que somente podem ser avaliadas pela observação de dados meteorológicos, medidos por estações, durante dezenas de anos contínuos.  Quando essas modificações ocorrem e culminam em episódios marcantes de secas, chuvas e ventos, o ser humano tende a interpretá-las de forma conclusiva e catastrófica. É quando ouvimos opiniões do tipo: “O clima está mudando!” Essas conclusões costumam vir acompanhadas de idéias formadas sobre as possíveis causas dessas mudanças, usualmente associadas aos desmatamentos e alterações ocasionadas pelo homem. A verdade, porém, é que essas alterações macroclimáticas são predominantemente de ordem natural e a única influência humana sobre os macroclimas, hoje, nada pequena por sinal, tem sido a aceleração de um desses processos naturais – o aquecimento global – que já vinha ocorrendo, de forma espontânea. O homem o tem tornado mais rápido, através da imensa emissão dos chamados gases de efeito-estufa, em especial, o gás carbônico (CO2), proveniente da queima de petróleo e das queimadas .
           Os climas locais, chamados mesoclimas ou topoclimas (jamais microclimas, estes significando, sim, os climas da camada superficial do solo), relacionados ao relevo e geografia de pequenas regiões, podem sofrer alguma influência das atividades do ser humano. As maiores influências humanas sobre os climas locais são determinadas pelo aumento das cidades e das áreas abertas. As cidades, em especial, com suas casas, ruas e calçadas, formam bolhas de calor que alteram os ventos e as chuvas, podendo fazê-los escassear ou, em caso inverso, abaterem-se com maior vigor e de forma concentrada sobre determinados locais.
           Quando nos deparamos, em Petrópolis, com estações muito chuvosas, aparentemente anormais, como é o caso do verão de 2004/2005, estamos lidando, em verdade, com uma variação macroclimática natural, segundo consta, determinada por um acentuado fenômeno el niño. Quando vemos ocorrer uma tromba d’água tão impressionante como a ocorrida na noite de terça-feira (18/01) para quarta-feira, quando Itaipava enfrentou sua pior enchente, em mais de vinte anos, temos sim um consórcio de influências humanas em ação. Porém, mesmo que se admita como influenciada pelo ser humano a brutal concentração de chuvas (de 130mm a mais de 150mm) ocorrida em poucas horas, entre o Vale do Jacó, o Bonfim e Vale do Caititu, terá sido esta a menor causa de malefícios determinada pelo homem a si mesmo neste evento.
           Arremedando pateticamente a Cidade de São Paulo, maior metrópole da América do Sul, Petrópolis viu alguns de seus cidadãos mergulharem na torrente impiedosa de lama do rio Piabanha, vivendo cenas semelhantes às que vemos, nos telejornais, quando caudais incontroláveis arrastam paulistanos e seus patrimônios, durante pesadas chuvas de verão.  O que ocorreu em Itaipava, naquela fatídica noite, poderia ter ocorrido mais acima ou mais abaixo, ao longo do Piabanha, dependendo de onde se fizesse despencar tamanho temporal. Mas o desencontro entre obras de dragagem, destituídas de planejamento, no Piabanha, e o crescimento descontrolado da malha urbana, sobre encostas e margens de rios, já determinou que conseguíssemos nos parecer com a Grande São Paulo. Os azarados, desta vez, foram os habitantes de Itaipava, como haviam sido os do Quitandinha e Centro, ainda em dezembro de 2004. Quem haverão de ser os próximos?
           É claro que ninguém torce pelo pior. Mas, não temos feito o melhor por Petrópolis: O Poder Público empurra com a barriga eleitoreira os problemas de ocupação desordenada de encostas e margens de rios, havendo casos lamentáveis de decisões judiciais (no momento, providencialmente esquecidas) que homologam essa favelização, justificando-as como soluções habitacionais; A população, por seu lado, se atira à ocupação de todo e qualquer espaço natural disponível, no intento de suprir sua sanha desenvolvimentista. Tudo vale para cada um de nós ganhar mais, ser dono de mais. Pouco importa quem está encosta ou rio abaixo. Nesse estado de coisas, podemos nos preparar para imitar o que de ruim seremos capazes da gigantesca Cidade de São Paulo, por que o que ela tem de bom não parecemos estar dispostos a realizar.

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