domingo, 19 de fevereiro de 2017

Chegando à velha SANGA da Reserva Natural da Fazenda Ipanema

O nome vem do termo “sangra d’água”, ou sangradouro, que é um pequeno curso de rio, que dá vazão às águas de determinada área alagadiça. Os gaúchos adotam esse termo – sanga – exatamente como uma corruptela da denominação original, nascida em tempos imemoriais. Meu saudoso pai, que era gaúcho nativo da área central do estado, ao deparar com o diminuto e cristalino riacho, que lhe mostrei em meio à floresta-galeria da Fazenda Ipanema, no início dos anos 1980, imediatamente o caracterizou desta forma, remetendo à sua memória atávica: SANGA.

Desde então, a sanga d’água da Fazenda Ipanema passou a me atrair, inicialmente, como manancial fundamental de meu acampamento rústico, durante aquela década de 1980: na sanga, eu tomava banho, me dessedentava, conseguia água para cozinhar. Ao longo dos anos 1990, estando longe do Mato Grosso, o caminho que conduzia à sanga foi lentamente desaparecendo, em meio à floresta viçosa, que retomava espaço. Recentemente, com o desenvolvimento do projeto da Reserva Natural da Fazenda Ipanema, com novo planejamento de manejo conservacionista e científico, comecei a rastrear e reabilitar a trilha que conduz ao riachinho de meus vinte e poucos anos: a Trilha da Sanga.


Neste domingo, dia 19 de fevereiro de 2017, depois de mais de vinte anos escondida sob a selva, a Trilha da Sanga foi completamente restaurada e pude rever o recanto que tanto me valeu, desde os anos 1980, com suas águas absolutamente cristalinas, a correr depressa, sobre fundo arenoso alvo e em meio a velhas e grossas raízes de jequitibás e magnólias. A emoção foi inevitável e não deixei de comemorar, sorvendo goles fartos de água pura, tomados diretamente da velha sanga. Foi um trabalho extenuante, mas proveitoso, pois marcou a primeira meta cumprida, no objetivo maior da Reserva Natural da Fazenda Ipanema, que é o estabelecimento de um manejo integrado entre visitação e pesquisa, neste precioso conjunto de ecossistemas ribeirinhos, ligado ao rio das Mortes e ao Cerrado.

Acima - Dichorisandra pubescens (Commelinaceae), na borda da floresta-galeria

Acima - Macaco-prego, na floresta que circunda a Trilha da Sanga

Acima - Costus arabicus (Costaceae), no sub-bosque da floresta-galeria, na Trilha da Sanga

Acima - Imenso jequitibá-vermelho (Cariniana rubra - Lecythidaceae) da floresta-galeria, bem ao lado da sanga da Fazenda Ipanema

Acima - O autor Orlando Graeff posando ao pé do imenso jequitibá, que abriga exemplar de Monstera adansonii (Araceae), em seu tronco

Acima - Felicidade em rever essas águas cristalinas, que centralizam a floresta-galeria da Reserva, depois de tantos anos e tanto esforço


Nenhum comentário:

Postar um comentário