sábado, 3 de novembro de 2012

LA RIOJA – ARGENTINA – A FORÇA DA PRÉ-CORDILHEIRA


          No início de 2006, viajamos através dos semidesertos do oeste argentino, partindo de Foz do Iguaçu e passando por Corrientes, Santiago Del Estero e Catamarca, até atingir a Pré-Cordilheira dos Andes, junto à qual seguimos até Mendoza, lendária capital dos vinhos. Foi uma experiência inigualável e muitas fotos podem ser vistas sobre esta expedição no álbum do Flickr - http://www.flickr.com/photos/12389332@N08/sets/72157601726384796/ . Durante esta admirável jornada, na qual experimentamos variações climáticas dramáticas, experimentando calores da ordem de 45oC (Santiago Del Estero) e frio andino, na passagem da Cordilheira ao Chile, conhecemos a zona produtiva de La Rioja, verdadeiro oásis plantado aos pés da Pré-Cordilheira.

          Nossos objetivos, tirando o simples prazer da viagem em si, eram predominantemente naturalistas: Interessavam-me aspectos biogeoclimáticos que me levariam a compreender melhor algumas vegetações brasileiras, que venho até hoje estudando (veja o blog relacionado – Expedição Fitogeográfica 2012). Porém, não havia como ficar indiferente ao quadro revolucionário que víamos, em La Rioja: Grandes plantações de oliveiras e videiras irrigadas com as águas límpidas trazidas por canais, das elevadas montanhas, vicejando sobre férteis solos de loess vulcânico, que abundam ao longo dos Andes.

          Muitos anos depois, já capturado pelos prazeres enogastronômicos, perguntava-me por que não deparava com vinhos produzidos naquela singela paisagem de tintas espanholas. Pois foi na mesma Malambo de Buenos Aires (que citei no post anterior – www.malamboalmacen.com.ar) que vim a encontrar um rótulo que me excitou a curiosidade: Collovati, Malbec, 2008, produzido na região de Soñogasta, em plena Rioja Argentina. O produto foi elogiado pelo dono da Malambo, que venho considerando meu mais producente encontro enológico recente, naquele país.

          Não possuo uma adega muito grande e nem precisaria. Moro numa das maiores concentrações de boas lojas de vinhos do Rio de Janeiro – Itaipava. Dessas lojas, ainda virei a falar, futuramente, por que bem merecem. Mas, o fato é que meu estoque nunca ultrapassa umas trinta garrafas de vinhos escolhidos aqui e ali, durante viagens e garimpos diversos. Bem, residindo em meio a tantas adegas bem conduzidas, ao meu redor, por que gastar espaço em minha casa, se posso repor meus estoques em alguns minutos, com alguns dos melhores rótulos do Planeta? Depois, acabamos sempre consumindo nossa coleção, num ritmo que impede armazenamento prolongado.

          Assim, abriu-se espaço para que organizássemos uma “carta de vinhos” particular e manuscrita, como tudo mais o que faço. Nesse caderno dos prazeres, registrei esses dias minhas impressões sobre o potente Malbec riojano da Collovati: “Excelente! Acompanhando contra-filés argentinos (que estavam ótimos), sente-se o poder do terroir da pré-cordilheira”. Matei minhas saudades de La Rioja, aonde pretendo voltar, muito brevemente. Se possível, prevendo uma parada mais cuidadosa na região de Soñogasta, para conferir de perto este terroir que conseguiu originar um Malbec possivelmente superior a muitos daqueles produzidos na tradicional Mendoza, algumas centenas de quilômetros ao sul.



Paisagens de La Rioja, na Argentina – Imensos cactos colunares, sobre os quais somente faltam alguns daqueles linces que vemos, nas imagens de desertos americanos do norte; Infindáveis montanhas da Pré—Cordilheira, que foi erguida nos últimos cem milhões de anos, empurrada pelo soerguimento monumental dos Andes.



O riojano Collovati e nossa Carta de Vinhos particular





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